Um patriota chinês comum lidera um protesto anti-Japão equipado com um colete à prova de balas e um fone de ouvido do tipo policial. Um policial do Partido Comunista Chinês (PCC) lidera protestos anti-Japão, incitando a multidão com seu alto-falante dizendo, “Derrubem os ímpios japoneses”.
Internautas chineses têm estado muito interessados em quem está por trás disso, desde que a informação surgiu online nos últimos dias, revelando que pelo menos alguns dos protestos anti-Japão que abalaram a China na última semana podem ter sido deliberadamente organizados.
Desde a semana passada e especialmente no fim de semana, os protestos contra os japoneses na China têm sido crescente.
O recente gatilho das manifestações foi o anúncio do Japão que nacionalizaria as ilhas Senkaku, um arquipélago desabitado e rochoso no Mar da China Oriental cuja propriedade é disputa com a China.
Os japoneses proclamaram numa conferência de imprensa por meio do chefe de gabinete Osamu Fujimura que comprariam as ilhas de um proprietário particular japonês em 10 de setembro “para garantir a manutenção e gestão pacífica e estável”.
Apesar de muitos chineses discordarem das reivindicações territoriais do governo japonês sobre as ilhas Senkaku e especialmente com seu movimento ousado de adquiri-las formalmente, muitos online expressaram consternação com a resposta violenta da parte dos chineses.
Carros japoneses foram sabotados, esmagados, incendiados e virados; restaurantes japoneses foram saqueados; supermercados japoneses foram vandalizados; num exemplo, um japonês teve sua tigela de macarrão quente jogada em seu rosto e, recentemente, protestos em massa encheram as ruas.
Mas internautas-detetives estão levantando questões.
Protestos organizados
Internautas investigadores dizem que uma trama pode estar em andamento, indicando homens que parecem policiais e oficiais do PCC liderando os protestos.
Internautas se concentraram num homem usando o que seria um colete à prova de balas e o um fone de ouvido policial, mas, além disso, existem outros exemplos do que internautas chamam de envolvimento suspeito do governo.
Um líder do protesto foi identificado como Zhu Gu, um membro do PCC e diretor de uma delegacia de polícia em Xi’an. Quando uma imagem composta do homem no protesto com uma imagem do oficial que se assemelhava muito foi publicada no Sina Weibo, um serviço popular de microblogue na China, ela foi rapidamente eliminada pelos censores da internet.
Um usuário do Weibo que escreveu, “Preste atenção neste homem. Ele é o líder principal do grupo que virou três carros na Estrada Sul de Huancheng”, enquanto indicava a imagem, teve sua conta bloqueada posteriormente.
Huang Yi, um âncora da emissora TV Sul (Nanfang Dianshitai), postou sua própria análise detalhada dos vários participantes do protesto. A última coluna lista “policiais à paisana”, que foram divididos nos que “tentam impedir a destruição” e os que “destroem as coisas”. Ele disse, “Os atos caóticos me deixam furioso.”
Houve protestos em mais de 57 cidades chinesas, segundo o World Journal, um jornal chinês publicado fora da China.
Um número de outros usuários do Weibo observou que muitos dos manifestantes não eram locais, não tinham passes de trem e não falavam a língua local. Um morador de Guangzhou suspeitou que eles fossem enviados de fora da cidade para criar problemas.
Em muitas cidades, policiais uniformizados e outras forças de segurança mantiveram os manifestantes em alguma aparência de ordem, em contraste com a atitude das autoridades chinesas que esmagam qualquer protesto contra o governo.
E em contraste com o tratamento de ajuda dado aos manifestantes anti-Japão, protestos organizados por grupos democráticos foram dispersos. Zou Wei, um membro de um partido democrático em Guangzhou, foi colocado em prisão domiciliar após apresentar um pedido para realizar uma manifestação anti-Japão.
Oficiais do Partido Comunista mantêm-se próximos dos protestos, na tentativa de assegurar que não sejam cooptados por grupos que preguem mensagens em desacordo com as do regime, segundo Huang Qi, o diretor do website chinês de direitos humanos 64tianwang.com.
“Eles estão preocupados que o foco do protesto possa mudar se os dissidentes estiverem presentes e que o protesto possa até se direcionar à corrupção das autoridades”, disse Huang Qi à Rádio Som da Esperança.
A mão invisível
Um usuário do Weibo, em sintonia com os sinais de luta política na China, escreveu, “Em primeiro lugar, quem pode controlar a polícia militar, policiais à paisana e a segurança pública em todo o país? Segundo, quem pode controlar as televisões de todo o país para ficarem em silêncio? Terceiro, quem pode controlar o Sina Weibo e apagar mensagens logo que aparecem? Esse alguém deve ser quem está por trás destes incidentes violentos em todo o país.”
A teoria mais proeminente sobre quem é esse “alguém”, é que sejam linhas-duras no aparato de segurança e de propaganda que estão alinhados com o ex-líder chinês Jiang Zemin; muitos atribuem a seu legado político a implementação da perseguição à prática espiritual do Falun Gong.
Embora alguns analistas e fontes indiquem que os arranjos para a transição da liderança chinesa que ocorrerá no fim deste ano já tenham sido determinados, a ausência recente de Xi Jinping, o indicado próximo líder do regime, e a disputa com o Japão podem ter dado a este grupo linha-dura uma abertura para explorar e pressionar por maior poder, segundo analistas.
Um artigo publicado no Boxun, um website dissidente em língua chinesa no estrangeiro, disse que oficiais da segurança e partidários do político chinês deposto Bo Xilai têm apoiado os protestos num esforço para adiar o 18º Congresso Nacional do PCC e dar à linha-dura mais tempo para negociações de pessoal.
Xia Xiaoqiang, um colunista e analista da política chinesa baseado em Washington DC, disse, referindo-se a este grupo, “Seu objetivo final é preservar a posição política de sua gangue, para que tenham uma chance de tomar o poder.”