Há alguns anos, em alto mar, o filho do Brasil marcou as costas da mãe do PAC com as mãos sujas de petróleo. Esta linda festa foi para comemorar uma grande descoberta: o bilhete premiado do Brasil.
Abaixo da água do mar, da camada pós-sal, da camada de sal, antes do sal (pré-sal), em rochas de cerca de sete mil metros abaixo do solo, estimava-se abundância de petróleo a gerar vultosos investimentos em educação, saúde e para amenizar as desigualdades sociais. Além disso, a oportunidade de conhecer uma riqueza inenarrável que, nunca antes na história deste país, um governo teve a oportunidade de explorar: o slogan “O pré-sal é nosso”.
Em 7 de setembro de 2009, a independência foi decretada por Dom Lula em rede nacional. Tal marca foi grande passaporte. Para o Brasil? Ainda não sabemos. Mas para o poder, com certeza, foi.
Dando continuidade à tática de seu guru, Dilma iniciou sua campanha eleitoral, também em rede nacional — em um espaço público, obviamente. Durante o pronunciamento oficial, a mensagem era clara: “Acalmem-se, podem continuar com a privatofobia de vocês, não privatizarei nada, o pré-sal é nosso”. Um grande papelão!
Complicado foi explicar aos brasileiros que o leilão de Libra, estimada maior reserva de petróleo nacional, foi uma maravilha. Haja habilidade! Dilma teve, apenas, dez minutos para tentar transformar o fracasso em sucesso, já que as grandes empresas do setor — BHP, Exxon Mobil, Chevron, Repsol e Statoil — fugiram do leilão. Das 40 esperadas, apenas quatro se interessaram e todas compondo um único consórcio, sendo duas estatais chinesas — CNPC e CNOOC (que vão representar os interesses do governo “democrático” chinês) — a anglo-holandesa Shell e a francesa Total.
Em meio a vômitos numéricos, Dilma provou ser não só uma especialista no mercado petrolífero, bem como apresentou suas habilidades como clarividente. Ela já sabe o número exato de quanto petróleo tem em Libra, o tempo e o ritmo da exploração, o quanto será investido e o valor do barril dos próximos 35 anos. Ela já tem certeza que o Petróleo vai continuar ocupando o mesmo espaço atual no mercado energético, o óleo de xisto que se cuide.
O governo já sabe até o quanto o país vai lucrar com tudo isso e aproveitou as informações “confidenciais” para dividir o que vai para a educação e o que vai para o combate à pobreza — cerca de R$ 600 bi e R$ 300 bi respectivamente. Não é demais? É de dar inveja a qualquer estrangeiro por não ter uma “governanta” com as mesmas habilidades.
Aqueles que gozam de um pouco de bom senso, sabem que um leilão de um único concorrente, arrematado pelo valor mínimo não é bem um sucesso e a lambança que o governo criou, por motivos ideológicos, foi tamanha que colocou interesses da União e da Petrobrás em situações conflitantes. Se para o governo quanto maior o lance maior o lucro da operação, para a Petrobrás um lance alto traduz-se em mais encargos, já que a participação da empresa é obrigatória de, no mínimo, 30%.
Pois é, os brasileiros têm de comemorar o arremate pelo valor mínimo, talvez tenha sido isso que Dilma quis dizer ao classificar a licitação como um sucesso — foi uma espécie de “Ufa, poderia ter sido muito pior”. Se os chineses ou as empresas privadas aumentassem a oferta, aí sim teríamos que contar com os poderes sobrenaturais do Planalto no caixa da Petrobrás ou com a contabilidade criativa do ministro Mantega, já que o posicionamento atual é de não reajuste do valor do combustível.
Infelizmente, as previsões de Dilma são tão certas quanto à antecipação dos números da loteria. A única certeza é que as empresas terão de pagar o bônus de R$ 15 bi ao governo no próximo mês e que 40% deste montante, R$ 6 bi, sairão da Petrobrás, que já é a empresa mais endividada do setor (R$ 240 bi). Caso a companhia receba aportes do tesouro para pagar a conta, adivinha quem vai colocar a mão no bolso, sr.(a) contribuinte?
Wagner Vargas é jornalista e especialista do Instituto Liberal