Milhares de cidadãos de Hong Kong estão planejando seu futuro em outro lugar, enquanto uma onda de emigração aumenta, na esteira dos acontecimentos políticos recentes.
De acordo com agentes de emigração, os fatores que estão motivando as pessoas a saírem de Hong Kong incluem: a má qualidade do ar, os preços caros dos imóveis, o ambiente competitivo na educação das crianças e o estresse da vida lá. No entanto, as mudanças políticas parecem ser o principal fator a acelerar a emigração.
Mary Chan, um membro da Sociedade Canadense de Consultores de Imigração e chefe da filial de Hong Kong da agência de migração internacional Rothe International Canada, disse que nos últimos dois meses, seu negócio aumentou entre duas e três vezes.
Em 10 de junho, o regime chinês publicou um livro branco que afirmava que o Partido Comunista Chinês tinha muito mais autoridade sobre os arranjos políticos de Hong Kong do que previamente era autorizado pelo princípio de ‘um país, dois sistemas’. Esse princípio deveria vigorar por 50 anos desde que o Reino Unido entregou a cidade em 1997 para a China.
O povo de Hong Kong reagiu com indignação e pelo menos 500 mil se juntaram a marcha anual pela democracia de 1º de julho apesar da chuva pesada.
Após a marcha de 1º de julho, o número de consultas de emigração no website da agência de Chan aumentou drasticamente de 2 ou 3 por dia para 10 ou mais consultas diárias. Porque não há pessoal suficiente para lidar com tantas solicitações, a empresa enviou cartas aos clientes, sugerindo que, se estão com urgência, eles devem consultar outras empresas. Ao mesmo tempo, eles planejam empregar mais pessoas para expandir o negócio.
O número de pedidos que a empresa recebeu este ano é o dobro do ano passado. No início de 2014, a empresa decidiu aumentar a taxa de serviço em 40%, a fim de filtrar os clientes e evitar uma grande carga de trabalho.
A experiência da sra. Dong da Jade Land Properties, uma empresa imobiliária especializada em vender imóveis canadenses em Hong Kong, parece similar a da sra. Chan. A Jade Land realizou uma exposição de imóveis em Hong Kong sobre Vancouver, Canadá, no final de junho, e a resposta foi esmagadora. A principal faixa de preço para as casas em destaque era de 600 a 700 mil dólares canadenses.
Cerca de 60% dos participantes já estavam muito familiarizados com Vancouver. “Muitos deles têm cidadania canadense e sabem muito bem sobre os preços dos imóveis em diferentes áreas de Vancouver”, disse Dong. “Os participantes ou pretendem voltar para o Canadá ou emigrar para o Canadá, e planejam comprar sua primeira casa lá antes da conclusão do processo de emigração.”
“As pessoas podem sentir que Hong Kong mudou, que ela já não é a Hong Kong que foi um dia”, disse Chan. “Pense nisso, (Pequim prometeu que) não mudaria Hong Kong em 50 anos. No entanto, as pessoas têm notado a mudança. O processo de assimilação pela China foi iniciado, mas pode haver algumas pessoas que não aceitam isso.”
De acordo com a Secretaria de Segurança, no primeiro semestre de 2013, cerca de 4 mil pessoas emigraram de Hong Kong. No primeiro semestre de 2014, o número seria 10% maior. Quanto os números aumentaram desde que o livro branco foi publicado é desconhecido.
Emigrantes talentosos
Os três principais destinos dos emigrantes de Hong Kong são a Austrália, Estados Unidos e Canadá. Nos últimos anos, Taiwan, Coreia do Sul, Sudeste Asiático e Europa também se tornaram áreas-alvo para emigração. Segundo a experiência de Chan com a emigração para o Canadá, Hong Kong parece estar sofrendo uma espécie de “fuga de cérebros”.
O Canadá tem atualmente trabalhado qualificado, comércio especializado e programas de imigração para classe experiência (a classe experiência oferece a oportunidade de imigração para indivíduos que têm experiência de pelo menos um ano de trabalho no Canadá numa função qualificada ou técnica).
Depois da marcha de 1º de julho, Chan disse que os candidatos atuais no programa de imigração qualificada do Canadá são todos da elite de Hong Kong, incluindo diretores de escola, banqueiros, especialistas em publicidade, técnicos em aviação e muito mais. A maioria dos candidatos são casais em que ambos têm mestrado.
“Alguns têm até três graduações, há também doutores, ganhando normalmente mais de HK$ 1 milhão [US$ 129 mil] por ano”, disse Chen.
Recentemente, estrangeiros que viviam em Hong Kong por anos também têm perguntado sobre a imigração para o Canadá para suas famílias. De acordo com Chan, no passado, este tipo de processo era muito raro.
Chan disse que a agência inclusive tratou de casos de emigração algumas celebridades.
“Eles têm muito bom rendimento. Você não imaginaria que eles desejariam ir embora, porque ninguém os reconhecerá por lá e eles não serão capazes de ganhar esse tipo de renda. Mas eles planejam se aposentar de qualquer maneira, mesmo que ainda sejam relativamente jovens. Como diz o ditado, eles ganharam o suficiente, essa é a mentalidade”, disse Chan.
Funcionários do governo
Chan também revelou que as autoridades de Hong Kong com altos cargos também entraram na fila de emigração, mas normalmente eles são bastante discretos. Esses candidatos geralmente não resolvem o processo por si mesmos.
“Todos requerem que suas esposas ou secretários entreguem seus documentos a nós”, disse Chan. “Não é conveniente mostrar seus rostos e eles não querem que outros os vejam. Além de funcionários de Hong Kong, há também autoridades chinesas. Eu entendo que a China não tem sido muito estável recentemente. Se as esposas têm um histórico de negócio, suas esposas serão as candidatas.”
Houve inclusive um cliente que alegou ser o parente de um alto funcionário chinês que tinha acabado de deixar o cargo.
“Mesmo que alguns funcionários comunistas prefiram ir para grandes países como os EUA ou o Canadá e assim por diante, se eles não se encaixam nos critérios, a agência prontamente sugere que emigrem para países menores no Mar do Caribe, porque as aprovações de ativos são mais flexíveis e é mais fácil obter residência no futuro nesses países”, disse Chan.
Na filial de Hong Kong da Rothe International Canada, cerca de 30% dos clientes são da China continental, o restante é de Hong Kong.
O sr. Chen, de 26 anos, é um fotógrafo que falou com o Epoch Times numa rua do distrito comercial central sobre a ambivalência que muitos em Hong Kong sentem. “Eu ainda sou jovem e não pensei sobre a emigração. Considerarei isso quando eu tiver 30 anos. Enfim, eu cresci aqui, por isso estou emocionalmente ligado a Hong Kong”, disse Chen.
“Eu posso sentir que Hong Kong perdeu uma grande dose de liberdade e não é muito harmoniosa agora. Após a liberação do livro branco, podemos sentir que o regime comunista quer mudar Hong Kong à força, o que é muito ruim. Se eu vier a deixar Hong Kong, eu escolherei Taiwan ou o Canadá.”