Há três décadas, o “excedente masculino” causa transtornos demográficos
Atualmente, na China continental, há 20 milhões de homens com menos de 30 anos a mais do que mulheres da mesma faixa etária, revelando uma desproporção crescente e duradoura entre os sexos, o que deixa de ser um problema meramente demográfico e constitui num grave distúrbio social. Especialistas apontam que, na próxima década, em média, a cada ano entrarão em idade de casamento um milhão de homens a mais do que mulheres, o que é visto como um perigo profundo, comparável ao “baby boom” em meados do século XX.
Segundo a imprensa chinesa, o departamento populacional e de planejamento demográfico do governo chinês observou uma queda por três anos seguidos (2009-2011) na discrepância entre os sexos na população chinesa, chegando a 117.78 homens para 100 mulheres. Tal estatística ainda está 10% acima do limite considerado “perigoso”, uma vez que a meta convencionada pelas Nações Unidas é de 103 a 107 nascimentos de homens para 100 nascimentos de mulheres, considerando que a taxa de mortalidade infantil masculina tende a ser maior do que a feminina. Num cenário dentro da meta fixada, teoricamente, o número de homens e mulheres em idade de casamento se equivaleria.
Atualmente, levantamentos indicam que há 20 milhões de homens a mais do que mulheres na China continental, o que faz a China ser um dos países com maior distorção de gênero na pirâmide populacional. Aliado à política do filho único, esse cenário representa um drástico envelhecimento da população e insuficiência de mão-de-obra em longo prazo, colocando os chineses nascidos após 1980 numa situação complicada: o iminente fardo de sustentar idosos economicamente inativos e a crescente dificuldade de constituir laço matrimonial, devido à “escassez” feminina e um grotesco “excedente” masculino. O índice mais aberrante da desigualdade entre os sexos é o de 2008, que indicou 120.56 homens para 100 mulheres.
Além dos problemas em longo prazo, a desproporção entre os gêneros gera graves problemas sociais imediatos, como efeito de ressonância das circunstâncias de 30 anos atrás. Devido à “tradição” chinesa de casamento entre um homem com maior status social do que a mulher, duas distorções complementares surgiram: o excesso de “solteirões” em áreas rurais e atrasadas e de “solteironas” em zonas urbanas e grandes cidades. Com o crescimento descontrolado dos “solteirões” em áreas pobres, o tráfico de mulheres tornou-se uma atividade recorrente. No sul da China, em regiões próximas à fronteira com o Vietnã, o tráfico de noivas vietnamitas tornou-se uma atividade bastante lucrativa. Com a grande expansão na demanda, o preço acompanhou o crescimento, elevando-se de 2 a 3 mil yuanes para 50 a 200 mil yuanes em menos de 20 anos. Propagandas do “negócio” tomaram conta, tornando-se anúncios corriqueiros como “Não se preocupe com a barreira idiomática, nem com a discordância dela [mulher vietnamita]” e “Garantia de produto [mulher vietnamita] na mão em três meses, perdas [fuga da mulher] dentro de um ano serão restituídas”.
Pesquisas têm sido realizadas por instituições especializadas e universitárias e revelam uma profunda deturpação na estrutura demográfica chinesa. Numa pesquisa realizada em 369 vilarejos representativos em 28 províncias, foi constatado que há, em média, 9 “solteirões” por vilarejo, com uma média etária de 41.1 anos de idade. O percentual cresce de leste para oeste, sendo 2.26% em regiões ao leste e 3.21% em regiões a oeste. Especialistas apontam que, em 2020, haverá aproximadamente 30 milhões de homens de 20 a 45 anos a mais que mulheres da mesma faixa etária dificultando drasticamente a possibilidade de os homens encontrarem uma parceira matrimonial. Em longo prazo, isso enunciará uma estagnação no desenvolvimento econômico-social, pois as estruturas classistas, consumistas e corporativistas tenderão a ser predominantemente masculinas.