Por que autoridades chinesas estão se matando?

04/02/2015 00:02 Atualizado: 04/02/2015 00:02

Apesar da riqueza e do poder associados com a vida de burocrata estatal na China, ser uma autoridade do regime comunista é mais perigoso do que se poderia esperar.

Desde o 18º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), realizado no final de 2012, um número incomum de autoridades chinesas “morreu de causas não naturais”, segundo um anúncio recente do Departamento de Organização do PCC.

Estatísticas semelhantes foram amplamente divulgadas online na China em 2013, atribuídas a um relatório interno do Comitê Central de Inspeção Disciplinar (CCID), a agência anticorrupção do PCC.

De acordo com o suposto relatório do CCID, mais de mil oficiais do PCC cometeram suicídio, enquanto 6 mil “desapareceram” e outros 8 mil fugiram para o estrangeiro. Nenhum período específico para esses casos foi apresentado no documento.

A mídia estatal China Youth Daily relatou as mortes não naturais de 54 funcionários, dos quais 23 teriam se suicidado, entre o início de 2013 e abril do ano seguinte. Esses editoriais geralmente apresentam a causa do suicídio como depressão clínica, enquanto a especulação pública coloca a culpa na ampla campanha disciplinar que está sendo conduzida pela atual administração do regime.

Em meados de janeiro, o Departamento de Organização do PCC ordenou um inquérito estatístico sobre as mortes não naturais entre funcionários chineses desde o 18º Congresso do PCC, conforme relatado pela Radio France Internationale (RFI).

Foi no 18º Congresso do PCC que o atual líder chinês Xi Jinping assumiu o comando do regime. Sob Xi Jinping, o CCID, que Xi encarregou de promover sua campanha de expurgo político em andamento, já investigou ou puniu mais de 70 mil funcionários chineses.

Funcionários que enfrentam medidas disciplinares têm boas razões para se desesperarem. Refletindo hábitos de longa data do PCC, os agentes de combate à corrupção frequentemente conduzem suas investigações sem restrições legais antes de entregar os funcionários ao sistema judicial. Neste processo, conhecido no linguajar comunista chinês como ‘shuanggui’, os funcionários podem ser detidos por longos períodos, durante os quais muitas vezes são espancados e torturados, para extrair confissões. Às vezes, a agência disciplinar terceiriza o trabalho para bandidos sádicos.

Suicídios de todos os tipos

Lou Xuequan, um oficial lotado na cidade de Nanjing, enforcou-se em setembro passado. Lou era um assessor próximo de Yang Weize, o chefe do PCC na região que agora está sob investigação por corrupção. De acordo com o website do CCID, Lou estava sob séria pressão política, levando à especulação de que seu patrono Yang o teria levado ao suicídio na vã tentativa de evitar ser implicado.

As forças armadas também estão sob pressão enquanto passam por uma limpeza. Em 1º de dezembro, Ma Faxiang, um comissário político da Marinha do Exército da Libertação Popular, foi cremado num cemitério estatal em Pequim. De acordo com a mídia estatal, Ma morreu de doença em Pequim em 13 de novembro, mas outras mídias e testemunhas locais na capital disseram que ele se matou pulando de um prédio.

Song Yuwen, vice-comissário político da Região Militar de Jilin, no Nordeste da China, cometeu suicídio no ano passado, mas não houve explicação oficial para sua morte.

Em 2 de setembro, o almirante Jiang Zhonghua do Departamento de Armamento da Frota do Mar do Sul foi encontrado no telhado de um hotel na cidade de Zhenjiang, província de Jiangsu. Ele também pulou para a morte.