Prisões após seminário sobre massacre do 4 de junho de 1989 na China

08/05/2014 12:46 Atualizado: 08/05/2014 12:46

Com a aproximação do 25º aniversário do ‘movimento de 4 de junho de 1989’, mais de uma dúzia de intelectuais chineses, advogados e dissidentes organizou uma conferência privada em Pequim em 3 de maio para discutir o impacto do evento e as consequências da violenta repressão que se seguiu, quando o regime comunista chinês ordenou que seus militares abrissem fogo contra estudantes desarmados e moradores de Pequim, matando centenas ou milhares de pessoas.

Não muito tempo após o fim do seminário, pelo menos oito dos participantes teriam desaparecido ou foram convocados pela polícia – incluindo o conhecido advogado Pu Zhiqiang, cuja casa foi invadida por policiais.

O seminário ocorreu na casa de um participante em Pequim; uma faixa pendurada na parede dizia: “Seminário de 2014 pelo Aniversário do 4 de Junho em Pequim”.

No seminário, os participantes recordaram a violenta repressão do movimento de 4 de junho de 1989 e clamaram pela revelação da verdade sobre o incidente. Eles pediram retratação dos assassinatos e compensação às famílias das vítimas. Quatro acadêmicos e dissidentes que não puderam comparecer enviaram observações escritas.

Dentro de dois dias do seminário, oito participantes foram convocados por oficiais do serviço de segurança interna. De acordo com o China Change, um website que monitora os abusos na China; eles listaram o advogado Pu Zhiqiang; o pesquisador Xu Youyu da Academia Chinesa de Ciências Sociais; o professor Hao Jian da Academia de Cinema de Pequim; o escritor dissidente Liu Di; o ex-preso político Hu Shigen; o professor de sociologia Guo Yuhua da Universidade Tsinghua; o professor Cui Weiping da Academia de Cinema de Pequim; e o historiador Qin Hui da Universidade Tsinghua.

Entre eles, Guo Yuhua, Cui Weiping e Qin Hui foram liberados, mas os outros cinco ainda estão fora de alcance. Pu Zhiqiang foi levado pelas forças de segurança às 23h de domingo, após a polícia invadir sua casa e confiscar seu telefone celular, computador e alguns livros.

No mês passado, a conhecida jornalista independente e analista política Gao Yu também foi dada como desaparecida quando não compareceu a um evento programado em Pequim em 26 de abril.

As autoridades do Partido Comunista Chinês têm proibido atividades civis que recordem o massacre da Praça da Paz Celestial desde o incidente em 1989 – embora este ano a repressão tenha sido particularmente aguda.

Ding Zilin, integrante do grupo “Mães da Praça da Paz Celestial”, cujo filho de 19 anos foi morto a tiros, foi proibida de permanecer em Pequim antes de 5 de junho deste ano, segundo a Voz da América. Ding disse que é a primeira vez em 25 anos que ela é expulsa da capital.

O movimento de 4 de junho foi uma série de protestos de rua e demandas políticas coordenados por estudantes, incluindo a ocupação da Praça da Paz Celestial em Pequim em abril, maio e início de junho de 1989. Centenas de milhares de estudantes e outros chineses, incluindo trabalhadores, juntaram-se aos protestos.

A liderança do Partido Comunista decidiu esmagar os protestos, mobilizando tanques e tropas na noite de 3 de junho e na manhã de 4 de junho. O número de mortos foi estimado em centenas ou mesmo milhares.

Fotos, informações e discursos relacionados ao movimento de 4 de junho são rigorosamente censurados na internet chinesa. O movimento agora é rotulado de “rebelião estudantil” na imprensa estatal e estudantes não são ensinados sobre as raízes dos protestos ou muito menos sobre o fim violento que se abateu sobre eles.