Ex-primeiro-ministro chinês se defende numa carta

20/01/2014 18:50 Atualizado: 02/02/2014 10:28

Wen Jiabao, o primeiro-ministro recém-aposentado da China, está tentando limpar seu nome. Depois de ser ferido por uma série de artigos nada lisonjeiros do New York Times em 2012, que alegavam que sua família tinha enriquecido durante seu mandato, Wen escreveu para um colunista de um jornal em Hong Kong afirmando que nunca abusou do poder.

“Eu nunca fiz nem faria algo que abusasse do poder para obter ganhos pessoais, porque não há interesse material que possa abalar minhas convicções”, disse ele em sua carta pessoal; cópias da qual foram amplamente reproduzidas em websites chineses em 18 de janeiro.

A carta foi enviada a Ng Hong-mun, um colunista conhecido do jornal Ming Pao de Hong Kong. Wen escreveu que frequentemente lê e admira os escritos de Ng e os dois seriam amigos há algum tempo.

A carta, de três páginas, foi escrita a mão com caligrafia elegante. É a segunda vez que Wen responde publicamente a um longo artigo do NYT, publicado em outubro de 2012, que alegou que sua família controla ativos no valor de quase US$ 3 bilhões. Implícito no artigo estava a ideia de que sua família foi capaz de enriquecer por que Wen ascendeu nas fileiras do Partido Comunista Chinês e do governo.

O artigo do NYT seguiu-se a uma exposição semelhante da Bloomberg News sobre os ativos acumulados pela família do atual líder chinês Xi Jinping.

Comentaristas chineses foram rápidos em sugerir que uma conspiração – não necessariamente conhecida pelos autores dos artigos –, criada por uma facção política rival, estava por trás da publicação das revelações.

Mais recentemente o jornalista veterano chinês Gao Yu alegou num artigo na Deutsche Welle que a Bloomberg tinha recebido arquivos com informações sobre a maioria dos principais líderes do Partido Comunista Chinês, mas publicou apenas as informações sobre Xi Jinping. Representantes da Bloomberg e do NYT negaram essas alegações.

Gao Yu alegou que por trás da conspiração estava a facção associada com Zhou Yongkang, o ex-chefe da segurança interna que tem estado envolto em rumores e num cerco de investigações há alguns meses. Informantes em Pequim disseram à Reuters que Zhou está em “prisão domiciliar”, enquanto suas atividades de seu tempo na ativa estão sendo minuciosamente investigadas.

Nem o NYT nem a Bloomberg News revelaram qualquer dos documentos que serviram de base para seus artigos. Repórteres e representantes das publicações disseram que se basearam em informações disponíveis publicamente.

As alegações dos artigos foram levadas a sério pela liderança comunista chinesa: depois de cada artigo publicado, o respectivo website da mídia estrangeira na China foi imediatamente bloqueado. Mais recentemente, todos os jornalistas de ambas as publicações tiveram seus pedidos de visto adiados por tanto tempo que as agências chegaram a pensar que seriam efetivamente expulsas da China. Mas os vistos da maioria dos jornalistas foram eventualmente concedidos.

Heng He, um analista político chinês, escrevendo no Epoch Times em novembro de 2012, disse: “A riqueza dos altos funcionários do Partido Comunista Chinês [PCC] é um assunto muito sensível. A maioria desses funcionários ficou obscenamente rica nas últimas décadas, e todos entendem que o povo chinês, cujos padrões de vida foram suprimidos para promover uma economia baseada em exportações, os odiará pela riqueza que adquiriram.”

Outras famílias de membros do PCC, muito mais ricas do que Wen Jiabao, não receberam a cobertura de imprensa negativa que Wen recebeu. “Ao expor a suposta riqueza de Wen Jiabao, o artigo o enfraqueceu politicamente na ocasião, pouco antes da reunião do 18º Congresso do PCC em 8 de novembro”, escreveu Heng He. O 18º Congresso foi uma reunião crucial do PCC que decidiu e nomeou a nova liderança chinesa.

Em sua carta a Ng, Wen disse que desfruta de uma vida tranquila: “Neste momento eu estou em casa, vivendo como um aposentado: Exercitando-me, lendo livros, praticando composições e entretendo visitantes.”

Pouco adiante na carta, ele escreveu: “Agora que estou aposentado, quero caminhar bem a jornada final da vida humana. Eu vim ao mundo nu e claro, e limpo eu deixarei o reino humano.”