População de Donetsk reage contra separatistas pró-Putin – Parte 1

12/06/2014 16:07 Atualizado: 12/06/2014 19:19

A manobra político-militar de Moscou para a anexação da Crimeia se repetiu como um decalque nas regiões de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia. As regiões escolhidas pareciam ser as mais sensíveis ao apetite russo de desmembrar a Ucrânia.

Segundo pesquisa do Pew Research Center, efetivada na primavera de 2014, 70% dos ucranianos do leste – onde se fala muito russo, em proporções diversas segundo a região – não desejavam separar-se da Ucrânia, e apenas 18% aprovariam uma anexação pela Rússia. As proporções, entretanto, mudavam muito de acordo com a região.

Segundo sondagem do Kyiv International Institute of Sociology, realizada no período de 8 a 16 de abril de 2014, na região de Dnipropetrovsk, 84,1% responderam contra a anexação pela Rússia e 10,1% a favor. As proporções se assemelhavam em Zaporizhia (81,5% contra e 6,2% a favor); Kherson (84,6% contra e 3,5% a favor); Odessa (78,8% contra e 7,2% a favor); Kharkiv (65,6% contra e 16,1% a favor); Mykolayiv (85,4% contra e 7,2% a favor). (Dados completos aqui.)

Putin havia sondado antes e escolheu como alvo duas regiões onde o sentimento ucraniano estava mais debilitado: Donetsk (52% contra a anexação e 27,5% a favor) e Lugansk (51,9% contra e 30,3% a favor). A mídia ocidental passou a sensação de uma avançada implacável no plano de anexação do Kremlin, com ocupações de prefeituras, delegacias, quarteis, aeroportos, etc., em diversas cidades como Slaviansk, Kramatorsk, e na própria capital regional que leva o mesmo nome de Donetsk.

Essa sugestão midiática fazia acreditar que todo o leste ucraniano estava na goela de Putin, enquanto o exército ucraniano era incapaz de pôr fim ao movimento secessionista! Porém, algo começou a andar mal para o agressor. Os dias se passavam e o separatismo não atingia seus objetivos.

Na verdade, houve um referendo em Donetsk e Lugansk que aprovou a separação. Mas ninguém o levou a sério, exceto o mandante de Moscou, que poucos dias antes havia pedido de modo enganador para não realizá-lo. Até que em 6 de maio alguns jornais informaram que centenas de milhares de trabalhadores saíram às ruas de pelo menos cinco cidades, inclusive na capital regional, Donetsk, tomando o controle das ruas e banindo os militantes pró-Rússia, que pareciam ter consolidado o poder na cidade.

Essas centenas de milhares de trabalhadores de minas e siderúrgicas, em vibrante manifestação de patriotismo, disseram “basta” à manobra pró-russa. Mineiros e metalúrgicos tornaram-se a força dominante em Mariupol, a segunda maior cidade.

Os trabalhadores – que não portavam arma alguma, apenas vestiam suas roupas de serviço – disseram que estavam fora da política e tentavam somente restaurar a ordem. A maioria da grande mídia ocidental abafou este enorme fato: a Rússia havia perdido a batalha da opinião pública na região que lhe era mais favorável!

Poucos jornais brasileiros reproduziram a notícia que, entretanto, circulou em alguns grandes órgãos do exterior muito ecoados no País, como o “The New York Times”. (ver Diário da Manhã, 6/05/2014) Essa virada veio se acentuando de diversos modos, inclusive no militar. De modo astuto, Putin não engajou tropas do exército russo. Ele as acumulou na fronteira, de onde promoveu provocações e fez muita bravata.

Porém, envia extra-oficialmente para a Ucrânia milícias com mercenários altamente treinados, que servem como instrumento de repressão dentro da Rússia, na perfeita ilegalidade – uma espécie de PCC da “nova URSS” a serviço do chefe formado na KGB. Estes mercenários causaram sensíveis baixas ao exército ucraniano.

Um comandante dessas milícias, o qual se faz chamar pelo nome de “Bes” (que significa demônio), falando em russo para a VICE News, assumiu a responsabilidade de um ataque mortífero.

(continua)

Luis Dufaur edita o blog Flagelo Russo

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