Wang Qinglei, produtor do programa “Vinte e quatro horas” na China Central de Televisão (CCTV), foi forçado a se demitir e anunciou o fato em seu microblogue na noite de 1º de dezembro. Sua saída da rede foi desencadeada por postagens de blogue que mostravam seu desdém pela propaganda do CCTV em atacar blogueiros.
Sua mensagem de despedida, intitulada “Deixando algumas palavras verdadeiras neste momento histórico”, foi bloqueada na manhã seguinte e quaisquer republicações ou citações compartilhadas online também foram bloqueadas. Suas preocupações principais são o controle sufocante que as autoridades chinesas têm sobre a mídia em geral e particularmente sobre seu trabalho.
Após a prisão de Xue Manzi, um conhecido editor de microblogue, a CCTV dedicou cobertura significativa para difamar Xue por supostamente visitar prostitutas. Foi esse tipo de propaganda que enfureceu Wang e o levou a escrever online sobre o assunto.
“As duas últimas semanas foram um período vergonhoso para os funcionários da CCTV, pois os princípios da cobertura midiática foram violados. Nós nos distanciamos dos princípios legais e usamos a máquina de propaganda para atacar os chamados propagadores de rumores na internet…”
Como parte de uma ampla ofensiva contra os blogueiros da internet; no início de setembro, as autoridades emitiram novos regulamentos que criminalizam postar “comentários difamatórios” que sejam visualizados mais de 5 mil vezes ou compartilhados mais de 500 vezes. A mídia estatal descreveu essas regras como parte de um esforço para impedir a propagação de rumores online.
“Está ficando cada vez mais doloroso ser um jornalista”, escreveu Wang, comparando a política estatal à autocastração. “Há inúmeras notícias que não podemos relatar e, quando podemos, ninguém acredita mais, porque há uma agenda por trás”, escreveu Wang em sua postagem bloqueada “Deixando algumas palavras verdadeiras”.
“Como um jornalista com consciência, os temas que eu queria relatar e a voz e os pontos de vista que eu queria expressar eram constantemente rejeitados ou cortados. Num único ano, eu tive mais de mil artigos proibidos pela censura de notícias”, escreveu Wang. “A China precisa de verdade. As pessoas deveriam ter o direito de criticar o governo e as autoridades. Elas devem ter o direito de criticar a injustiça social, as deficiências sistêmicas e os grupos de interesse.”
Ele reconheceu a dificuldade que os jornalistas enfrentam na China, forçados a escolher entre seu sustento e sobrevivência de um lado e sua consciência de outro. “Muitas pessoas sabem que para um jornalista, especialmente um que se atreve a falar a verdade e tenta orientar a opinião pública, é muito difícil sobreviver na China. Os jornalistas chineses estão dançando com grilhões.”