Premiado cineasta chinês arruinado por suas alianças políticas

24/05/2013 16:20 Atualizado: 27/05/2013 16:26
Acusado de violar a política do filho-único, o verdadeiro crime de Zhang Yimou foi apoiar Jiang Zemin
O diretor Zhang Yimou durante o 15º Festival Internacional de Cinema de Busan (PIFF) em 8 de outubro de 2010 na Coreia do Sul (Chung Sung-Jun/Getty Images)

Um bem-sucedido diretor de cinema chinês se envolve com os esquemas de propaganda de um ditador brutal. O diretor gozava de uma vida rica e privilegiada, mas depois perdeu tudo quando adversários políticos do ditador acusaram-no de violar as leis do planejamento familiar do país.

Como uma proposta de filme, isso poderia ter interessado o homem que frequentemente foi qualificado como o maior diretor da China – exceto que Zhang Yimou está vivendo esse cenário agora.

Zhang Yimou, como estrelas no negócio do entretenimento na China e em outros países, parecia viver num plano diferente do dos meros mortais, um onde as regras comuns parecem não se aplicar.

Ele era famoso por ter um relacionamento após o outro com belas atrizes e essas ligações algumas vezes terminaram em casamentos e filhos. Na última contagem, Zhang Yimou tinha sete filhos com quatro mulheres diferentes.

Na comunidade cinematográfica da China, o comportamento de Zhang Yimou era considerado uma indiscrição, mas não uma violação, se é que alguém comentaria qualquer coisa.

Mas poucos dias atrás, a imprensa estatal chinesa começou a comentar, alegando ter descoberto mensagens de internet que acusam Zhang Yimou de violar a estrita política do filho-único da China, como se essas postagens de internet fossem necessárias para descobrir fatos que eram amplamente conhecidos.

A imprensa na China é como um cão de guarda bem treinado. Ele late quando ordenado e nunca antes. Zhang Yimou tinha de notar que o aparecimento de sua história na imprensa dizia respeito a antigas conexões no topo do Partido Comunista Chinês (PCC) que estavam voltando para mordê-lo.

Hino ao totalitarismo

Zhang Yimou começou sua carreira como alguém que parecia querer se manter longe da ortodoxia e das políticas de poder do PCC.

Seu primeiro filme “O Sorgo Vermelho” foi imediatamente saudado como uma obra-prima e os críticos responderam de acordo, enquanto seus dois filmes seguintes situavam-se na China pré-comunista. Esta característica e o fato de que Zhang Yimou inicialmente não pôde exibir seus filmes na China, fizeram-no parecer aos olhos de alguns ocidentais como um dissidente.

Isso mudou com seu filme “Herói” de 2002. Anunciado como uma peça de artes marciais, o filme, produzido no estilo visual suntuoso de Zhang Yimou, estabelecia precedentes à submissão do indivíduo ao Estado. Quando Zhang Yimou encontrou sua voz política, foi como um servo do totalitarismo.

Em 2006, Zhang Yimou lançou “A Maldição da Flor Dourada”, parte filme de ação de artes marciais e parte melodrama de figurino. Situado no período final da Dinastia Tang, o filme reivindica mostrar a podridão sob a bela aparência superficial do que é geralmente considerado o ponto mais alto da civilização chinesa.

Para o público chinês, a aparentemente inconsequente “Maldição” era uma séria incursão na propaganda: uma tentativa de desacreditar aqueles que sustentam que a cultura tradicional chinesa é superior à do Partido Comunista.

Quando Zhang Yimou foi escolhido para fazer filmes promocionais sobre a candidatura de Pequim para sediar as Olimpíadas, ninguém se surpreendeu. Zhang Yimou era então parte do establishment cultural da China que naturalmente está jungido ao PCC.

A cerimônia de abertura que Zhang Yimou produziu para os Jogos Olímpicos de 2008 deslumbrou o público, assim como muitos cinéfilos ficaram deslumbrados com “Herói”. Mas os críticos mais astutos viram naquela cerimônia um hino perturbador ao totalitarismo, uma versão chinesa de Leni Riefenstahl.

