Como novo presidente francês, François Hollande trabalha para construir um consenso na Europa sobre a emissão de eurobonds conjuntos para enfrentar a crise da dívida na Europa, a chanceler alemã Angela Merkel está cada vez mais isolada.
Após o encontro da cúpula do G-8 no sábado, Hollande disse que traria a ideia dos chamados eurobonds (obrigações ou títulos europeus) para uma reunião informal dos chefes de Estado da União Europeia agendada para quarta-feira, “Dentro deste pacote de propostas haverá eurobonds e eu não estarei sozinho em propô-los. […] Pois recebi confirmação aqui no G-8”, disse ele, segundo o jornal Hamburger Abendblatt.
É provável que a França receba apoio para pressionar pelos eurobonds, não só da Comissão Europeia, que tem sido a favor deles desde o último verão, mas também dos governos da Itália, Espanha e Grã-Bretanha.
Eurobonds, ou títulos europeus, são títulos do governo que a zona do euro emitiria e garantiria em conjunto. Investidores emprestariam dinheiro para o bloco de 17 membros como um todo por uma determinada taxa de juros compartilhada, enquanto que o dinheiro seria enviado a cada governo.
A França e outros países estão esperançosos de que tal uma mutualização da dívida em toda a zona do euro ajudaria os Estados endividados a pôr suas finanças em ordem uma vez que seus custos de empréstimos não estariam mais determinados por sua credibilidade.
O governo alemão e a maioria dos alemães se opõem fortemente à ideia. O medo na economia mais forte da Europa é que os eurobonds tirarão qualquer incentivo para reforma estrutural ou disciplina orçamentária. “Os eurobonds no momento assinalam baixas taxas de juro artificiais e reduzirão a pressão para a adaptação das economias europeias”, disse Steffen Kampeter, um alto funcionário do Ministério das Finanças alemão, conforme citado num comunicado nesta segunda-feira.
A assistência financeira prestada pelo fundo de resgate europeu, o FEEF, ao longo dos últimos dois anos para Estados como a Irlanda, Portugal e Grécia, são dependentes de reformas rigorosas dentro desses países. As medidas de austeridade nesses Estados e em outros lugares criaram reações em muitos países, como evidenciado nas eleições recentes.
Hollande, que ganhou a eleição presidencial do mês passado com uma plataforma política mais orientada para o crescimento na Europa e menos austeridade, é visto como uma força de liderança na construção de uma aliança para os títulos europeus.
Merkel está desconfiada de que ao invés de continuar no curso da disciplina fiscal, os eurobonds encorajarão mais dívida uma vez que cada país dentro do sistema, seja a Alemanha forte ou a Grécia fraca, pagaria juros idênticos em suas obrigações. Por outro lado, com títulos do governo emitidos a nível nacional, os mercados e avaliação de crédito de um Estado determinam os juros pagos. Para Berlim, a “solução é mais a competitividade dos Estados membros”, de acordo com o comunicado do governo na segunda-feira.
Embora Hollande e outros vejam os eurobonds como um primeiro passo para uma união fiscal mais integrada, para a Alemanha é o contrário. “Enquanto a política fiscal na Europa não estiver integrada, o governo federal rejeita o cofinanciamento através dos eurobonds”, diz o comunicado.
De acordo com a revista Der Spiegel, Merkel não espera chegar a qualquer compromisso com o presidente francês antes da cúpula da União Europeia (EU) no final de junho.
Fora esse desacordo fundamental, França e Alemanha, considerados os condutores da Europa, têm compartilhado opiniões sobre outros temas. Na primeira reunião entre o novo ministro das Finanças da França, Pierre Moscovici, e seu homólogo alemão Wolfgang Schäuble na segunda-feira em Berlim, eles expressaram um desejo comum da Grécia ficar na zona do euro.