Por que a má sorte está atacando Jackie Chan?

03/02/2011 00:00 Atualizado: 03/02/2011 00:00

Jackie Chan durante a première do filme “Caratê Kid” no The Odeon Leicester Share em 15 de julho de 2010, em Londres, Inglaterra. Chan tem usado sua celebridade para promover o Partido Comunista Chinês e tem sofrido uma onda de má sorte. (Dave Hogan/Getty Images)

Seu trabalho recente inclui ser propagandista do regime chinês

Jackie Chan se tornou uma estrela a nível mundial em filmes que combinam kung fu, talento para a comédia, e seu sorriso cativante. Nos últimos anos, Chan tem usado sua fama para promover o Partido Comunista Chinês (PCCh) e tem sofrido uma série de eventos infelizes.

Nativo de Hong Kong, Chan viu sua popularidade despencar em sua terra natal em agosto de 2010 depois de comentar sobre os oito turistas de Hong Kong que foram mantidos reféns e posteriormente mortos num assalto a um ônibus em Manila, nas Filipinas.

Falando como um embaixador do turismo de Hong Kong, Chan disse no Twitter: “Estas coisas sempre acontecem ao redor do mundo.” Em outro de seus “tweets”, disse: “Hong Kong é uma nação construída por muitas pessoas diferentes… não se preocupem! Nós não odiamos!”

Os comentários incomuns de Chan fizeram com que muitos cidadãos de Hong Kong se perturbassem. Disseram que tinha sangue frio e o chamaram de “a vergonha de Hong Kong”. Alguns até mesmo suspeitaram que Chan favorecia às Filipinas devido a interesses comerciais. Chan escreveu em seu blog no Sina.com em 16 de agosto de 2006 que havia começado um negócio naquele país e foi recebido por um oficial de alto escalão do governo.

Um dos recentes filmes de Chan, Karate Kid, fracassou em Hong Kong recolhendo apenas 690 mil HKD (89 mil USD) nos primeiros quatro dias de seu lançamento. O filme The Emerald and The Pearl, que recebeu apenas críticas médias, foi lançado no mesmo dia e arrecadou mais que o dobro.

Pouco tempo antes do lançamento de Karate Kid, em meados de julho de 2010, Chan também foi criticado por apoiar a maior empresa produtora de shampoo de ervas na China, Bawang, que foi acusada de ter elementos cancerígenos misturados em seus produtos, o 1,4-dioxano. A frase de Chan, “Sem químicos adicionados”, tornou-se uma espécie de piada na internet.

Um cidadão animado fez uma lista de todas as marcas que tinham sido aprovadas por Chan e encontrou vários problemas, concluindo que “todos os produtos chineses aprovados por Jackie Chan estão condenados”.

Participação na China continental

A imagem e popularidade de Chan começaram a ir ladeira abaixo depois de mudar o foco de seus negócios para a China continental em 2005.

Para desenvolver seus negócios rapidamente ali, Chan aprendeu a colaborar com o PCCh, e por sua vez, o PCCh também notou que a popularidade de Chan podia ser útil para promover a si mesmo.

Esta cooperação começou em outubro de 2000, quando Chan se tornou o primeiro embaixador das tentativas Olímpicas de Pequim. Mais tarde, ele filmou um vídeo promocional, assistiu à cerimónia de anúncio do logotipo dos Jogos Olímpicos, e juntou-se à celebração do início da contagem regressiva de 1.000 dias para os Jogos.

Depois que Pequim foi escolhida para sediar os Jogos de 2008, Chan se envolveu ativamente em várias promoções, gravou uma canção para o regime onde contava o ano que faltava para os Jogos Olímpicos e logo outra que fazia a contagem regressiva dos últimos 100 dias para os Jogos Olímpicos. Ele foi uma das celebridades escolhidas para cantar a última música da cerimônia de encerramento.

Chan defendeu em diversas ocasiões a ditadura política de Pequim. Ele também foi um dos escolhidos para carregar a tocha no revezamento da tocha olímpica, e criticou aqueles que queriam interromper a turnê para chamar a atenção para os abusos dos direitos humanos na China. “Eles estão fazendo isto sem motivo. Eles só querem brilhar na TV”, disse Chan.

Em 18 de abril de 2009, durante um painel de discussão no Fórum Boao para a Ásia, Chan disse: “Se você é muito livre, você é como Hong Kong é agora. É muito caótico. Taiwan também é caótico.”

“Estou gradualmente começando a acreditar que nós chineses precisamos ser controlados. Se não estamos sendo controlados, apenas fazemos o que queremos”, disse ele.

Propagandista do Regime

Os elogios de Chan ao regime comunista tornaram-se explícitos em 28 de fevereiro de 2009 quando ele lançou a canção “Nação”, que marca o sexagésimo aniversário da fundação da China comunista.

A letra de “Nação” confunde o amor do povo chinês pela China com o amor pelo PCCh, e representa o domínio do PCCh como um reflexo da vontade do povo chinês.

A letra diz: “A família é o menor país, a nação é dezenas de milhares de famílias”. Um informe da agência de notícias Xinhua, considerada a porta voz do regime comunista, disse que a música “expressa o amor da nação pelo seu povo e o afeto das pessoas pela nação” e “há uma ressonância harmônica entre a vontade do povo e o afeto de uma família”.

Chan foi o autor intelectual do projeto, do planejamento à gestão dos recursos. Ele cantou “Nação” com a cantora Liu Yuanyuan, apelidada de “A cantora da Bandeira Vermelha”, famosa por cantar músicas que se relacionam com o regime comunista como “os poemas dos tempos”.

Em entrevista exclusiva em 22 de abril de 2009 publicada pelo Xinhua, ele falou sobre a forma como dirigiu a equipe de produção da canção. O Xinhua e o Sina.com também criaram páginas oficiais em seus sites para a “Nação”, o que é muito incomum.

Em 2010, Chan ainda abraçou o papel de propagandista do regime investindo 200 milhões de yuanes (30 milhões de dólares) para reconstruir uma ópera da Revolução Cultural chamada “Capturando o Tigre da Montanha com Estratégia”. Esta história, originalmente aprovada para ser mostrada pela esposa de Mao, é um simples trabalho de propaganda política que glorifica o Exército Popular de Libertação.

Se Chan diz acreditar no budismo, e se for assim, deve acreditar na existência da retribuição. Ao olhar para trás em seu recente período de má sorte, você pode avaliar se a retribuição está em ação.

Recentemente, muitas pessoas que têm promovido o Partido Comunista Chinês na China e no Ocidente têm experimentado má sorte. Este artigo é parte de uma série que descreve estes casos.