Numa entrevista ao Semanário do Sul, Zhang Yimou comentaria, mais tarde, sobre sua cerimônia de abertura: “Eu costumo brincar com eles e dizer que nosso desempenho humano é o número dois do mundo. O número um é a Coreia do Norte. Suas performances podem ser tão uniformes! Este tipo de uniformidade produz beleza. Nós, os chineses, podemos fazer isso também.”

Seguidor de Jiang Zemin

A evocação dos prazeres estéticos de uniformidade de Zhang Yimou tem um membro particular da plateia em mente.

Entrevistado pela RFA, o escritor freelance Du Guangda de Shanxi vai direto ao assunto: “Zhang Yimou pode chegar alto. Ele pertence à facção de Jiang Zemin. Seu filme ‘Herói’ foi para apoiar Jiang Zemin, isto é, para justificar a perseguição de Jiang Zemin ao Falun Gong. Quem ousaria desafiar um apoiador tão forte? Mesmo que soubesse, o comitê de planejamento familiar não poderia fazer nada.”

Jiang Zemin foi o líder supremo do regime chinês de 1993-2002. Posteriormente, nos bastidores, ele continuou a exercer o poder, com seus asseclas ocupando cargos de liderança em todo o Estado durante o governo de seu sucessor Hu Jintao.

A iniciativa que distingue Jiang Zemin foi lançar uma campanha para erradicar a prática espiritual do Falun Gong. Como um artigo recente numa revista da China continental deixou claro – um artigo cuja publicação seria impensável anteriormente – que a campanha exigia a tortura brutal e lavagem cerebral de praticantes do Falun Gong.

Sob o olhar de Jiang Zemin, os praticantes do Falun Gong também se tornaram a principal fonte de órgãos utilizados na indústria de transplante em rápida expansão na China.

Zhang Yimou pode nunca ter pretendido ser um apologista da tortura e da colheita de órgãos, mas ele era um apologista de Jiang Zemin. Um artista, que uma vez afirmou não se importar com a política, não apenas sujou suas mãos, mas as cobriu de sangue.

Agora, o patrono número um de Zhang Yimou não pode protegê-lo. Artigos recentes mostram como o poder está se afastando de Jiang Zemin dia a dia.

Liu Tienan, consultor financeiro de longa data de Jiang Zemin, foi destituído há pouco, o último oficial leal a Jiang Zemin alvo do expurgo em câmera lenta que o atual líder chinês Xi Jinping vem realizando.

O caso de envenenamento da então estudante universitária Zhu Ling de 20 anos, em que a ex-companheira de quarto, suspeita do crime, escapou de investigação devido aos laços do pai com Jiang Zemin, agora está sendo revisitado.

A mídia oficial do regime, a mesma mídia que, de repente, descobriu que Zhang Yimou tem sete filhos, está agora zombando de Song Zuying, amante de Jiang Zemin.

Mas o destino de Zhang Yimou ainda está sendo escrito. De acordo com a mídia estatal chinesa, Zhang Yimou pode enfrentar uma multa de US$ 26 milhões. Sua fama e riqueza sem dúvida o protegerão das punições mais severas frequentemente infligidas pelas autoridades do planejamento familiar.

No entanto, como um diretor de cinema premiado internacionalmente e membro do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política Popular da China, Zhang Yimou pareceria intocável.

Mas esse é precisamente o motivo de atacá-lo, para enviar uma mensagem: se Zhang Yimou pode ser derrubado, ninguém está a salvo.

Zhang Yimou dificilmente poderia reclamar de estar sendo prejudicado na engrenagem do Estado totalitário que ele glorificou. Como ele disse ao New York Times numa entrevista no ano passado, “Os estrangeiros pensam que, porque eu fiz a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, eu tenho certos privilégios. Mas na verdade não é nada disso. Diante da censura, todos são iguais.”

Enquanto Zhang Yimou deixa o palco, Jiang Zemin sabe que sua vez está um passo mais perto.

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