Conturbações se delineiam no alto escalão do regime chinês
O choque na esfera política chinesa, advindo da prisão de Wang Lijun, está apenas começando. Em 2 de fevereiro, Wang perdeu o cargo de chefe da Secretaria de Segurança Pública da cidade de Chongqing, na província chinesa de Sichuan. Rumores da internet dizem que Bo Xilai, antigo superior de Wang, que lhe confiou importantes missões, rapidamente se distanciou de Wang antes deste ser investigado pela Comissão Central de Inspeção Disciplinar. Caso seja verdade, isto certamente condiz com a personalidade traiçoeira de Bo. Porém, é certo que a Comissão não se limitará a investigar apenas Wang.
Wang foi o braço-direito de Bo e liderou diversos ataques contra grupos mafiosos. Após Bo conseguir o cargo de Secretário do Comitê do Partido Comunista da cidade de Chongqing, em dezembro de 2007, ele transferiu Wang de Jinzhou, na província de Liaoning, no nordeste da China, para Chongqing, em junho de 2008. Com ajuda de Wang, Bo eliminou diversos oficiais em Chongqing vinculados ao anterior secretário do Partido na cidade, sob o pretexto de “combater a máfia”.
Isso indica a confiança de Bo em Wang. Caso Bo tivesse a chance de uma promoção, definitivamente traria Wang consigo. Em outras palavras, caso Bo não possa salvar Wang, provavelmente não pode se salvar do que está por vir.
Erros fatais de Bo
É de conhecimento amplo que Bo não se entende com outros oficiais de alto escalão do Partido Comunista Chinês (PCCh). Em 11 de junho de 2011. Bo liderou uma “trupe da canção vermelha”, com 500 membros, para apresentarem-se em Pequim. De um total de nove oficiais do Comitê Permanente da Secretaria Política, nenhum estava presente. Esse ato frustrado de Bo evidenciou o quanto ele está isolado dentro da alta cúpula.
Em 5 de outubro do mesmo ano, Bo estampou no jornal “Diário de Chongqing” caligrafias de Deng Ken, irmão mais novo de Deng Xioping, ex-líder chinês, a fim de mostrar o apoio de Deng a ele. No dia seguinte, ele publicou uma entrevista com Hu Jinxing, primo de Hu Jintao, atual líder chinês. Na entrevista, Hu Jinxing fez diversos elogios às ações de Bo. Mais um golpe frustrado, nitidamente tentando se mostrar “popular”, ao não conseguir o apoio de Hu Jintao, e assim se consolando com Hu Jinxing.
Em 10 de novembro, quando Hu Jintao estava numa reunião da APEC, Bo organizou uma grande manobra militar. Esse foi o terceiro erro de Bo e expos sua obstinação e teimosia. Enquanto Hu estava fora da China, Bo mostrou a Hu sua capacidade de mobilizar os militares. Não importa o quanto Bo elogie o PCCh e combata a máfia, Hu pode ou não temê-lo como rival. Mas nesse evento, Bo enviou uma mensagem a Hu, que ele tem habilidade e determinação para um golpe militar.
Nesse ponto, é inevitável que ambos os jogadores ponham as cartas na mesa.
Muitas pessoas podem não ter notado a notícia da agência Xinhua em 15 de janeiro de 2012, mas ela foi significante. Dois altos oficiais militares, Xu Caihou e Guo Boxiaong, vice-presidente do Comitê Central Militar, e Li Ji’nai, diretor do Departamento Político Geral do Exército da Libertação Popular, declararam que os militares deveriam “seguir o comando do presidente Hu”. Eles também afirmaram que suas declarações visavam assegurar que o 18º Congresso Nacional do PCCh ocorresse satisfatoriamente e que os militares, a qualquer momento e em qualquer circunstância, ouvem o comando de Hu.
Após finalizado o planejamento militar, Wang perdeu o cargo de Secretário de Segurança Pública de Chongqing em 2 de fevereiro.
Aliança partida, rápido declínio
Se analisarmos cronologicamente a cadeia de eventos, o leitor pode chegar a seguinte dedução: Hu Jintao já decidiu se livrar de Bo Xilai, e planeja começar com Wang Lijun. Caso Bo defenda Wang e mantenham a aliança, talvez ainda possam confrontar-se com Hu Jintao. No entanto, Bo sempre foi traiçoeiro, assim, decidiu imediatamente abandonar Wang para se proteger.
Por saber demais sobre Bo, Wang corria risco iminente de ser morto; portanto, a solução imediata era sair de Chongqing. A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Victoria Nuland também confirmou a conversa de Wang com oficiais do consulado em Chengdu.
Creio que Wang sabia claramente que o consulado norte-americano não poderia lhe dar proteção política. O motivo de ele ter feito isso provavelmente era atrair mais atenção aos fatos. Ao deixar Chongqing e se abrigar no consulado tempo suficiente, Pequim certamente interviria, e Wang teria sua segurança temporariamente garantida.
Várias agências de imprensa reportaram que o prefeito de Chongqing, Huang Qifan, conduziu 70 viaturas para abordar Wang, mas foi a comissão de inspeção disciplinar do Partido que levou Wang, que voou direto para Pequim na manhã do dia 8, declarando que partiria para o “tudo ou nada” com Bo Xilai.
Mesmo ser um membro do Comitê Central do PCCh não garante a segurança pessoal. Chen Xitong ex-secretário do Partido de Pequim, e Chen Liangyu, ex-secretário do Partido de Shanghai, foram ambos destituídos sob a justificativa de anticorrupção, ainda que a real razão de suas quedas fosse disputa política.
O fim que espera por Bo será bem pior do que não se sustentar no Comitê Político Permanente. Porque Bo Xilai se mostrou cruel e perverso, sem alianças na alta cúpula, e tem tentado sobreviver no PCCh enquanto quebra as próprias regras da gangue do Partido, não seria surpreendente ver sua carreira política chegar ao fim ou vê-lo preso em função do incidente.
O Epoch Times reportou anteriormente, “De acordo com informações vazadas de canais diplomáticos norte-americanos no Wikileaks, quando Bo Xilai ainda era ministro do comércio chinês, Bo manejava para ser vice-premier quando foi destituído por Wen Jiabao no 17º Congresso do Partido, por causa das ações legais internacionais movidas por praticante do Falun Gong contra ele ao redor do mundo. Bo foi rebaixado para Secretário do Partido na cidade de Chongqing como última parada da sua carreira política”, disse a fonte diplomática.
Como prefeito da cidade de Dalian, governador da província de Liaoning, e ministro do comércio, Bo Xilai sempre perseguiu brutalmente os praticantes do Falun Gong, e Wang Lijun foi seu capanga mais ativo. Ambos se envolveram em muitos casos de retirada ilegal de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong, um crime covarde contra a humanidade. O declínio deles advém de disputas políticas, mas também representa um castigo pelos crimes cometidos para se elevarem na hierarquia do Partido.