Por que a questão Wang Lijun–Bo Xilai é importante

22/02/2012 01:07 Atualizado: 20/12/2012 01:12
Gangster se vinga do Partido Comunista
Wang Lijun, o ex-chefe da Secretaria de Segurança Pública de Chongqing, numa reunião do Congresso Nacional Popular no Grande Salão do Povo em Pequim, China, em 6 de março de 2011 (Feng Li/Getty Images)

Comentário

Alguns eventos mudam o modo com vemos as coisas: O que parecia permanente se revela como sendo passageiro e instituições que pareciam sólidas estão se desintegrando.

Tal evento transformador foi uma visita repentina do oficial chinês Wang Lijun ao consulado dos EUA em Chengdu em 6 de fevereiro. O Epoch Times tem examinado em vários artigos o histórico e as implicações do acontecimento iniciado por Wang Lijun.

Wang Lijun foi o ex-vice-prefeito e chefe de polícia da cidade-província de Chongqing, no Centro-oeste da China. De acordo com um funcionário do governo dos EUA citado pelo website Washington Free Beacon (WFB) e segundo o website dissidente de língua chinesa Boxun, Wang Lijun foi a Chengdu para desertar, mas os EUA se recusaram a lhe dar asilo.

Investigação e fuga

O conto da tentativa de deserção de Wang Lijun soa como uma história de espionagem.

Em 2 de fevereiro, Bo Xilai, o chefe do Partido Comunista Chinês (PCC) em Chongqing, retirou Wang Lijun de sua posição de chefe de polícia e rebaixou-o de primeiro vice-prefeito para sétimo vice-prefeito, encarregado do meio ambiente e da educação.

De acordo com o Boxun, Bo Xilai tinha um informante no Comitê Central de Inspeção Disciplinar (CCID), um órgão poderoso e secreto do PCC que investiga e pune suspeitos de corrupção. O informante disse a Bo Xilai que o CCID, que é dirigido por seus inimigos, havia iniciado uma investigação sobre Wang Lijun.

Wang Lijun foi o capanga de Bo Xilai durante o reinado de cinco anos deste em Chongqing. Entre outras tarefas, Wang Lijun chefiou a campanha de Bo Xilai de “atacar o preto”, que seria uma campanha antimáfia, mas foi usada como arma política.

Empresários foram presos e suas riquezas expropriadas. Oficiais do PCC escolhidos pelo antecessor de Bo Xilai, Weng Qiang, também foram presos e o antecessor de Wang Lijun na chefia da Secretaria de Segurança Pública de Chongqing foi executado. Críticos dizem que Wang Lijun visava apenas as gangues que Bo Xilai não controlava.

Wang Lijun, então, sabia literalmente onde os corpos estavam enterrados em Chongqing. Bo Xilai percebeu que o CCID estava tentando derrubá-lo ao investigar Wang Lijun e, assim, Bo Xilai pôs seu aliado de longa data de lado. Bo Xilai prendeu 19 associados próximos a Wang Lijun. De acordo com Boxun, vários foram torturados, dois foram mortos e um teria se suicidado.

Bo Xilai designou policiais para monitorarem seu ex-braço-direito dia e noite. Wang Lijun, que conhecia o destino de seus ex-subordinados, parecia imperturbável em público. Numa entrevista em 5 de fevereiro, ele falou calmamente sobre os desafios de sua nova função, mas Wang Lijun temia que pudesse ser assassinado a qualquer momento.

No dia 6 de fevereiro, ele usou um disfarce, passou pelos policiais acampados fora de seu prédio, entrou num carro civil regular e começou sua viagem de quatro horas em direção a Chengdu. Usando um celular temporário, ele ligou para o consulado dizendo que estava a caminho e que queria uma entrevista.

Vingança no consulado

Wang Lijun passou mais de 24 horas no consulado. O WFB citou o ex-funcionário John Tkacik do Departamento de Estado, que quando servia na China lidou com muitas pessoas que chegavam solicitando asilo, dizendo que Wang Lijun só teria sido mantido durante a noite a fim de ser interrogado.

