Astrofísicos franceses determinaram que um planeta rochoso há 20 anos-luz da Terra é o primeiro planeta fora do nosso sistema solar, um exoplaneta, que está na zona habitável.
O Gliese 581d é um dos vários exoplanetas num sistema que orbita uma estrela anã vermelha, o Gliese 581, que já recebeu considerável atenção desde sua descoberta em 2007. Em setembro passado, propôs-se controversamente que o Gliese 581g fosse como um planeta dos “cachinhos dourados”, ou seja, capaz de suportar a vida. Desde então, surgiram dúvidas quando a sua existência.
Agora, cientistas do Instituto Pierre Simon Laplace em Paris usaram técnicas recentes de modelos de computador que podem simular climas e superfícies do exoplaneta em 3D para prever se o Gliese 581d, inicialmente pensado como sendo muito frio para suportar a vida, pode ser quente e úmido o suficiente para que a vida similar a da Terra exista lá.
O Gliese 581d tem aproximadamente o dobro do tamanho da Terra, com uma massa pelo menos sete vezes maior do que a de nosso planeta. Com cada lado sendo dia e noite permanentes, e menos de um terço da energia estelar que brilha na Terra, o exoplaneta parece improvável de ser habitável, pois sua atmosfera, espessa o suficiente para aquecer, provavelmente congelaria no lado noturno.
No entanto, as simulações climáticas da equipe mostram que o Gliese 581d tem “uma atmosfera estável e água líquida na superfície em função de várias razões plausíveis, tornando-o a primeira super-Terra confirmada (um exoplaneta de duas a dez vezes a massa da Terra) na zona habitável”, conforme indicado no resumo do estudo, publicado no Jornal de Astrofísica.
De acordo com um comunicado de imprensa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França, se o Gliese 581d tiver uma densa atmosfera de dióxido de carbono, o que é um cenário provável, seu clima seria “não só estável contra um colapso, mas quente o suficiente para haver oceanos, nuvens e chuva.”
Como a luz da estrela Gliese 581 é vermelha, a luz pode viajar muito mais para dentro da atmosfera de dióxido de carbono do planeta, criando calor através do efeito estufa. Em nosso sistema solar, isto não seria possível por causa do efeito Rayleigh que reflete o componente azul da luz solar de volta ao espaço devido à espessa atmosfera, fazendo com que o céu da Terra seja azul.
A simulação também mostra que a atmosfera redistribui de forma eficiente o aquecimento da luz do dia ao redor do planeta através da atmosfera, impedindo o colapso atmosférico sobre os polos e o lado noturno.
O comunicado de imprensa do instituto afirma que no futuro os telescópios serão capazes de detectar a atmosfera do exoplaneta diretamente, porque está relativamente próximo à Terra. A equipe criou vários testes simples que permitirão observadores futuros colherem outras informações, como, por exemplo, se o Gliese 581d é capaz de reter algum hidrogênio atmosférico, tal qual Urano ou Netuno.
Além de ser banhado em luz vermelha, a grande massa do planeta significa que a sua gravidade na superfície seria aproximadamente o dobro da da Terra, sugerindo que os planetas que sustentariam a vida não precisam ser particularmente parecidos com a Terra em tudo, segundo o comunicado.