Problemas fundamentais da economia chinesa – Parte 2

11/02/2013 14:31 Atualizado: 11/02/2013 14:31
Competitividade internacional da China está enfraquecendo
Chineses observam o modelo de um empreendimento à venda na Exibição de Imóveis e Investimento de Pequim em 20 de setembro de 2012 (Mark Ralston/AFP/Getty Images)

Dados econômicos recentes sugerem que o período de vitórias da China está chegando ao fim. Será esta uma pausa temporária ou a economia chinesa está em direção ao pior? Se isso é verdade, quais são as causas da mudança?

Na parte um deste artigo mostrou-se que o consumo não será capaz de estimular o crescimento na China no futuro a menos que macropolíticas mudem para apoiar o crescimento da renda disponível real. A questão que permanece é se as exportações e o investimento podem continuar a sustentar o crescimento elevado do PIB na China.

Desde a crise financeira global de 2008, a demanda econômica por produtos manufaturados enfraqueceu drasticamente em todo o mundo. Na esteira da crise, a demanda por exportações da China tem crescido a um ritmo muito mais lento. A taxa de crescimento das exportações caiu de cerca de 20% ao ano entre 2000 e 2007 para 8,8% em 2011. Além disso, ela desacelerou para 1,0% e 2,7% em julho e agosto de 2012, em comparação com os mesmos meses em 2011.

Além da demanda global reduzida, a concorrência de baixo custo de economias emergentes da Ásia está substituindo os bens de exportação da China.

Exportações da China deixaram de ser baratas

A subvalorização sistêmica da moeda chinesa, o renmimbi (RMB), tem causado distorções de preços no comércio internacional. Produtos manufaturas chineses foram vendidos a preços baixos para aumentar o volume de exportação da China. No entanto, sob pressão internacional, nos últimos anos, a China permitiu que o RMB se apreciasse um pouco. Lentamente, as exportações chinesas estão perdendo sua vantagem de preço causada pela desvalorização da moeda, da qual elas dependeram por décadas.

Mudanças no interior da China também reduziram sua competitividade internacional. Os salários internos subiram a uma taxa percentual de dois dígitos a cada ano nos últimos anos. A demografia favorável parece estar chegando ao fim, em parte por causa dos efeitos da política do filho-único. Abundância de trabalho não é mais uma característica na China. Entre 2000 e 2010, a população trabalhadora chinesa diminuiu cerca de 3 milhões ao ano. A escassez de trabalho e o aumento salarial em grande parte empurraram os custos das exportações, enfraquecendo a competitividade chinesa.

Apesar destes aumentos na renda, a China encontra-se numa situação crítica. Os aumentos salariais elevaram os custos relativos à concorrência de outros países asiáticos e prejudicam as exportações. No entanto, os salários sobem num nível tão baixo que uma parcela maior do consumo interno permanece ilusória. Em muitos casos, os aumentos salariais apenas compensam os trabalhadores pela inflação e às vezes nem isso.

A maioria dos setores sofre de excesso de capacidade

Além do aumento dos custos e da moeda encarecendo, o setor de exportação sofre de excesso de capacidade crônico. Uma infindável variedade de edifícios industriais e maquinaria foi acumulada durante a farra de investimento de décadas no país.

O investimento da China cresceu a taxas elevadas nas últimas décadas, impulsionado por taxas de juros reais praticamente zero e na busca do crescimento do PIB. Como resultado, a participação da formação de capital no PIB da China subiu de 35,1% em 2000 para 48,4% em 2011.

Em contraste, a formação de capital global diminuiu no mesmo período. Na Coreia do Sul, Hong Kong, Cingapura, Japão, Malásia, Estados Unidos e Alemanha, a formação de capital global caiu para uma faixa de 15-29%.

O excesso de capacidade é generalizado na maioria dos setores industriais da China, segundo estatísticas divulgadas pelo Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação.

Por exemplo, a China tem uma capacidade de produção de aço bruto de 900 milhões de toneladas, aumentada em cerca de 300 milhões de toneladas desde 2008. De acordo com o Comitê de Reforma e Desenvolvimento, o setor de aço tem um excesso de capacidade de 160 milhões de toneladas.

A sobrecapacidade frequentemente leva à venda de produtos abaixo do custo para gerar receita para atender os custos fixos. Durante os primeiros sete meses de 2012, 33,8% do setor do aço operou com perda. Se forem excluídas as receitas de investimentos de outras fontes, como propriedade, todo o setor está perdendo dinheiro.