Enquanto isso, Bo Xilai descobriu a fuga de Wang Lijun e enviou o prefeito Huang Qifan, que cercou o consulado dos EUA na manhã de 7 de fevereiro com 70 viaturas policiais, incluindo veículos blindados, segundo o jornal Mingpao de Hong Kong.

O consulado dos EUA havia informado Pequim sobre a presença de Wang Lijun e, então, vários oficiais de alto escalão voaram para Chengdu. Eles ordenaram que as forças de segurança nacional de Sichuan dispersassem a polícia de Chongqing, que partiu ao meio-dia.

Naquela noite, Wang Lijun deixou o consulado e foi levado sob a proteção de Qiu Jin, um vice-ministro da segurança de Estado. A Rádio France Internationale (RFI) informou que, quando Wang Lijun deixou o consulado, ele gritou para a multidão que era o “cordeiro sacrificial” de Bo Xilai e que havia transferido informações importantes para o estrangeiro.

Em 9 de fevereiro, de acordo com um artigo do website Caixin, Wang Lijun foi colocado sob investigação pelo CCID do PCC.

A fuga de Wang Lijun para Chengdu não foi somente para autopreservação, tratava-se de vingança.

De acordo com o WFB, “Uma fonte familiarizada com o interrogatório de Wang Lijun disse que havia detalhes de corrupção e ligações de seu chefe Bo Xilai com o crime organizado, assim como detalhes da repressão policial chinesa sobre a dissidência.”

O Boxun informou que Wang Lijun afirmou que Bo Xilai e Zhou Yongkang, um poderoso membro do Comitê Permanente do Politburo, conspiravam para derrubar o indicado próximo líder chinês Xi Jinping, logo que ele assumisse o poder no 18º Congresso Nacional do PCC em novembro.

Evitando responsabilidade

O PCC sempre teve certo nível de luta entre facções. Em 1998, o ex-prefeito de Pequim, Chen Xitong, foi preso, supostamente por corrupção, mas, na verdade, foi porque a facção liderada pelo ex-líder chinês Jiang Zemin queria ele fora do caminho. Em 2008, o prefeito de Shanghai, Chen Liangyu, foi também preso acusado de corrupção, mas na verdade foi uma maneira do líder chinês Hu Jintao enfraquecer a facção de Jiang Zemin.

Mas desde que o avião de Lin Biao, que sucederia Mao Tsé-Tung, explodiu sobre o deserto da Mongólia enquanto ele fugia num avião russo, não houve relatos credíveis de um plano de golpe na China.

Lin Biao provavelmente acreditava que para preservar o PCC, ele precisava destituir Mao. Wang Lijun não era devoto de qualquer ideologia; ele era um gangster com um título decorativo que comandava um elaborado esquema de extorsão numa das maiores cidades chinesas.

Arthur Waldron, um reconhecido professor de Relações Internacionais da Universidade de Pensilvânia, escreveu num e-mail ao Epoch Times, “Eu tenho dificuldade para enxergar o que mantem o PCC junto por mais tempo – exceto o desejo de manter o poder e se enriquecer.”

Enquanto o regime chinês parece acumular poder rapidamente na forma de riquezas e alta-tecnologia militar, de fato, a criminalidade dos líderes e o desejo pelo poder os estão separando.

A arma que os oficiais do PCC usam um contra o outro é o conhecimento que têm sobre os crimes uns dos outros. Mas, hoje dia, não existe crime maior do que a perseguição de quase 13 anos do PCC ao Falun Gong.

A tentativa de evitar responsabilidade por essa tremenda violação dos direitos humanos está forçando alguns oficiais a manterem o poder para se protegerem. O constante fluxo de vazamento na internet sobre Bo Xilai e Wang Lijun nessas últimas duas semanas demonstrou que outros oficiais têm reagido publicando irregularidades de seus camaradas.

Neste processo de desintegração, o Prof. Waldron adverte que nenhuma esperança deve ser atribuída a qualquer indivíduo ou facção.

Ele escreve, “Meu maior medo com respeito aos EUA é que comecemos a tomar partido na política interna chinesa. […] O efeito final disso será amarrar a política norte-americana, que é constitucional, à chinesa, que é pessoal, ditatorial e corrupta.”

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