Uma nação agrícola, a China pode parecer isenta de preocupações de que o aumento dos preços dos alimentos possa afetar a estabilidade política. No entanto, o preço dos grãos na China está previsto para aumentar de forma constante nos próximos anos e, à medida que os preços sobem, o dilema que o aumento dos preços representa para o Partido Comunista Chinês (PCCh) se intensifica.
O preço dos grãos na China é, em comparação à maioria dos outros países, relativamente independente dos preços internacionais.
Claro, todas as estatísticas oficiais da China, incluindo estatísticas sobre alimentos, devem ser tomadas com um grão de sal. Segundo estatísticas oficiais, a China tem feito melhor do que a maioria das nações em resistir à tempestade da recente onda mundial dos preços dos alimentos.
Chen Xiwen é o diretor do escritório de desenvolvimento rural, um grupo de tomada de decisão sob a égide do PCCh. Ele disse ao Guangzhou Daily em 13 de março que, se compararmos o preço dos grãos em março deste ano a março de 2010, o aumento é inferior a 20%. A média do aumento do preço dos grãos na China foi apenas um quarto ou um quinto da média internacional para o período, de acordo com Chen. Um relatório do FMI diz que os preços dos cereais subiram 60% em 2009-2010.
As estatísticas dizem que a inflação relativamente baixa dos preços dos alimentos na China é devido à sua produtividade agrícola de base familiar.
Em agosto de 2010, o Haitong Securities divulgou um relatório dizendo que a China tem grandes estoques de alimentos. Enquanto o padrão aceito internacionalmente para uma nação é manter estoques entre 17-18% do consumo de alimentos, a China tem estoques de 40%, de acordo com o relatório.
Dados do Ministério da Agricultura mostram que nos últimos 10 anos a produção agrícola da China demonstrou ser 95% autossuficiente em seu consumo de grãos.
Se o aumento dos preços internacionais dos grãos fosse causado por catástrofes naturais ou condições meteorológicas extremas, então o preço dos grãos na China aumentaria devido ao crescimento da demanda internacional.
Em geral, a autossuficiência em grãos na China e amplos estoques de alimentos ajudaram a proteger contra a inflação.
Aumento dos preços e moradores demais nas cidades
No entanto, outras causas estão trazendo elevadas despesas alimentares aos lares chineses.
Entre 2008 e 2010, o regime chinês gastou 4 trilhões de yuanes (586 bilhões de dólares) em estímulos econômicos. O estímulo fez a inflação na China explodir. Segundo o Departamento de Estatísticas chinês, em dezembro de 2010, o preço dos grãos aumentou 14,6% e o índice de preços ao consumidor subiu 4,6%.
O ritmo da urbanização também está colocando pressão sobre o preço dos alimentos.
Quanto mais pessoas moram nas cidades chinesas, a população que não produz alimento aumenta. Com o crescimento da população urbana, o mesmo acontece com a demanda pela compra de alimentos, e o aumento dos preços segue crescendo.
Chongqing, megalópole do oeste da China, planeja adicionar 3 milhões de cidadãos em 2010-2011 e espera que sua população aumente em 10 milhões nos próximos 10 anos. Outras áreas urbanas também esperam registrar aumentos significativos de população.
Mais carne
À medida que a China se torna mais urbanizada, a dieta da população está mudando. O consumo de carne está aumentando.
Segundo o Departamento de Estatística da China, de 1989-2009, a produção de carne, aves e leite aumentou de 3,2 milhões de toneladas para cerca de 14,2 milhões de toneladas, um aumento de 343%, o que equivale a um aumento anual de 7,7%.
Alimentar o número crescente de animais para atender a demanda por carne requer um maior consumo de grãos, particularmente de milho. Dados de dezembro de 2010 mostram que o consumo doméstico de milho na China atingiu 158 milhões de toneladas, um aumento de 13,5 milhões de toneladas comparado com 2009, ou um aumento de 9,3% em um ano.
A crescente demanda doméstica por cereais eleva os preços dos alimentos.
Redução das terras agrícolas
Enquanto a demanda de alimento aumenta, a capacidade agrícola da China, medida em terras disponíveis, está diminuindo gradativamente.
Segundo um artigo do periódico Xinhua de 24 de fevereiro, o Comitê de Agricultura e Assuntos Rurais do Congresso Popular Nacional informou que as terras da China totalizam 1,826 bilhões de mu (300 milhões de acres), o que representa um decréscimo de 123 milhões de mu (20,25 milhões de acres) desde 1997.
Outras fontes dão um panorama do encolhimento das terras cultivadas na China. O China Youth Daily informou que de 2003 a 2008, as terras agrícolas da China diminuíam 0,7% ao ano. Uma pesquisa feita pelo Ministério de Recursos Agrícolas corrobora estes números. Isto mostra que, nos últimos cinco anos, as áreas de plantação na China diminuíram em média 0,65% ao ano.
O decréscimo constante da terra exerce pressão contínua no preço dos alimentos.
Outro incentivo para esperar uma guinada nos preços dos alimentos nos próximos anos envolve o preço do petróleo. 70% do consumo de energia na China depende de importações, assim sendo, as únicas expectativas são de que o preço da energia aumente, já que a demanda mundial também aumenta e a oferta diminui.
O aumento do preço do petróleo levará à subida do preço dos fertilizantes. Além disto, o maior custo dos transportes irá afetar todos os aspectos da vida, incluindo o custo dos alimentos.
Dilema
O previsto aumento no preço dos alimentos vai colocar o PCCh sob pressão crescente. O aumento no preço dos grãos não é tão significativo para a população urbana de alta renda, mas para o grande número de moradores urbanos de baixa renda, o preço dos grãos tem um impacto desproporcional no seu bem-estar.
O regime pode tentar abafar o preço dos alimentos aumentando a liberação de alimentos armazenados. Mas se fizer isto, ele irá suprimir o preço de mercado para os agricultores. O rendimento dos agricultores não será capaz de cobrir os custos de produção, e então os 900 milhões de agricultores chineses se tornarão vítimas da inflação.
Se o PCCh permitir que o preço dos alimentos aumente, então os 400 milhões de moradores urbanos de média a baixa renda serão obrigados a se sacrificar para comprar comida. Qualquer ajuda financeira aos agricultores ou às classes urbanas médias e baixas só irá agravar a inflação, não uma opção viável.
Qualquer que seja o curso que o PCCh siga, o aumento do preço dos alimentos irá agravar ainda mais uma população já impaciente.