A desconfiança da mídia oficial está crescendo na China, com internautas liderando o caminho. Considere as questões levantadas na internet sobre as seguintes histórias apenas no mês passado.
Após as cheias de Pequim, o governo municipal aumentou o número de mortos de 37 para 77. Mas as pessoas em Pequim, que viram a devastação da inundação ainda perguntam: Quantas pessoas realmente morreram?
Liu Xiang, um herói nacional e favorito a medalha de ouro, caiu no primeiro obstáculo das preliminares dos 110 metros com barreiras nos Jogos Olímpicos de Londres 2012. O que estava por trás do incidente?
A polícia divulgou uma foto e afirmou que atirou e matou Zhou Kehua, um suspeito assassino serial e o homem mais procurado da China. A foto levantou perguntas de blogueiros online: Zhou Kehua foi morto pela polícia ou por si mesmo? Ou ele nem sequer foi morto?
Suspeitas abundam sobre o julgamento apressado do assassinato cometido por Gu Kailai, esposa de Bo Xilai, um poderoso político chinês recém-deposto do Partido Comunista.
Sejam as perguntas das pessoas respondidas ou não, uma coisa é certa: o regime está perdendo a confiança do povo.
Os comunistas chineses têm um histórico de enganar e mentir sobre grandes eventos, como a Guerra Sino-Japonesa de 1937-1945, a Revolução Cultural de 1966-1976, o Massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) de 1989 e a epidemia de SARS em 2003.
Agora, as pessoas estão se tornando céticas em relação à reportagem das mídias porta-vozes do regime comunista.
De acordo com um artigo do Wall Street Journal, a China Central de Televisão (CCTV) uma vez transmitiu um exercício de treinamento da Força Aérea do Exército da Liberação Popular que um internauta chinês desmascarou. A explosão no vídeo de treinamento combinava uma explosão da cena final do filme “Top Gun” com Tom Cruise.
Hoje, os chineses são capazes de usar a internet para navegar seu caminho para a verdade. Não é tão fácil continuar enganando-os.
Em julho, quando o governo municipal de Pequim exortou aos moradores que doassem para ajudar as vítimas das enchentes, os cidadãos não só rejeitaram a oferta, mas lançaram acusações contra as autoridades, irritados com a corrupção generalizada.
Dentro de duas horas da abertura da conta de doação, ela recebeu mais de 70.000 reclamações. Uma das mensagens mais comuns era “doe sua irmã” (um verbo junto à expressão “sua irmã” é uma maneira chinesa de amaldiçoar).
No início de 2011, após o terremoto e tsunami no Japão, boatos se espalharam de que a China seria atingida por uma nuvem radioativa do acidente nuclear de Fukushima. Foi dito que consumir sal iodado suficiente protegeria contra a radiação.
Embora o governo tentasse por todos os meios esclarecer e anular os rumores, cidades da costa leste, como Shanghai, Pequim e Hangzhou, continuaram a ver longas filas de pessoas em pânico para comprar sal iodado em lojas locais.
Numa sociedade democrática, um governo sem o apoio do povo seria removido. Numa China sem mecanismos democráticos, a desconfiança das pessoas pode ter consequências políticas ainda mais profundas.
Em junho de 2008, uma adolescente foi encontrada morta num rio local do condado de Weng’an, província de Guizhou. As autoridades locais declararam que a menina havia se matado ao pular no rio, mas familiares e moradores acreditavam que a menina foi estuprada e assassinada pelo parente de um alto oficial do governo.
A desconfiança e a raiva alimentada pela forma arbitrária das autoridades locais levaram 10.000 pessoas furiosas a protestarem e incendiarem a sede do governo do condado e carros da polícia. O confronto entre a polícia e os moradores locais chocou as autoridades centrais em Pequim, que depois demitiu o chefe do condado, o presidente do comitê local do Partido Comunista Chinês e o chefe de polícia.
A revolta de Weng’an foi apenas uma manifestação da crescente desconfiança do povo e da subsequente inquietação social. Autoridades comunistas chinesas sitiadas podem ter de responder pela verdade, como numa frase atribuída a Abraham Lincoln: “É verdade que você pode enganar todas as pessoas por algum tempo, você pode até enganar algumas pessoas todo o tempo, mas você não pode enganar todas as pessoas todo o tempo.”
Li Ding, Ph.D. é pesquisador sênior do Chinascope, um grupo de pesquisa de Washington DC que analisa a mídia de língua chinesa.