Prêmio Nobel de Literatura vai para chinês com inclinação amigável pelo regime

12/10/2012 19:10 Atualizado: 31/10/2012 19:13
O escritor chinês Mo Yan, o Prêmio Nobel de Literatura de 2012, participa de um concurso literário em Haikou em 25 de março de 2012. (STR/AFP/Getty Images)

A Academia Sueca na quinta-feira deu o Prêmio Nobel de Literatura a um autor chinês que tem relações amistosas com o Partido Comunista Chinês (PCC), atraindo a ira dos internautas, que viram o ato como um “presente” da Academia ao PCC antes do seu 18º Congresso e como uma aparente compensação por prêmios anteriores para dissidentes.

O autor chinês Mo Yan recebeu o prêmio em 11 de outubro, anunciado numa nota de uma sentença que dizia, “com realismo alucinatório funde contos populares, a história e o contemporâneo”.

Mo Yan, um pseudônimo para seu nome verdadeiro, Guan Moye, é mais famoso por um romance chamado ‘Sorgo Vermelho’, que retrata a vida dos camponeses chineses ao longo de quatro décadas, começando em 1930, quando o Japão invadiu a China.

A política, e não estritamente as questões literárias, atraiu comentários online.

Os defensores, como professor Zhang Yiwu da Universidade de Pequim, viram o prêmio como um sinal portentoso. “Esta é uma grande estratégia da Academia Sueca. Pode-se ver que o Comitê do Nobel está considerando as questões de uma perspectiva global. Este prêmio mostra a afirmação do Comitê do Nobel sobre a ascensão da China e é uma confirmação do sucesso da China.”

Outro internauta retrucou, “Por que você não diz simplesmente que este é um presente do Comitê do Nobel para o Partido Comunista pelo 18º Congresso do PCC?”

Um contraste entre as opiniões expressas pelo Partido Comunista sobre este prêmio e um anterior dado ao escritor chinês Gao Xingjian, completamente desprezado pelo regime, que ganhou o mesmo prêmio em 2000, foi vivamente apontado pelos internautas. Naquela época, a mídia estatal porta-voz do regime, o Diário do Povo, disse que o prêmio foi usado “como um instrumento político” e “perdeu sua autoridade”.

Com o sucesso de Mo Yan, o Diário do Povo disse que, “O povo chinês tem esperado por esse dia por muito tempo!”

Escritores dissidentes depreciaram Mo Yan por identificarem sua estreita associação com o oficialato chinês. “Mo Yan” em chinês antigo significa algo como “Não fale” – o nome recebeu interpretação severa dos críticos no contexto da censura, da autocensura e dos benefícios que escritores que semeiam segundo a linha do regime são capazes de desfrutar.

Antes de o prêmio ser anunciado, o proeminente escritor chinês e dissidente Mo Zhixu advertiu os leitores de seu blogue, “Há três coisas que o mundo deve saber sobre Mo Yan se ele ganhar o prêmio: 1. Ele deixou a Feira do Livro de Frankfurt em 2009 em companhia das autoridades chinesas em protesto pela presença do escritor dissidente Dai Qing; 2. Ele se recusou a falar sobre a dura sentença de Liu Xiaobo, o Prêmio Nobel da Paz; 3. Ele copiava à mão o discurso de Mao Tsé-tung sobre as ‘Conversas de Yan’an sobre literatura e arte’.”

A última ação se refere a uma campanha em que os escritores mostravam devoção à ideologia comunista chinesa expressa na famosa conversa de Mao de 1942, em que ele estabelece a linha sobre o propósito das artes sob um regime comunista. O discurso conclui que as artes são para servir ao PCC.

“Parabéns, juízes”, escreveu Mo Zhixu, friamente. “Com essa ação, vocês destroem o Prêmio Nobel de Literatura.”

As obras de Mo Yan, no entanto, frequentemente contêm descrições diretas e desagradáveis das políticas repressivas comunistas, como a política do filho único.

Em 2006, o autor comentou sobre seu caráter e trabalho numa entrevista para a mídia estatal Xinhua, “Na vida comum, eu sou um lacaio, um covarde e um miserável patético, mas quando escrevo romances eu tenho a coragem de um bandido, os desejos de um libertino e uma audácia que é monstruosa.”

Com pesquisa de Ariel Tian.

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