Presidente de grande empresa estatal chinesa é derrubado em escândalo

25/04/2014 12:59 Atualizado: 25/04/2014 12:59

O chefe de um dos maiores conglomerados estatais da China foi colocado sob investigação por suspeita de corrupção recentemente e demitido de seu cargo alguns dias depois, segundo relatórios oficiais.

Song Lin, presidente da gigante estatal China Resources e secretário do Partido Comunista Chinês, era suspeito de “graves violações da lei”, anunciou o Comitê Central de Inspeção Disciplinar (CCID) em 17 de abril. O CCID é o órgão interno do Partido Comunista que interroga funcionários corruptos. Ele foi demitido dois dias depois.

A prisão seguiu-se a um artigo, elaborado por um jornalista chinês em 15 de abril, que acusou Song de sustentar amantes e desviar recursos públicos. Wang Wenzhi, o jornalista da mídia estatal Diário de Informação Econômica, publicou as acusações juntamente com uma fotografia íntima da Song com uma jovem na cama, em que vestiam o mesmo pijama cor de pêssego.

Song imediatamente denunciou o artigo como falso e calunioso. Autoridades disciplinares do Partido Comunista evidentemente interpretaram de forma diferente e o removeram no dia seguinte.

Gastos impróprios

Uma das principais acusações contra Song é que ele desviou dinheiro por meio de causar centenas de milhões de dólares em perdas. O caso clássico é a compra de uma empresa de mineração na província de Shanxi na China, onde a mineração é uma parte crucial da economia local.

Sob o mandato de Song, a China Resources gastou US$ 1,6 bilhão para comprar o Shanxi Jinye Coal & Coking Group Co. Ltd. em 2010. Esse negócio foi criticado como flagrantemente superfaturado. Duas das minas de carvão de propriedade da empresa não produziram nada após a compra e seis acionistas minoritários entraram com uma ação contra Song em agosto passado, acusando-o de improbidade e apropriação de bens estatais.

Boatos online começaram a proliferar simultaneamente, com blogueiros reunindo evidências e acusações que Song tinha um estilo de vida extravagante e esbanjador às custas da empresa estatal que ele presidia e, portanto, às custas do contribuinte chinês.

O internauta chinês Cao Bo, um advogado cuja conta é verificada pela empresa chinesa de internet Sina, escreveu numa postagem de blog que executivos de uma subsidiária da China Resources uma vez gastaram 1,2 milhão de yuanes (US$ 193,000) numa refeição. Um ex-executivo da subsidiária disse a Cao que essas refeições caras são comuns. Administradores inclusive viajam em jatos fretados, dizia a postagem.

Cao argumentou que, se sob a administração de Song até mesmo executivos de subsidiárias podiam esbanjar desta forma, “então que número astronômico deve alcançar as despesas anuais de Song Lin? Talvez esteja além da imaginação de uma pessoa comum.”

Investigação interrompida

Repórteres na China disseram que houve outra ocasião quando Song Lin foi quase derrubado por corrupção, mas que outras forças políticas o acobertaram.

O repórter Wang Wenzhi, juntamente com Li Jianjun, um ex-repórter do Noticiário de Shanxi, revelaram publicamente a corrupção de Song no ano passado. Eles entenderam que seus artigos foram aceitos pelos funcionários de alto escalão do Partido Comunista, mas “alguns obstáculos” suspenderam o caso por quase um ano, segundo a mídia estatal Beijing News.

Muitos chineses questionaram online: “Quais são os obstáculos?” e “Quem tem o poder de bloquear uma investigação por tanto tempo?”

O repórter Li Jianjun disse ao Epoch Times que Song uma vez ameaçou-o para que parasse suas reportagens. “Ele enviou pessoas para me ameaçar. ‘Pare de relatar estas coisas. Não as revele, não toque nesses assuntos. É inútil. Nossas conexões são muito fortes.’”

Até o ex-primeiro-ministro Wen Jiabao teria pedido a investigação de Song, mas esta ordem também foi obstruída pelos apoiadores políticos de Song, disse Li.

As pessoas por trás de Song devem estar no alto do Partido Comunista, disse Li. Algumas discussões especularam que, juntamente com uma série de outros funcionários que foram eliminados no último ano, Song Lin teria ligações com a velha guarda do ex-líder chinês Jiang Zemin e sua facção, incluindo Zhou Yongkang e Zeng Qinghong, o ex-chefe da segurança interna e um agente político influente, respectivamente.

Song, de 51 anos, formou-se bacharel em mecânica de sólidos e começou sua carreira como estagiário na China Resources 30 anos atrás. Ele se tornou gerente-geral em 2004 e presidente em 2008.

Dinheiro do Estado

Além de uma empresa estatal chinesa principal, a China Resources é uma das maiores empresas do mundo. Ela atua em sete grandes áreas, incluindo consumíveis, alimentação, imobiliário, cimento, gás, medicina e finanças; e possui 2.300 entidades de negócios, empregando um total de 400 mil pessoas. Cinco de suas empresas estão listadas em Hong Kong e tem participações em seis empresas listadas na China continental.

O faturamento em 2012 foi de US$ 52 bilhões, com ativos totais de US$ 120 bilhões. A empresa foi fundada em Hong Kong em 1938 para levantar dinheiro e fornecer suprimentos para as forças comunistas chineses durante a guerra sino- japonesa. O presidente Song detém o posto oficial de vice-ministro no governo chinês.

Assassinatos misteriosos

Enquanto a investigação de Song era anunciada, algo inusitado ocorreu: três mulheres que trabalham na empresa, que também eram companheiras de quarto, foram esfaqueadas e seus apartamentos incendiados.

Duas das mulheres, em seus 20 anos, morreram no local no dia 15 de abril, enquanto a terceira sobreviveu. A polícia disse que prendeu um suspeito de 23 anos.

Muitos comentários chineses sobre o incidente na internet têm associado o incidente com a investigação de Song Lin, sugerindo que as funcionárias foram mortas para eliminar provas contra Song ou prevenir que criassem problemas para o Partido Comunista.