Por que a Al-Jazeera foi expulsa da China

22/05/2012 03:00 Atualizado: 22/05/2012 03:00

Charles Lee, um praticante do Falun Gong que passou três anos na prisão e em campos de trabalho, foi apresentado no documentário da Al-Jazeera em inglês, o que contribuiu para a emissora ser expulsa da China. (Al-Jazeera em inglês)O recente fechamento do escritório da Al-Jazeera em inglês em Pequim teve mais a ver com o movimento da Primavera Árabe do que com Melissa Chan, de acordo com um escritor chinês.

A correspondente da Al-Jazeera, Melissa Chan, foi forçada a deixar a China quando autoridades chinesas recusaram-se a renovar suas credenciais de imprensa e visto no início deste mês e recusaram permitir que a Al-Jazeera enviasse um substituto. O Clube de Correspondentes Estrangeiros da China disse que ficou chocado com a expulsão de Chan.

He Qinglian, um proeminente autor chinês e economista que vive nos EUA, disse em seu último artigo que as hostilidades entre Pequim e a Al-Jazeera não são a respeito de Chan. A verdadeira razão para a expulsão de Chan da China tem a ver com a mudança da relação entre a Al-Jazeera e Pequim, de “amigos e modelos” para “inimigos”.

A Al-Jazeera foi vista por Pequim como uma aliada por sua forte postura anti-EUA, disse He Qinglian. Essa amizade durou até o movimento da Primavera Árabe de 2011, segundo ele. Durante a primavera de 2011, a Al-Jazeera, conhecida como a “CNN do mundo árabe”, relatou sobre a revolução que Pequim desprezava tanto, e ficou do lado dos manifestantes.

Na época, Ezzat Shahrour, o principal correspondente da Al-Jazeera em Pequim, escreveu uma postagem no blogue intitulada, “Dez mil perguntas que um homem árabe tem para a mídia chinesa”. Shahrour disse, “Através da cobertura da mídia chinesa sobre o incidente na Líbia, o mundo claramente pode ver ruir a credibilidade da mídia chinesa e a falta de um senso de responsabilidade e consciência que uma mídia deve ter.”

Após a expulsão de Chan, a mídia estatal chinesa Xinhua.net publicou um artigo dizendo, “A demissão do diretora da Al-Jazeera está possivelmente relacionada com a CIA.”

NetEase, uma empresa de internet chinesa, que opera o popular portal 163.com, também criticou a Al-Jazeera, desde suas fontes de financiamento até sua perspectiva jornalística, num artigo intitulado, “Al-Jazeera fingindo ser independente”.

He Qinglian disse em seu comentário, “Distanciando-se dos valores universais, o regime chinês transformou-se num órfão internacional […] A relação de décadas com Pequim, de ser tratada como uma doce amiga, a ser expulsa como inimiga, deve ter confundido seriamente a Al-Jazeera.”

Melissa Chan cobriu questões delicadas na China, como prisões negras, abortos forçados, encontros de monges, a corrupção e o despejo de terra forçado. Num artigo de despedida “Adeus à China, país de contradições”, Chan disse que seus artigos sobre a China não violavam qualquer norma chinesa, e que esperava poder retornar à China.

Um internauta chinês “Moko” comentou sobre o artigo de Chan em seu microblogue no Sina Weibo dizendo, “Ela não violou qualquer lei escrita na China. Mas ela violou a maior lei chinesa, o pensamento de seus líderes.”