Problemas estruturais atormentam economia chinesa

03/08/2012 11:00 Atualizado: 03/08/2012 11:00

Trabalhadores em Shanghai em 9 de outubro de 2011. A economia chinesa está paralisada por problemas fundamentais que poderiam levar anos para mudar. (Mark Ralston/AFP/Getty Images)A atual situação econômica da China é semelhante àquela no início de 2009, talvez pior. O motor que impulsiona a economia chinesa está crepitando. Exportações e investimentos, as principais forças motrizes do crescimento econômico chinês, estão desacelerando. O setor imobiliário, a locomotiva que mais recentemente puxava a economia, também está enfraquecendo. Todos os três aspectos estão murchando.

Em relação à inflação, em comparação com o mesmo período do ano passado, o Índice de Preços ao Consumidor caiu por três meses consecutivos e o Índice de Preço de Commodity Industrial tem caído por quatro meses em série, muito similar à situação em 2009.

Mas, em 2009, Pequim injetou um enorme pacote de estímulo de 4 trilhões de yuanes (585 bilhões de dólares) na economia. Enquanto isso compensou a falta de demanda e conseguiu manter o crescimento econômico, na verdade, isso exacerbou a bolha imobiliária. O regime entrou em pânico com o crescimento do descontentamento público. Nem pessoas comuns nem a alta classe intelectual podiam comprar habitação própria.

Enigma do fluxo de capital

Desde o ano passado, Pequim vem tentando controlar o mercado imobiliário, mas com pouco efeito.

Em tais condições econômicas pobres, reduzir as taxas de juros e a alíquota de reserva dos bancos são medidas utilizadas para aumentar o fluxo de capital, a fim de estimular a economia e manter o crescimento. No entanto, o aumento do fluxo de capital pode empurrar os preços da habitação ainda mais para cima.

Manter o crescimento econômico e eliminar a bolha imobiliária são medidas contraditórias entre si e é por isso que Pequim não pode alcançar estes objetivos ao mesmo tempo.

O regime baixou as taxas de juros duas vezes este ano, superando as medidas tomadas em 2009. A taxa básica de juros seria de 6% agora, um pouco maior do que os 5,31% em 2009. Mas ao permitir um desconto de 30% na taxa de juros, o regime chinês, de fato, reduziu a taxa de empréstimo atual para cerca de 4,2%, menor do que em 2009. Pequim não faria isto a menos que achasse que o crescimento econômico enfrenta um problema considerável.

O regime tem realizado uma série de injeções de capital para impulsionar o crescimento econômico nos últimos anos, em particular durante a crise financeira, gerando excesso de capacidade na produção, excesso de imóveis não vendidos e habitações superfaturadas. Agora, o regime não tem qualquer espaço para estímulo através da injeção de capital.

Mais importante ainda, as injeções de capital têm causado a deformação do sistema econômico da China, que é muito difícil de corrigir e que o regime não se atreve a fazer de novo.

Reforma

Agora, Pequim não deve apenas reduzir a taxa de juros, mas também deve reduzir significativamente a taxa de reserva obrigatória dos bancos (a quantidade mínima de recursos que um banco está legalmente obrigado a manter). Durante os últimos anos, o regime tem aumentado significativamente o taxa de reserva de depósito, num esforço para reduzir a pressão sobre a apreciação do Yuan, promover as exportações com uma taxa de câmbio baixa e manter o crescimento econômico. De 9% em janeiro de 2007 para 21,5% em junho de 2011, o aumento da taxa de depósito compulsório deformou a já conturbada estrutura econômica ainda mais.

O motor que impulsiona a economia da China encontra-se nas empresas privadas e nas pequenas e médias empresas (PME). O emprego em empresas e holdings estatais responde por apenas cerca de 20% do emprego nacional.

Para ajudar a economia da China a sair de suas dificuldades atuais, as políticas atuais de crédito devem ser mudadas primeiro para que o monopólio financeiro dos bancos estatais possa ser quebrado. Políticas preferenciais para as PME e para o setor privado devem ser desenvolvidas para que o monopólio do comércio de empresas estatais seja quebrado.

A menos que empréstimos estejam disponíveis para as PME, o estímulo macroeconômico não tem nenhum efeito, pois as PME não podem se beneficiar da queda da taxa de juros. Se as PME não podem obter empréstimos, elas não podem sobreviver, então, falar sobre o desenvolvimento econômico da China não passa de palavras vazias.

Os benefícios fiscais podem ajudar a reduzir os encargos das empresas e estimular o desenvolvimento econômico, mas isso não é tão viável na China de hoje. Em outras palavras, os governos locais precisam fazer alterações substanciais, por exemplo: uma verdadeira reforma, cortes orçamentários profundos e pôr um fim nos gastos excessivos, como os “três consumos públicos”, viagens ao exterior, recepções e carros para oficiais e outras regalias.

A receita dos governos locais tem sido cada vez mais dependente de taxas de transferência de terras pelos últimos dez anos ou mais. Em muitos casos, entre 30 e 60% da receita vem da venda de terras. Devido à crise imobiliária atual, a receita da venda de terras está muito reduzida e afetou o equilíbrio fiscal em algumas áreas. Alguns governos locais têm que confiar em empréstimos para manter seus gastos.

De fato, as finanças públicas locais têm desenvolvido grandes problemas, que não podem ser resolvidos por meios econômicos. Para mudar radicalmente o sistema econômico poderá exigir mudar primeiro a forma como o governo funciona.

Seria preciso um mínimo de dois a três anos para ajustar toda a política econômica chinesa e ainda mais tempo para mudar as estruturas econômicas.

Jian Tianlun, Ph.D., escreve regularmente sobre a economia chinesa e aconselha o Epoch Times em questões econômicas. Seu blogue é Chineseeconomictrend.blogspot.com.