Postura mais dura sobre Bo Xilai emerge de Pequim

12/09/2012 09:42 Atualizado: 12/09/2012 09:42
Bo Xilai, o ex-chefe do PCC em Chongqing, durante a cerimônia de encerramento do Congresso Nacional Popular, em Pequim, em 14 de março de 2012. (Mark Ralston/AFP/Getty Images)

Esta última semana em Pequim foi inundada com rumores sobre uma série de eventos, incluindo relatos de uma tentativa de assassinato. O que vem acontecendo não está claro.

Porém, uma coisa é clara: Durante sete meses, a questão fundamental enfrentada pelo Partido Comunista Chinês (PCC) tem sido o destino de Bo Xilai, o desgraçado ex-chefe do PCC na megalópole centro-oeste de Chongqing. A leitura das folhas de chá sugere que os recentes e intrigantes eventos em Pequim serão entendidos em referência a uma alteração no tratamento do caso de Bo Xilai.

A seguir estão alguns dos eventos da semana passada que Pequim e todo o mundo têm discutido.

Em 3 e 4 de setembro, o chefe da segurança pública chinesa Zhou Yongkang, cujo poder o atual líder chinês Hu Jintao e o primeiro-ministro Wen Jiabao trataram de restringir, investigou o sistema legal de Hefei, incluindo o Tribunal Intermediário de Hefei.

Nesse tribunal, o julgamento de homicídio de Gu Kailai, a mulher de Bo Xilai, foi realizado em 10 de agosto. A aparição de Zhou Yongkang em Hefei significaria sua aprovação ao tratamento relativamente brando dado a Gu Kailai no julgamento?

Em 4 de setembro, a secretária de Estado norte-americana Hilary Clinton começou uma visita de dois dias à China. De acordo com um alto funcionário sênior do Departamento de Estado dos EUA, o provável próximo líder chinês Xi Jinping cancelou um encontro com Clinton “por motivos de agendamento inesperados”, provocando rumores sobre uma brecha entre os Estados Unidos e a China, uma tentativa de assassinato contra Xi Jinping por rivais políticos chineses ou uma condição de saúde prejudicada por dores nas costas.

Em 5 de setembro, a mídia estatal Xinhua anunciou que Wang Lijun, o ex-vice-prefeito e chefe de polícia de Chongqing, foi formalmente acusado de quatro crimes.

Em 7 de setembro, a Reuters publicou uma reportagem exclusiva sobre conversas realizadas ao longo das últimas seis semanas em que Xi Jinping disse ao reformista Hu Deping, filho do chefe do PCC e reformista Hu Yaobang, sobre a necessidade de se mover mais rapidamente em direção à reforma.

“Não há questão diplomática pequena”

A adivinhação continua sobre o cancelamento da reunião agendada de Xi Jinping com a secretária Clinton.

Em 9 de setembro, o website dissidente Boxun citou uma fonte não especificada relatando que Xi Jinping cancelou todas as atividades diplomáticas para se concentrar na preparação do 18º Congresso do PCC. Outra suposição menos popular é que Xi Jinping intencionalmente cancelou a reunião com Clinton para mostrar descontentamento com a posição dos EUA sobre a questão do Mar do Sul da China. E foi dito que Xi Jinping tinha um problema nas costas.

Estas explicações são muito improváveis. Na China, quase todos conhecem a famosa regra introduzida pelo falecido premiê Zhou Enlai, “Não há questão diplomática pequena.”

O cancelamento urgente de uma reunião de Estado agendada com visitantes estrangeiros é considerado um insulto para o convidado e, portanto, inaceitável. Isso praticamente nunca aconteceu antes, mesmo durante a era Mao.

Além disso, a China não estaria infeliz com Cingapura ou Rússia e Xi Jinping também cancelou reuniões no mesmo dia com o primeiro-ministro da Cingapura e um oficial russo.

Rumores que circularam por vários dias no serviço de microblogue Weibo deram uma razão mais grave para o cancelamento das reuniões: Foi dito que houve uma tentativa de assassinato contra Xi Jinping.

Em 8 de setembro, o Boxun citou uma fonte não confirmada dizendo que o carro de Xi Jinping foi atingido por duas caminhonetes na noite de 4 de setembro. O artigo foi tirado do ar em menos de duas horas. Xi Jinping teria sido levado para o hospital 301 e estaria em condição estável.

O mesmo relatório afirmou que He Guoqiang, o membro do Comitê Permanente do Politburo, o grupo de nove homens que dirigem o PCC, se envolveu em outro acidente uma hora após o incidente com Xi Jinping e estaria em estado crítico.

He Guoqiang lidera o secreto Comitê Central de Inspeção Disciplinar e conduzia a investigação de Bo Xilai. Tanto Xi Jinping como He Guoqiang teriam desempenhado um papel importante na deposição do Bo Xilai.

Aterrissagem suave

Não muito tempo depois que Wang Lijun fugiu de Chongqing em 6 de fevereiro buscando asilo no consulado dos EUA em Chengdu, Bo Xilai foi despojado de seus cargos no PCC e submetido a severa investigação pelo PCC. No entanto, nos últimos meses, foi sinalizado que Bo Xilai teria uma aterrissagem suave.

Bo Xilai foi uma figura-chave na poderosa facção criada pelo ex-líder chinês Jiang Zemin e estaria destinado ao Comitê Permanente do Politburo. Durante a estadia de Wang Lijun no consulado dos EUA, ele teria revelado uma tentativa de golpe planejada por Bo Xilai e Zhou Yongkang contra Xi Jinping, depois que este assumisse o poder no 18º Congresso do PCC.

