E Nicolás Maduro apronta de novo. Desta vez quer controlar o que passa nos canais de TV, sejam abertos ou a cabo, o importante é expandir o próprio poder e domínio sobre os venezuelanos utilizando-se da desculpa que for.
Inclusive, a desculpa desta vez é a de que os programas de televisão, principalmente as novelas, são culpados pela violência no país. Da última vez o culpado era o Homem Aranha e super-heróis mascarados. Realmente, uma criança assistirá o desenho do homem-aranha e quando crescer… Jogará teias nos outros? Assistirá ao filme e sairão de casa mascarados para bater em criminosos?
No caso do ataque às novelas terá algo a ver o fato de que uma das atrizes da principal novela da Venezuela (“De todas maneras, Rosa”, da Venevision) faz oposição ao governo de Maduro? A atriz se chama Norkys Yelitza Batista Villaroel e sua personagem, Andreina Vallejo, matou até a própria mãe na novela para esconder a paternidade de seu filho, além de assassinar outros personagens. Contudo, não passa de uma personagem de novela e ninguém é obrigado a ser criminoso e/ou psicopata porque uma personagem de novela é assim. É ridículo colocar a culpa da violência na Venezuela sobre uma novela.
Não passa de mais uma desculpa para encobrir a realidade venezuelana. Tanto que o Observatório Venezuelano de Violência estima o aumento de 400% na violência nos 15 anos que os socialistas bolivarianos estão no poder. Ora, são 15 anos de governo com quadruplicação do índice de homicídios, frente a menos de 1 ano da novela acusada por Maduro.
O governo socialista bolivariano da Venezuela impede a verificação dos dados fornecidos sobre a violência no país e diz que a taxa está em 39 assassinatos para 100 mil habitantes; a mais alta da América do Sul, sendo que o observatório informa a ocorrência de no mínimo 24 mil assassinatos em 2013, elevando a taxa para 79 por 100 mil habitantes, aproximadamente 202% maior que a anunciada pelo governo.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) a taxa de homicídios na Venezuela é a quinta pior do mundo. Diversos analistas estão dizendo que, mesmo que o governo imponha regras mais duras sobre a programação de televisão e principalmente as telenovelas, a violência não baixará com as medidas.
Como o governo finge que a violência não é culpa dele, a iniciativa privada se movimenta para (como sempre) resolver os problemas criados pelo Estado. A primeira iniciativa foi a criação de um aplicativo gratuito chamado “Pocket Police” (Polícia de Bolso). O aplicativo possui um “botão de pânico” que ao ser acionado notifica de um até três contatos sobre a emergência e mostra a localização do indivíduo.
Quem baixar o “Pocket Police” precisa adicionar até três contatos, fornecendo e-mail e telefone dessas pessoas para que recebam as notificações de emergência caso ocorra.
É obvio que o discurso de Maduro não passa de mais uma ação estratégica dele para tirar o foco da criminalidade de cima do culpado (o governo bolivariano) e colocá-lo sobre quem não tem culpa (telenovelas, TV, homem-aranha, videogames…), enquanto testa o próprio poder e ruma ao controle total da sociedade venezuelana, elevando o intervencionismo ao maior patamar possível.
Quanto mais a Venezuela afunda, mais Maduro trabalha para aprofundar o buraco. As consequências virão e Maduro não terá mais ninguém para culpar, além de si próprio.
Roberto Lacerda Barricelli é jornalista, poeta e escritor e colabora com o Instituto Liberal
Esta matéria foi originalmente publicada pelo Instituto Liberal