Premiê chinês alerta sobre dificuldades econômicas

30/08/2012 05:29 Atualizado: 30/08/2012 05:29
Chineses a procura de emprego fazem fila numa feira de emprego em Hefei, província de Anhui, leste da China, em 4 de fevereiro. (STR/AFP/Getty Images)

Como a economia da China continua a se contrair e o comércio exterior permanece lento, o premiê Wen Jiabao visitou a província de Guangdong no fim de semana passado para investigar as condições locais. Esta foi a quarta visita regional nos últimos dois meses. Suas observações e outros dados, como a margem de lucro de uma tonelada de aço, mostram que a economia global da China não está crescendo como se esperava.

“As dificuldades econômicas podem continuar por algum tempo.” Esta é a mensagem que Wen Jiabao tem repetido e sublinhado em suas visitas recentes a regiões economicamente críticas no sul e leste da China, incluindo Guangdong, Zhejiang e Jiangsu, e na província de Sichuan no oeste, segundo um relatório oficial.

Desde o início deste ano, a economia da China tem se sido pressionada para baixo, como o crescimento do PIB ano-a-ano de apenas 7,6%, que é o primeiro valor de crescimento inferior a 8% desde o primeiro trimestre de 2009.

A imprensa oficial admitiu isso num artigo de 26 de agosto no Diário do Povo, a mídia porta-voz do regime chinês: “Desde o início deste ano, a economia da China tem estado sob pressão. Influenciada pelo enfraquecimento do mercado internacional, a taxa de crescimento do comércio exterior diminuiu. Especialmente depois de julho, o crescimento das exportações nas principais províncias e cidades costeiras está aparentemente desacelerando.”

Wen Jiabao disse em Guangdong que os principais indicadores, como as novas encomendas de exportação, mostram que as futuras exportações ainda enfrentam dificuldades e incertezas e merecem atenção séria.

A informação divulgada pela Administração Geral das Alfândegas em 10 de agosto mostra que as exportações da China em julho somaram 176,94 bilhões de dólares, um aumento de apenas 1%, muito inferior aos 8% esperados pelos economistas.

A União Europeia (UE) é o maior mercado de exportação da China. No entanto, o porta-voz do Ministério do Comércio da China, Shen Danyang, disse no início deste mês, “O valor do comércio entre a China e a UE declinou seriamente este ano. Isso se tornou o principal fator que afeta a taxa de crescimento geral das exportações da China.”

Wang Yuwen, um pesquisador do Centro de Pesquisa Financeira do Banco de Comunicações, disse que o ambiente de exportação para a China ainda não é otimista. Além de diminuir a procura externa, fatores desfavoráveis incluem um aumento contínuo da taxa de câmbio de curto prazo e o crescimento dos custos laborais na China.

Disputas comerciais com outros países também estão aumentando, informou o Financial Times em 11 de agosto.

O índice PMI do HSBC para a fabricação da China lançado em 23 de agosto caiu nove meses consecutivos, mostrando que a produção estava seriamente deprimida em julho e continua em queda.

O mercado de ações da China caiu quando o novo PMI foi anunciado. O Índice Composto da Bolsa de Valores de Shanghai fechou em sua pior baixa em 31 anos em 24 de agosto, caindo abaixo do limite psicológico de 2.100 pontos.

A recessão econômica é especialmente preocupante para a indústria de ferro e aço. Wang Xiaoqi, vice-presidente da Associação de Ferro e Aço da China, disse em 23 de agosto no “Fórum 2012 da Situação da Demanda e Cadeia de Suprimento Industrial de Carvão da China” que o lucro da venda de uma tonelada de aço é 1,68 yuanes (cerca de 0,26 centavos de dólar).

Tudo isso levou a demissões e fechamento de fábricas. Zhou Dewen, presidente das Pequenas e Médias Empresas da cidade de Wenzhou, na província de Zhejiang, sudeste da China, que tem empresas privadas bem desenvolvidas, disse numa entrevista ao China Times, “A economia real é muito ruim. Encerramentos e fechamentos já atingiram 60% das empresas nas áreas costeiras de Zhejiang.”

Uma resposta à desaceleração econômica é demitir trabalhadores imigrantes de baixa renda. O Caixun publicou em 23 de agosto um artigo intitulado “A maré de trabalhadores imigrantes que retornam para casa é um barômetro da economia”, que disse que os trabalhadores imigrantes costumam voltar para casa antes do Ano Novo Chinês.

Se a economia é lenta, especialmente no comércio exterior, as fábricas não contratarão trabalhadores imigrantes extras, assim, eles terão de ir para casa. Atualmente, entre os 130 milhões de trabalhadores imigrantes na China, 20 milhões de pessoas foram demitidas e voltarão para casa devido a problemas financeiros, uma situação raramente vista na última década.

Para ajudar a situação econômica atual, o premiê Wen Jiabao propôs um aumento na regulação e no controle macroeconômico e melhorias na relevância e eficácia da política econômica.

Yuan Gangming, um pesquisador do Centro para a China na Economia Mundial da Universidade Tsinghua, disse que os comentários de Wen Jiabao refletem o fato de que qualquer queda nas exportações cria pressão econômica substancial. Mas o fato de Wen Jiabao mencionar a necessidade de maior regulação macroeconômica não significa necessariamente que isso acontecerá, disse ele.