Depois que Wang Lijun foi levado sob custódia das autoridades centrais do PCC, Bo Xilai não foi acusado de qualquer tentativa de golpe. Em vez disso, sua esposa Gu Kailai foi acusada pelo assassinato do empresário britânico Neil Heywood ocorrido em novembro de 2011, um crime que Wang Lijun acobertou na época, até mesmo retendo provas incriminatórias.

O julgamento de Gu Kailai no mês passado pareceu ser gerido de forma favorável a ela e Bo Xilai. O nome de Bo Xilai não apareceu no julgamento, exceto que a mídia estatal se referiu a ela como “Bo-Gu Kailai”.

O tribunal pareceu aceitar as justificativas de Gu Kailai pelo crime e suspendeu a sentença de morte. Depois de dois anos, a sentença pode ser comutada por prisão perpétua e ainda reduzida por bom comportamento, a critério do tribunal.

Em setembro, a revista Open Magazine de Hong Kong publicou uma reportagem exclusiva que os principais líderes do PCC chegaram a um acordo que Bo Xilai será removido de todos os seus cargos no PCC, mas manteria sua afiliação ao PCC e ficaria isento de sanções penais. A decisão teria sido feita na reunião em Beidaihe, que foi um último encontro a portas fechadas antes do 18º Congresso do PCC.

A decisão em Beidaihe seria necessária para preservar o equilíbrio de poder na liderança do PCC e prevenir seu colapso.

Outro sinal de que Bo Xilai teria uma aterrissagem suave foi o anúncio em 31 de agosto de representantes do Congresso Nacional Popular: Bo Xilai estava na lista.

Visando Bo Xilai

As perspectivas de Bo Xilai mudaram de repente em 5 de setembro com o anúncio das acusações contra Wang Lijun.

As quatro acusações seriam: usar a lei para fins egoístas, deserção, abuso de poder e aceitar suborno. Anteriormente, foi sugerido que o caso de Wang Lijun seria acusado somente com deserção.

Ao descrever a acusação de usar a lei para fins egoístas, o promotor afirmou: “[Embora Wang Lijun] soubesse de antemão que Bo-Gu Kailai estava sob suspeita grave de assassinar Neil Heywood, ele conscientemente negligenciou seu dever e inclinou a lei para ganho pessoal, de modo que Bo-Gu Kailai não foi responsabilizada legalmente.”

Embora esta acusação pareça razoável, isso contradiz a acusação de deserção. Isso também aponta para Bo Xilai. Se Wang Lijun voluntariamente deu cobertura para Gu Kailai, ele não tinha motivo para desertar para o consulado dos EUA.

Se Wang Lijun não encobriu Gu Kailai voluntariamente, ele deve ter feito isso sob pressão. Que Wang Lijun teria chantageado Bo Xilai é inconcebível. Mas Bo Xilai poderia recompensar Wang Lijun e ele é o único em Chongqing que poderia pressionar Wang Lijun.

A descrição da acusação de abuso de poder também vincula Bo Xilai. Segundo os promotores, “Wang Lijun usou ilegalmente medidas técnicas de reconhecimento, ou sem a aprovação das autoridades ou falsificando documentos de aprovação.”

Wang Lijun tinha a posição mais alta na polícia de Chongqing, ele era a autoridade que emitia ou assinava documentos de aprovação em Chongqing. Escutar conversas telefônicas de líderes do PCC estava fora da jurisdição de Wang Lijun e é algo que ele e Bo Xilai teriam feito amplamente.

Wang Lijun realmente não tinha motivo para espionar. Ele era apenas um chefe de polícia provincial e não tinha muita oportunidade por si mesmo para saltar para uma posição a nível nacional.

Bo Xilai, no entanto, visava o Comitê Permanente do Politburo ou acima e tinha todos os motivos para querer saber os segredos dos atuais membros do Comitê Permanente. E Wang Lijun tinha todos os motivos para ajudar a ascensão da estrela política de Bo Xilai.

Wang Lijun teria cometido muitos crimes, incluindo, milhares de colheitas de órgãos e experimentos de transplante em praticantes vivos do Falun Gong; tortura, às vezes até a morte, de vítimas da campanha antimáfia de Bo Xilai (que envolveriam opositores políticos e empresários para fins políticos e de apropriação de seus bens); estuprar mulheres policiais; e assim por diante.

As acusações contra Wang Lijun não foram por infringir a lei, mas para satisfazer a necessidade política. Essa mesma necessidade exige que as acusações sejam explicadas ao público uma vez que sejam apresentadas.

Uma simples acusação de deserção era tudo que era necessário para o PCC fazer o que quiser com Wang Lijun. Fazer outras acusações apenas causa problemas desnecessários para o PCC, a menos que as acusações adicionais estejam preparando o terreno para acusar Bo Xilai.

Dois dias depois de Wang Lijun ser acusado, o relato das conversas privadas de Xi Jinping com Hu Deping foi publicado.

Embora Xi Jinping tenha falado principalmente sobre como lidar com os problemas enfrentados depois que ele assumir a liderança, Xi Jinping mencionou que não era aliado de Bo Xilai. O caso de Bo Xilai seria tratado estritamente segundo a disciplina do PCC e a lei.

É bem provável que seja a primeira vez que Xi Jinping, ou qualquer outro dirigente da liderança além de Wen Jiabao, tenha mencionado a tratamento de Bo Xilai de acordo com a lei. Xi Jinping, provavelmente, também foi o primeiro a se distanciar de Bo Xilai desde que o escândalo começou.

Ninguém de fora das altas paredes vermelhas do complexo da liderança do PCC em Zhongnanhai saberia ao certo o que aconteceu em Pequim na semana passada. A mudança de tom sobre Bo Xilai poderia ser o resultado de um curso traçado por Xi Jinping ou pode ser uma reação em desenvolvimento. Uma coisa é certa, o jogo está apenas começando.