Na manhã do dia 7 de setembro, moradores da cidade de Chongqing foram surpreendidos com uma cena incomum: um longo trecho do rio Yangtzé que passa no meio da cidade ficou vermelho, contrastando fortemente com as construções e árvores que se situam às margens do rio. O fato desencadeou uma série de suposições e incertezas, com diversas versões tentando explicar a causa do ocorrido. As autoridades locais afirmam não haver substâncias tóxicas na água e que esta estaria “própria para o consumo humano”. O departamento de preservação ambiental afirmou não haver processo de poluição industrial na região próxima e que a coloração da água seria resultado de sedimentos e minerais trazidos pela correnteza.
Porém, essa explicação não pareceu convencer a população. Nos últimos anos, frequentemente se vê bandos de peixes e crustáceos mortos no rio Yangtzé e moradores locais suspeitam seriamente de grave poluição. Vários pescadores da região dizem nunca ter visto o rio com uma cor daquela, imaginando ser mais uma das consequências dos constantes desequilíbrios ecológicos na área.
Quanto à explicação mirabolante das autoridades, mais uma vez esta foi severamente contestada. Vários internautas questionam a possibilidade de que alguns sedimentos mudassem a cor de um rio da noite para o dia e, principalmente, a viabilidade da água “sangrenta” para o consumo. Devido à fraca explicação do governo local, a população abriu asas à imaginação para explicar o estranho ocorrido. Uma das versões refuta a declaração do governo e aponta para a presença de isótopos de ferro, óxidos de manganês e outros metais pesados na água, como resultado direto da poluição industrial. Defensores dessa tese supõem que o governo nega a existência dessas poluições devido à complexa rede de interesses impublicáveis, celebrada entre autoridades corruptas e empresários de má fé.
Outra versão associa o fato com as recentes turbulências políticas do regime comunista chinês, em especial o caso de Wang Lijun e a queda de Bo Xilai, ambos com passagem política por Chongqing. As tradições populares chinesas acreditam que um mau agouro simboliza algum desastre ambiental ou uma mudança significativa na estrutura social; assim, muitos encaram a mudança de cor do Yangtzé como um indício de uma catástrofe natural ou uma reviravolta política.
Outros afirmam que foi uma resposta da natureza às constantes violações do equilíbrio ecológico, como resultado da urbanização e do “desenvolvimento” chinês nas últimas décadas. No próprio rio Yangtzé, projetos como a represa das Três Gargantas têm sido muito criticados pela falta de planejamento adequado e a negligência a impactos ambientais. Muitos chegaram a associar este episódio com a recente inundação de Pequim, uma cidade que em séculos nunca foi afetada por enchentes, mas que ficou praticamente alagada em poucas horas resultando na morte de inúmeras pessoas e severos danos.
Ainda há outra versão que compara o episódio de Chongqing com a primeira das “Dez pragas bíblicas do Egito”, registradas no livro “Êxodo” da Bíblia cristã. De acordo com os relatos, as “dez pragas” seriam uma punição divina ao faraó egípcio por sua perseguição aos hebreus; assim, muitos associaram o fato à perseguição do regime chinês aos praticantes do Falun Gong, sendo que Bo Xilai e Wang Lijun foram dois líderes desse genocídio. Desse ponto de vista, o fato é encarado como uma prova da injustiça arcada pelos perseguidos: “O sangue dos inocentes mancha a terra e a alma dos malfeitores.”