Problemas fundamentais da economia chinesa – Parte 1

09/02/2013 14:15 Atualizado: 09/02/2013 14:43
Consumo não pode impulsionar crescimento econômico sem mudanças macropolíticas
Chineses observam o modelo de um empreendimento à venda na Exibição de Imóveis e Investimento de Pequim em 20 de setembro de 2012 (Mark Ralston/AFP/Getty Images)

Dados econômicos recentes sugerem que o período de vitórias da China está chegando ao fim. Será esta uma pausa temporária ou a economia chinesa está em direção ao pior? Se isso é verdade, quais são as causas da mudança?

Provas recentes de fraqueza abundam. O Índice de Compras (PMI) do HSBC sinalizou 47,9 em setembro, mostrando a décima primeira leitura consecutiva abaixo de 50. Uma leitura abaixo de 50 significa que o setor industrial da China está se contraindo.

A produção industrial em agosto cresceu em sua menor taxa em três anos e os lucros do setor industrial caíram 6,2% em agosto em relação há um ano atrás, segundo a Secretaria Nacional de Estatísticas da China.

Além disso, o Banco Asiático de Desenvolvimento reduziu sua estimativa do PIB 2012 para a China para 7,7% dos 8,5% projetados em abril de 2012. Da mesma forma, o Banco Mundial e o FMI também reduziram suas previsões do crescimento do PIB 2012 da China para 7,7 e 7,8%, respectivamente. Nenhum economista mais prevê um crescimento de 10%, uma taxa que muitos analistas julgariam garantida há apenas dois anos.

Saindo da estrada econômica

Pessoalmente, acho que esta mudança tem se verificado há um longo tempo. Ela foi desencadeada por escolhas feitas anos atrás e agora o caminho tomado está chegando ao fim. Os problemas econômicos atuais estão diretamente associados às políticas macroeconômicas e ao sistema de distribuição de renda da China. Ambos foram criados para servir aos interesses políticos do Partido Comunista Chinês (PCC), em detrimento da sustentabilidade econômica. Por quê?

A reforma econômica da China começou com o slogan de Deng Xiaoping, “Deixem algumas pessoas ficarem ricas primeiro.” E, posteriormente, “O desenvolvimento é de importância primordial” e “Manter a estabilidade é a prioridade principal” foram acrescentados. O objetivo deste paradigma era preservar o regime do PCC e as macropolíticas chinesas foram delineadas de acordo.

As prioridades poderiam ser alcançadas se o crescimento do PIB se mantivesse elevado o suficiente para evitar o desemprego em massa (estabilidade) e fomentando a importação de tecnologia e o investimento em infraestrutura (desenvolvimento). O objetivo exposto primeiramente por Deng Xiaoping – que algumas pessoas ficassem ricas primeiro – poderia ser alcançado introduzindo-se a noção de propriedade na economia chinesa de forma que os oficiais do PCC pudessem colher a maior parte dos benefícios do crescimento econômico e assim assegurassem o controle.

Consequentemente, desde as reformas econômicas, especialmente nas duas últimas décadas, o regime comunista estabeleceu uma elevada taxa de crescimento como objetivo principal. Sua economia, desde então, cresceu a uma média de 10% anualmente. O elevado crescimento do PIB foi obtido principalmente por meio de exportações e gastos de investimento de grande porte. Agora, no entanto, nem as exportações nem os investimentos podem sustentar o crescimento da China.

Macropolíticas distorceram a distribuição de renda

Para entender por que os dois motores do crescimento não estão mais funcionando, é preciso voltar para a estrada econômica original escolhida e reconhecer que o problema está na injusta distribuição de renda. Esta distribuição de renda injusta surge da manipulação das taxas de juros reais.

O alto crescimento das exportações foi alcançado por políticas comerciais mercantilistas e pela subvalorização do renmimbi chinês (RMB). Por outro lado, o alto investimento era um resultado direto de taxas de juros reais extremamente baixas. Entre 2003 e 2011, a taxa de juros real média dos empréstimos foi praticamente zero. Isso significa que quem empresta dos bancos tem dinheiro de graça.

