Primeiro ‘tigre’ de 2015 derrubado em campanha anticorrupção na China

10/01/2015 10:51 Atualizado: 10/01/2015 10:51

Dignitários estrangeiros que visitam a China em breve notarão que um rosto familiar está faltando: Zhang Kunsheng, o principal dos quatro ministros-assistentes das Relações Exteriores do regime chinês, foi deposto.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores anunciou numa conferência de imprensa em 2 de janeiro, sem maiores explicações, que Zhang Kunsheng foi demitido por violar a disciplina do Partido Comunista, o que geralmente é sinônimo de corrupção.

Além desta posição de poder nos círculos diplomáticos do regime, que vinha logo após o ministro das Relações Exteriores e seis vice-ministros, Zhang também foi o diretor do Departamento de Protocolo do Ministério, onde lidava com tarefas como organizar itinerários dos funcionários chineses que viajam ao exterior e de funcionários estrangeiros que visitavam a China.

Quando o ex-presidente americano Bill Clinton visitou a China em 1996, foi Zhang que o recebeu e ajudou a planejar seu itinerário, informou o Oriental Daily de Hong Kong em 3 de janeiro.

Campanha ‘anticorrupção’

Um dia após o ministério anunciar a queda de Zhang, um artigo publicado no blog da Xinhua, uma mídia estatal porta-voz oficial do regime, sugeriu que ele foi deposto devido à corrupção ou espionagem. “É bastante apropriado dizer que a demissão de Zhang representa o ‘primeiro tigre’ de 2015…”, disse a Xinhua. “Como a campanha anticorrupção não parou em 1º de janeiro de 2015, isso indica que a campanha aumentará em escala no Ano Novo Chinês.”

Conexão com ex-líder chinês

A demissão de um alto funcionário do Partido Comunista, embora sob o pretexto da campanha anticorrupção, é geralmente o resultado da intensa luta política no Partido Comunista Chinês. “‘Anticorrupção’ é simplesmente outra palavra para luta política interna – não querer que outros inimigos políticos desafiem o seu poder”, diz Liu Dong, um comentarista independente sobre assuntos políticos chineses.

Em entrevista ao jornal estatal Spring City Evening, na província de Yunnan, em 2002, Zhang Kunsheng revelou sua filiação política ao ex-líder chinês Jiang Zemin, dizendo que o evento mais memorável de sua carreira diplomática ocorreu em 1997.

“Naquele ano, o líder chinês Jiang visitou os Estados Unidos pela primeira vez. E eu participei na elaboração de todos os 27 discursos de Jiang. Nossa equipe também trabalhou meticulosamente em seu itinerário”, disse Zhang. Jiang e sua vasta rede são amplamente entendidos como uma força política de oposição ao atual líder Xi Jinping, e grande parte da campanha de expurgos e prisões de Xi Jinping visa principalmente os asseclas da facção de Jiang Zemin.

Zhang Kunsheng mostrou novamente sua conexão com Jiang Zemin quando elaborou sobre sua contribuição na disputa política com os Estados Unidos após o bombardeio da embaixada chinesa em Belgrado.

“Em 1999, após nossa embaixada em Belgrado ter sido impiedosamente bombardeada pela OTAN, uma série de negociações começaram entre os Estados Unidos e a China”, disse Zhang. “Nós obrigamos os Estados Unidos a se desculparem a China cinco vezes, e os EUA baixaram sua bandeira a meio mastro quando os corpos de nossos bravos soldados foram enviados de volta para a China.” Essa vitória foi propagandeada na época pela administração Jiang como um triunfo sobre os Estados Unidos.

Num país onde a mídia é rigidamente controlada e censurada, não é absolutamente certo se Zhang é de fato o primeiro funcionário a ser deposto este ano, mas ele certamente não será o último. Uma reportagem da Phoenix Television de Hong Kong disse em 3 de janeiro: “Mais tigres devem ser purgados nos círculos diplomáticos chineses.”