Por que o regime chinês quer expulsar jornalistas ocidentais agora

10/12/2013 13:35 Atualizado: 10/12/2013 13:35

Foi amplamente divulgado que os repórteres americanos na China estão tendo problemas para obter seus vistos de residência renovados e podem em breve ser forçados a deixar o país. À medida que mais consumidores de notícias prestam mais atenção à China, notícias sobre a China tem maior valor.

No ano passado, o New York Times publicou um artigo sobre a riqueza da família do então primeiro-ministro Wen Jiabao. O artigo do NY Times ganhou um Prêmio Pulitzer. O que seria aparentemente um tipo de vitória para a mídia ocidental na China, na verdade serviu como evidência tangível das manobras políticas dentro da China. O artigo também serviu como uma advertência sobre como uma empresa de mídia de destaque pode estar alheia à forma como é usada como uma ferramenta por forças políticas.

Os Estados Unidos desenvolveram mais laços de todos os tipos com a China. Muito do que os americanos compram é produzido na China, e a China é a maior detentora da dívida dos EUA (além do Tesouro dos EUA). O que está ocorrendo na China tem grande importância para os americanos.

A mídia em nações livres deveria nos ajudar a entender o que está ocorrendo ao redor do mundo, mas a China é um osso duro de roer. Até mesmo os ocidentais que viveram lá por um longo tempo podem não entender o que ocorre lá.

Em resposta às ameaças de expulsar jornalistas ocidentais, estes jornalistas começaram a falar sobre os direitos da imprensa. Eles estão dizendo que a China deve respeitar os direitos da imprensa mundial ou, pelo menos, a China deve permitir o mesmo número de jornalistas norte-americanos que os Estados Unidos recebem da China.

Ao falar sobre seus direitos, os jornalistas abordam este problema da China de uma perspectiva ocidental. Eles não podem ver as verdadeiras razões por que a China quer chutar os jornalistas norte-americanos neste momento histórico particular.

Política não como de costume

Desde que Xi Jinping se tornou líder supremo da China, ele tem sido como um capitão tentando dirigir um navio gigante – algumas pessoas chamam-no de “Titanic” – em meio a uma grande tempestade. Ele tem se esforçado para evitar que o navio afunde. Qualquer impulso extra em qualquer direção pode ser fatal.

Este ano, Xi iniciou uma campanha anticorrupção. Nos últimos 10 anos, essas campanhas têm sido uma guerra pelo poder que é disfarçada sob o nome de anticorrupção. No governo do ex-líder chinês Jiang Zemin, o Partido Comunista Chinês (PCC) estimulou a corrupção. O sistema foi configurado de tal forma que nenhum governo possa fazer qualquer coisa sem corrupção.

Com este sistema, Jiang Zemin poderia fazer o que quisesse com as pessoas. Todos os níveis de funcionários do governo eram tão corruptos que ninguém queria qualquer mudança que interferisse em sua oportunidade de enriquecer.

No julgamento do político chinês desgraçado Bo Xilai no início deste ano, pôde-se ver como as acusações de corrupção são usadas. Ele foi acusado de corrupção grande o suficiente para mandá-lo para a cadeia, mas pequena o suficiente para não fazer o povo chinês sentir ressentimento excessivo pelo PCC. As acusações de corrupção eram apenas uma ferramenta para liquidar a oposição na guerra pelo poder.

Quaisquer jornalistas ocidentais que participem em expor a corrupção de funcionários de alto escalão são participantes inconscientes numa brutal luta de poder e ao fazer isso eles estão atirando no escuro.

As informações de corrupção são extremamente complexas e ocultas. Não é algo que um jornalista ocidental possa cavar facilmente, e muito menos entender. Quando um jornalista consegue obter algumas informações, não está claro se a informação é uma completa cilada.

Momento orquestrado

No ano passado, a Bloomberg publicou um artigo sobre a riqueza da família de Xi Jinping. O artigo do NY Times sobre a riqueza da família de Wen (mencionado acima) foi publicado no exato momento em que Wen Jiabao e o então líder chinês Hu Jintao estavam derrubando Bo Xilai. Infelizmente, esses dois artigos resultaram em armadilhas criadas pela facção de Zhou Yongkang e a informação certamente foi fabricada.

Bo Xilai era aliado do chefe da segurança pública chinesa Zhou Yongkang. Por meio do poder que Zhou exercia no Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), ele controlava todo o sistema jurídico, o sistema de segurança pública e as prisões e campos de trabalho forçado. Eles construíram um forte relacionamento com os principais websites na China, e também estabeleceram relações com a mídia no Ocidente.

Zhou e Bo tinham um plano completo para tomar o poder na China. Eles planejaram por muito tempo difamar Wen Jiabao e Xi Jinping, e seu esquema foi bem preparado.

O artigo do NY Times foi publicado no momento exato e como Zhou Yongkang queria. Quando Zhou se viu ameaçado pela prisão de Bo, o artigo do NY Times causou problemas para a facção de Wen Jiabao, Hu Jintao e Xi Jinping.

Na China, a mídia sempre foi uma arma controlada pelos altos oficiais do PCC. Zhou e Bo controlavam sistematicamente a mídia, incluindo a internet chinesa. O Google ter perdido espaço para o Baidu na China fazia parte do jogo, porque o Baidu era mais fácil para eles manipularem.

O artigo da Bloomberg sobre Xi Jinping e o artigo do NY Times sobre Wen Jiabao tiveram efeitos diretos sobre a luta pelo poder na liderança do regime comunista chinês.

A mídia ocidental deveria falar sobre seus direitos. Eles deveriam exigir que o regime chinês respeite a imprensa e deveriam reportar tão implacavelmente quanto possível dentro da China. Ao mesmo tempo, os jornalistas ocidentais deveriam aprender a não ser usados como instrumentos das lutas internas pelo poder da China.

Em geral, quando os jornalistas ocidentais falam com os chineses na China e reúnem informações altamente sensíveis, como a riqueza das famílias dos líderes do PCC, é altamente possível que seus encontros e conversas tenham sido cuidadosamente arranjados.

O PCC está numa situação muito frágil. Xi Jinping entende isso. E ele está se esforçando para manter o “Titanic” à tona. Se qualquer compartimento extra rachar, o navio-PCC afundará imediatamente. Ele não terá nenhuma dificuldade em ignorar os direitos da imprensa ocidental, se achar que isso ajudará a manter o navio à tona um pouco mais.

Ninguém tem os direitos respeitados na China e a mídia ocidental não deveria se surpreender se, caso se intrometam intencional ou inadvertidamente na luta pelo poder, for posta para fora.