Embora as empresas de aço saibam que não podem vender seus produtos de aço, elas ainda estão produzindo em sua capacidade máxima. A redução da produção de aço baixará as taxas de crescimento do PIB, uma indicação de falha administrativa. Como consequência, nenhum dos governos locais quer ver a produção de aço reduzida.

O setor de energia solar da China tem talvez o pior excesso de capacidade. Andrew McKillop escreve em seu relatório sobre a China e a crise econômica global de sobrecapacidade: “Subsídios maciços e intervenção do Estado têm impulsionado o excesso de capacidade da China de painéis e sistemas de energia solar em mais de 20 vezes a demanda total do mercado nacional chinês para estes painéis e quase duas vezes a demanda mundial total.”

Não é de surpreender que as ações de empresas de energia solar da China, como a Trina Solar e a Suntech Power, tenham caído mais de 80% nos últimos cinco anos.

O excesso de capacidade é um problema sério na China, seja na fabricação de manufaturas, mineração, alumínio, minério de ferro, cimento e outras indústrias. O investimento contínuo só criará mais problemas, desperdício de recursos e não faz nada de bom para equilibrar a economia. O investimento em capacidade produtiva só pode crescer a taxas mais baixas do que antes e não será capaz de contribuir significativamente para o crescimento do PIB.

Bolha imobiliária prestes a explodir

O investimento no setor imobiliário também tem crescido a uma velocidade vertiginosa nos últimos anos. Ele foi responsável por 13% do PIB da China em 2011, empurrando para cima também os setores associados. Nos anos do boom imobiliário, houve contribuição significativa para as elevadas estatísticas do PIB da China e a criação no processo de cidades-fantasmas como Erdos.

No entanto, a coexistência de aumento dos custos da habitação e de altas taxas de desocupação indica que a bolha imobiliária da China está prestes a estourar. Com uma relação preço-renda de 30-para-1, a grande maioria dos chineses não pode pagar pela aquisição de uma casa. Taxas de desocupação de cerca de 30% demonstram uma enorme defasagem entre a oferta e a demanda.

Como a demanda por habitação diminuiu, muitos desenvolvedores de terra já deixaram o setor. Este êxodo levará a uma redução do investimento, criando desemprego e também reduzindo a demanda por aço, alumínio e outros materiais, que por sua vez afetam diferentes setores da economia chinesa.

Os governos locais também serão afetados. Na última década, a receita fácil e vasta da venda de terras sustentou cada vez mais os governos locais. Agora, com a demanda imobiliária se contraindo, o fluxo de caixa dos governos locais é diretamente afetado. Alguns podem até se tornar insolventes. Recentemente, mais e mais governos locais têm enfrentado dificuldades financeiras.

Ao longo das últimas décadas, a desvalorização do RMB tornou as exportações chinesas mais baratas. Embora isso tenha ajudado a aumentar o volume de exportações, os recursos naturais da China foram vendidos demasiadamente baratos e utilizados muito rapidamente, criando também graves problemas ambientais.

Por meio de taxas de juros baixas, capital tem sido transferido livre e injustamente de depositantes chineses para corporações e governos, privando os chineses comuns de tais recursos.

Últimas observações

Em suma, a desvalorização da moeda chinesa, as taxas de juros distorcidas, o apoio ao monopólio financeiro, uma política industrial deformada e políticas de terra predatórias formaram o desequilibrado modelo de desenvolvimento econômico da China. Isso sistematicamente fomenta a desigualdade de renda e está derrubando a participação do consumidor no PIB, ano após ano.

A ordem de Deng Xiaoping, “Deixem algumas pessoas ficarem ricas primeiro”, foi de fato realizada. “Algumas pessoas” sem dúvida “ficaram ricas primeiro”. Como? Aqui está o segredo: A causa do alargamento do fosso entre ricos e pobres não tem nada a ver com capacidade ou esforço, é puramente produto do poder (e da política).

A consequência mais dolorosa é a sobre-exploração dos recursos naturais, que tem causado tremenda poluição ambiental, destruição de recursos e do espaço vital, dos quais as gerações futuras dependem para sua sobrevivência. As massas de chineses comuns terão de pagar por essas consequências e suportar os desastres que esta reforma econômica trouxe sobre a terra.

Tianlun Jian, PhD, escreve regularmente sobre economia chinesa e aconselha o Epoch Times em assuntos econômicos. Seu blogue é Chineseeconomictrend.blogspot.com

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