A grande maioria dos empréstimos na China foi alocada para empresas estatais e, na última década, também para governos locais e desenvolvedores de terras. No outro lado dessa equação estavam as massas de poupadores chineses que depositavam dinheiro sem retorno real.

Ao longo dos anos, essas baixas taxas de juros permitiram a transferência de enormes poupanças para o governo e empresas, principalmente empresas estatais, de graça. A taxa de juros real zero automaticamente forçou os depositantes chineses a fornecerem tais subsídios.

Como consequência, governos, grandes corporações e empresas estatais acumularam muita riqueza no processo. O retorno sobre o investimento de capital foi alto nas últimas décadas. Em especial, como os preços da habitação aumentaram mais de 10% durante vários anos, os desenvolvedores de terras e empresas imobiliárias fizeram fortunas.

Muitos dos chineses mais ricos estão associados com o setor imobiliário. Os governos locais também aumentaram suas receitas com a venda de terras. As receitas da venda de terras aumentaram até corresponderem a 30-50% das receitas fiscais locais. Os governos locais se regozijavam vendo os preços da habitação subirem porque isso lhes permitia vender terrenos a preços superiores.

Macropolíticas alargaram as diferenças de renda

Na última década, os preços da habitação na China mais que duplicaram, alargando a disparidade de renda.

Os ricos – CEOs de corporações, administradores seniores de empresas estatais e oficiais do governo – aumentaram sua riqueza por meio dos preços dos imóveis que disparavam, porque muitos deles podem possuir várias propriedades imobiliárias. Segundo o ‘Relatório de Pesquisa sobre a Situação Financeira Familiar na China’ (RPSFFC), o grupo dos 10% com renda superior detém 85% dos bens imobiliários na China.

Os pobres, por outro lado, têm de colocar todas as suas economias para comprar sua primeira casa e estão sobrecarregados com hipotecas. Eles se tornam o que é chamado de “escravos imobiliários”, tendo de gastar mais do que suas rendas em hipotecas.

Enquanto o preço dos imóveis continua subindo, as pessoas que necessitam de habitação usam as economias de toda uma vida para comprar uma casa. Muitos acabam com grandes hipotecas, pois a maior parte de sua renda mensal é usada para pagar hipotecas, deixando pouca margem para o consumo de outros bens.

Portanto, enquanto a bolha imobiliária cresce, o consumo da massa de “escravos imobiliários” e “futuros escravos imobiliários”, que precisa de maior margem de rendimento disponível, somente diminuirá.

A cadeia macropolítica de desvalorização da moeda, baixas taxas de juros, alto investimento e elevados preços das habitações impulsiona as exportações e os investimentos em detrimento do consumo. Sem alterar a macropolítica atual, o crescimento sustentado pelo consumo representa apenas palavras vazias.

Macropolíticas reduzem a participação do consumo

Isso, em parte, explica por que a participação do consumo privado como um componente do PIB entrou numa espiral descendente, uma espiral que se acelerou nas últimas duas décadas. A participação do consumo no PIB da China diminuiu de 47% em 1990 para 34% em 2011.

Muitas pessoas pensam que a participação do consumo chinês é baixa devido ao hábito chinês de economizar uma grande proporção de sua renda. Isto, contudo, é apenas uma fração da realidade.

De acordo com o RPSFFC publicado mais recentemente, 75% da poupança na China pertence ao grupo dos 10% com renda superior da população. Cerca de metade da população chinesa tem apenas poupança limitada ou nenhuma. No topo, os ricos podem colocar suas poupanças em imóveis e outros ativos, enquanto os pobres ficam com os depósitos bancários sem rendimento.

Se a imensa maioria não tem poupança significante ou não pode gerar um retorno decente, sua renda deve ser gasta exclusivamente em necessidades diárias. Eles simplesmente não têm dinheiro suficiente para gastar. Esta é provavelmente a razão principal da participação do consumo no PIB da China continuar em declínio.

Tianlun Jian, PhD, escreve regularmente sobre economia chinesa e aconselha o Epoch Times em assuntos econômicos. Seu blogue é Chineseeconomictrend.blogspot.com

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