Premiê Wen Jiabao coloca a reforma política na China no centro do debate

07/05/2012 16:40 Atualizado: 06/01/2013 16:43
O premiê chinês Wen Jiabao em sua chegada à conferência de imprensa após o encerramento do Congresso Nacional Popular no Grande Salão do Povo em 14 de março em Pequim (Lintao Zhang/Getty Images)

Os inúmeros discursos do primeiro-ministro chinês Wen Jiabao pedindo reformas políticas indispensáveis para a sociedade chinesa até agora não levaram a mudanças reais no Partido Comunista. Depois do caso recente de Bo Xilai, o primeiro-ministro se posicionou pela reabilitação do Falun Gong e pela retratação dos militantes pró-democracia de 4 de junho de 1989. Esta atitude de uma figura política de alta posição, no contexto da transição para um novo governo no final de 2012, parece anunciar os prelúdios da mudança na China.

Quando Wang Lijun, um ex-chefe da polícia de Chongqing e braço-direito de Bo Xilai, o secretário do Partido Comunista Chinês (PCC) em Chongqing, tentou desertar para o consulado dos Estados Unidos em 6 de fevereiro, ele chamou a atenção da comunidade internacional sobre a colheita forçada de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong realizada pelo regime comunista. Num discurso pronunciado em 2006, ele se gabou de ter supervisionado “milhares” de operações de extração de órgãos quando era chefe de polícia em Jinzhou, na província de Liaoning. Bo Xilai era então governador da província de Liaoning de 2000 a 2004 e chefe de Wang Lijun.

Durante uma reunião interna em Zhongnanhai, a sede do governo de Pequim, sobre o incidente de Wang Lijun, Wen Jiabao denunciou as extrações de órgãos e o envolvimento de Bo Xilai. A província de Liaoning foi identificada em 2006 como o “epicentro” das extrações de órgãos na China.

Segundo Bill Gertz, um jornalista especializado em assuntos de Segurança Nacional dos EUA, um oficial norte-americano declarou que Wang Lijun teria dado informações relacionadas aos planos de Bo Xilai e do chefe da segurança pública chinesa Zhou Yongkang para perturbar a transição do poder para Xi Jinping, armando um golpe de Estado. Após Wang Lijun ser trazido para Pequim para investigação, em 7 de fevereiro, observadores esperavam que o próximo golpe caísse sobre Bo Xilai.

Em 14 de março, Wen Jiabao anunciou numa conferência de imprensa após o encerramento do Congresso Nacional Popular, “O presente Comitê municipal do PCC em Chongqing e o governo municipal devem refletir seriamente e aprender com o incidente de Wang Lijun.” No dia seguinte, a imprensa estatal anunciou que Bo Xilai fora deposto do cargo de chefe do PCC em Chongqing e a agência estatal Xinhua disse que ele fora demitido e posto sob investigação.

Futuro da China

Na conferência de imprensa de 14 de março, Wen Jiabao fez referência a uma batalha tenaz pelo futuro da China advertindo, “Uma tragédia histórica como a Revolução Cultural pode se repetir”, referindo-se a facção maoísta do PCC que defende a repressão e a violência para manter o poder. Em seu discurso, ele indicou que a China deveria avançar na direção da reforma e não regressar para uma política como a da Revolução Cultural. “Sem reforma política, a reforma econômica não poderá ocorrer. Cada membro e oficial do PCC deve sentir a urgência da situação”, disse ele.

O premiê também pressionou pelo fim da perseguição ao Falun Gong e a reabilitação dos militantes pró-democracia de 1989, segundo uma fonte de Pequim. Sua proposta de reforma foi imediatamente contestada por Zhou Yongkang e a facção dirigida pelo ex-líder chinês Jiang Zemin. Este último, que estaria atualmente em estado vegetativo, iniciou a campanha de perseguição ao Falun Gong em julho de 1999 e Zhou Yongkang, o ministro da Segurança Pública de 2003 a 2007 e chefe do poderoso Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL) desde 2007, está profundamente envolvido na implementação da campanha de Jiang Zemin.

Em 26 de março, na conferência anual do Conselho de Estado sobre a corrupção na China, Wen Jiabao explicou porque o maior perigo para o PCC provém desse problema, assunto que ele reforçou para justificar a necessidade de reformar a política na China. “Se esse problema não for resolvido, o poder político poderá escorregar das mãos do PCC e o Partido poderá perder o controle do país.”

Uma fonte em Pequim, conhecedora das circunstâncias do discurso de Wen Jiabao, declarou ao Epoch Times que essa observação foi dirigida a Zhou Yongkang, porque o premiê sempre considerou o CAPL como a maior fonte de corrupção na China. Na sequência dessa conferência, medidas para restringir o poder de Zhou Yongkang sobre o CAPL foram adotadas.

Reabilitando os dissidentes do 4 de junho e o Falun Gong

Segundo fontes de Pequim, Wen Jiabao repetiu nos últimos anos a urgência de reabilitar os dissidentes da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) assim como os praticantes do Falun Gong, dizendo que eles não deveriam mais ser tratados como criminosos, mas serem retratados. Zhang Tianliang, repórter político da emissora NTDTV observou que Wen Jiabao pediu essa dupla reabilitação não apenas porque acredita que é a melhor coisa a fazer dado o tenso clima social atual, com o país vendo manifestações sem precedentes contra as autoridades, mas também porque é uma forma de avançar o projeto de reforma política.

“Segundo Wen Jiabao, reabilitar o Falun Gong permitiria afirmar a liberdade de consciência e a independência do Judiciário, o que é o foco dessa reforma política”, declarou Zhang Tianliang. “Quanto ao movimento estudantil da Praça Tiananmen, ele visa à democracia, que para Wen Jiabao é a forma de sair da atual crise”, acrescentou ele. “O reconhecimento das vítimas do Massacre da Praça Tiananmen diria que o governo admite não ter o direito de utilizar a força militar contra o povo e matar cidadãos para impedi-los de aspirar pela democracia”, afirmou Zhang Tianliang. Segundo ele, renunciar a violência resultaria numa real reforma na sociedade chinesa.

De acordo com uma fonte em Pequim, Wen Jiabao estaria irritado com os crimes da extração forçada de órgãos dos praticantes do Falun Gong. “As extrações forçadas de órgãos sem anestesia e por dinheiro, isso é algo que um ser humano faria?”, teria dito o premiê na reunião com os dirigentes do PCC. “Ações desse tipo ocorreram por vários anos. Estamos prestes a dar um fim nisso, mas ainda não está totalmente resolvido.”

A fonte acrescentou, citando Wen Jiabao, “Agora que o incidente de Wang Lijun é conhecido pelo mundo todo, é possível utilizar isso para punir Bo Xilai e resolver o problema do Falun Gong deveria ser uma escolha natural.”

Shi Zangshan, um especialista em assuntos chineses de Washington DC, declarou ao Epoch Times que Hu Jintao e Wen Jiabao não têm poder suficiente e moral política para combater a facção de Jiang Zemin usando apenas recursos como corrupção e luta interna. Ele disse que Hu Jintao e Wen Jiabao deveriam continuar denunciando os crimes de Jiang Zemin e Zhou Yongkang, pois ganhariam moralmente nas lutas internas do PCC e, com a opinião pública se voltando contra a facção de Jiang Zemin – 100 milhões de chineses são perseguidos, sem se levar em conta suas famílias, amigos, vizinhos, colegas, etc. – eles poderão prevalecer.

Com pesquisa de Jane Lin e Angela Wang.

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