Especialistas se preocupam com os impactos disso na economia
O Banco Popular da China divulgou um estudo mostrando que a taxa de poupança da China ultrapassou 43 trilhões de yuanes (US$ 7 trilhões) por três meses consecutivos, mais do que dobrando a taxa de 20 trilhões de yuanes de cinco anos atrás. Especialistas econômicos estão preocupados com o impacto que o rápido aumento possa ter na economia global.
Pesquisas realizadas pelo Banco Popular da China mostram que os chineses preferem poupar seu dinheiro nos bancos, em vez de investir em ações, títulos e imóveis. Devido ao aumento das despesas familiares em habitação, educação e saúde, mais famílias fazem poupança por precaução.
Liu Kaiming, diretor do Instituto de Observação Contemporânea, baseado em Shenzhen, atribui o crescimento das taxas de poupança à impressão do governo chinês de grandes quantidades de papel-moeda, que sustenta sua política de estímulo monetário. Apesar do aumento das economias familiares, Liu avisa que isso só se aplica a um pequeno percentual da população.
“O estudo mostra que, apesar da quantidade relativamente elevada de poupança, esta é de fato de propriedade de poucas famílias, ou seja, 20% delas”, disse Liu.
“De fato, sem seguridade social na China, cada família deve economizar dinheiro para a aposentadoria, saúde e educação”, disse Liu. “Geralmente, o rápido crescimento da taxa de poupança nos últimos anos está relacionado com a impressão de dinheiro em grande escala pelo governo, mas os 43 trilhões de yuanes em poupanças não são distribuídos uniformemente.”
O estudo também mostra que a taxa de poupança da China atingiu 50%, o que é muito maior do que a média internacional de 20%. A mídia estatal Xinhua observou que o crescimento da economia da China tem criado um fenômeno de “gangorra” com a flutuação do índice doméstico do mercado de ações.
Na última década, enquanto o mercado de capitais chinês oscilou e o índice do mercado de ações caiu, a taxa de poupança das famílias cresceu rapidamente. O estreitamento dos canais de investimento, combinado com os preços galopantes da habitação, com um sistema de seguridade social subdesenvolvido e com uma perspectiva pessimista para o futuro, contribuíram para a tendência de aumento da poupança familiar.
Zhiwu Chen, um professor de finanças da Universidade de Yale, acredita que a elevada taxa de poupança é uma faca de dois gumes para a economia chinesa.
“Muito moeda emitida faz com que o yuan chinês desvalorize, tornando o aumento da poupança das pessoas significante na superfície, mas, na verdade, ele não consegue refletir um maior poder aquisitivo e nível de riqueza”, disse Chen.
“Há alguns anos, a tendência do Estado estar indo bem enquanto o público ia ladeira abaixo não era tão óbvia, mas hoje as pessoas estão cada vez mais preocupadas com as perspectivas da China, e as incertezas na economia, na sociedade e na política têm aumentado muito”, disse Chen.
Será que esta enorme quantidade de poupança familiar pode ser devidamente digerida pelo sistema financeiro e prover a força motriz necessária para transformar o modelo econômico da China?
O professor Chen acredita que o sistema financeiro estatal chinês só oferece apoio aos governos locais e empresas estatais. No momento, parece que a nova liderança da China não fez grandes mudanças desde que tomou posse.
“Quando as pessoas colocam suas poupanças no banco em vez de investirem, isso certamente agradará os governos locais e empresas estatais. Mas, lamentavelmente, quanto mais isso é feito mais sério se torna o problema econômico-estrutural na China”, disse Chen.
“Nos dados recentemente divulgados sobre macroeconomia da China, especialmente da produção industrial, não há muita diferença essencialmente entre a nova administração [da China] e a antecessora em termos de política econômica”, disse Chen. “Eles ainda têm deixado os governos locais desempenharem um papel de liderança em mais investimentos em infraestrutura.”
O professor Chen acredita que a expectativa do público pelo valor de longo prazo da poupança familiar será ameaçada pelas dívidas do governo chinês e das empresas estatais.
“Seja o governo local, o governo central ou as empresas estatais; no final das contas, suas dívidas certamente terão de ser pagas pelo povo”, disse Chen.
“O problema da dívida dos governos locais não é puramente uma questão econômica, mas definitivamente uma questão política e causada pelo sistema”, disse Chen. “Por isso, não é possível restringir o poder do governo local sem realizar uma reforma constitucional. A razão fundamental é que o poder executivo e o poder do governo estão fora de controle.”
O diretor Liu também acredita que as flutuações na economia chinesa tornarão mais difícil para as famílias em geral sobreviverem apenas em função de poupanças.
“O governo chinês e as empresas compartilham uma dívida de cerca de 120 trilhões de yuanes (US$ 19,6 trilhões), o que significa que uma vez que uma grande flutuação econômica ocorra, 43 trilhões de yuanes (US$ 7 trilhões) em poupanças não serão suficientes para compensar a enorme dívida do governo, das empresas estatais e das famílias chinesas”, disse Liu.
“Por isso, a maioria das famílias chinesas – mais de 80% – têm economias muito pequenas, insuficientes para resistir a eventuais desastres naturais, doenças e até mesmo lidar com os custos da educação. Este é um problema muito sério”, disse Liu.
O Prof. Chen concorda e observa que, embora as altas poupanças familiares ofereçam potenciais de investimento para o desenvolvimento econômico da China, se a administração do líder chinês Xi Jinping e do premiê Li Keqiang não puder mudar o modelo tradicional de desenvolvimento e crescimento econômico baseado em alto investimento do Estado e voltado para a exportação, a reestruturação econômica da China será bem difícil de alcançar.
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