Por que Birmânia deve permanecer o nome do país

06/07/2012 11:00 Atualizado: 06/07/2012 11:00

Aung San Suu Kyi, a líder da oposição na Birmânia, dirige-se a ambas as Casas do Parlamento no Salão de Westminster, em 21 de junho, em Londres, Inglaterra. (Dan Kitwood/Getty Images)A comissão eleitoral da Birmânia disse a líder da oposição Aung San Suu Kyi para parar de chamar o país de Birmânia e, ao invés disso, chamá-lo de Mianmar, seu nome oficial. A senhora objeta.

Num comunicado publicado em ‘A Nova Luz de Mianmar’, a comissão eleitoral repreendeu Aung San Suu Kyi, afirmando, “Como está prescrito na Constituição que ‘o Estado deve ser conhecido como a República da União de Mianmar’, ninguém tem o direito de chamar o país de Birmânia.”

Aung San Suu Kyi está em seu direito e deveria continuar a fazê-lo, a fim de expressar o que tem sido a condenação mundial do regime militar da Birmânia.

O desacordo sobre como chamar o país acompanhou a viagem de destaque de Aung San Suu Kyi à Europa, onde ela continuamente chamou o país de Birmânia. Observadores acreditam que as autoridades estão tentando se afirmar depois que Aung San Suu Kyi, que lidera a ‘Liga Nacional para a Democracia’ (LND), foi amplamente elogiada durante sua viagem.

Enquanto a comissão eleitoral informou à LND “para referir-se ao nome do Estado conforme prescrito na Constituição […] e respeitar a Constituição”, Nyan Win, o porta-voz da LND, respondeu declarando que chamar o país de Birmânia “não constitui desrespeito à Constituição”.

Há uma longa história por trás dessa discordância.

Em 1989, a junta militar governante na época decretou que o país deveria mudar seu nome de União da Birmânia para União de Mianmar. O movimento foi aparentemente destinado a apaziguar grupos étnicos minoritários não-birmaneses.

Mais tarde, o nome foi modificado para República da União de Mianmar. No entanto, os que se opõem aos militares, incluindo Aung San Suu Kyi, ignoraram a modificação e continuaram a chamar o país de Birmânia, para a evidente irritação dos militares.

O antropólogo Gustaaf Houtman, um especialista em política da Birmânia, escreveu, “Há um termo formal que é Mianmar e o informal cotidiano que é Birmânia. Mianmar é a forma literária, que é cerimonial e oficial e cheira a governo.”

Grupos de oposição locais preferem usar o nome antigo e coloquial, pelo menos até a Birmânia ter um governo legítimo.

Destemida pela crítica de seu governo, Aung San Suu Kyi continuou usando o nome de Birmânia durante sua visita à Grã-Bretanha e Noruega. Vários países ocidentais, incluindo a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, continuam a chamar o país de Birmânia em declarações não oficiais de apoio ao movimento pela democracia no país.

Algumas pessoas, como Derek Tonkin, ex-embaixador da Grã-Bretanha para a Tailândia e presidente do grupo Rede Mianmar, sugere que a Grã-Bretanha e os Estados Unidos devem agora chamar o país de Mianmar para reconhecer o progresso do país em direção à democracia.

No entanto, como a filha de Aung San, considerado o pai da moderna Birmânia e um lutador incansável pela democracia e os direitos humanos em seu país, Aung San Suu Kyi tem mais autoridade moral do que qualquer um para chamar o país pelo seu nome antigo.

Há uma forte conotação emocional e moral no nome Birmânia. O país deve continuar a ser chamado de Birmânia até a volta da democracia efetiva e até que um referendo nacional seja conduzido sobre como chamá-lo. Se isso enfurece as forças armadas, será um preço pequeno a se pagar pela brutalidade que há décadas elas desencadearam no país.

O Dr. César Chelala é um vencedor do Prêmio ‘Overseas Press Club of America’.