Poluição do ar e câncer de pulmão, sinônimos na China

07/11/2013 15:00 Atualizado: 07/11/2013 13:10

Uma menina de 8 anos foi recentemente diagnosticada com câncer de pulmão na província de Jiangsu, Leste da China, dando à nação comunista a distinção de ser o lar de um dos pacientes de câncer de pulmão mais jovens do mundo. Os médicos atribuíram a doença à poluição do ar, particularmente, às partículas aéreas de 2,5 micrômetros de tamanho, chamadas PM2,5, que penetram profundamente nos pulmões.

O doutor Feng Dongjie do Hospital do Câncer de Jiangsu disse em relatos da mídia chinesa que um longo tempo de inalação de “poeira de estrada”, uma mistura de gases de escapamento, areia e ar poluído, levou ao câncer de pulmão. A menina morava numa casa localizada ao lado de uma estrada movimentada.

Ele também disse que a inalação de PM2,5 teve a maior contribuição para o desenvolvimento do câncer. A poluição de PM2,5 é criada pelo escapamento de motores e por emissões industriais em geral.

Estudo oficial

Em 4 de novembro, a Academia Chinesa de Ciências Sociais e a Administração Meteorológica da China lançaram seu “Relatório de Mudança Climática 2013”, também chamado “Livro Verde”. O documento diz que uma atmosfera poluída danifica os sistemas respiratório, cardíaco e imunológico e pode afetar a reprodução.

Poucos dias antes na China, uma poluição densa obrigou o fechamento de dezenas de estradas e atrasou aviões em vários aeroportos. Apenas na semana passada, Pequim emitiu três alertas de poluição intensa.

Um grande número de chineses reclamou nas redes sociais, escrevendo: “a poluição atmosférica arruinará a China” e “a China estará arruinada em breve”. Alguns simplesmente postaram comentários melancólicos: “Que podemos fazer?”

Falha das autoridades

Muitos internautas chineses aproveitaram a oportunidade da notícia do câncer de pulmão para expressar sua insatisfação com os esforços do regime chinês no combate à poluição, apesar de muitos relatos da mídia estatal indicarem que o Partido Comunista Chinês (PCC) vê a questão como uma prioridade.

“Quantas crianças temos que sacrificar para chamar a atenção deles? Quando é que o governo fará alguma coisa?”, escreveu um internauta.

“Eu me sinto muito triste quando penso que não há outro caminho [para me proteger], além de usar uma máscara!” comentou Su Jingyang, acrescentando ícones irritados.

“Você deve usar uma máscara! Este é um hábito que você de fato deve criar!”, argumentou Wang Douma, um internauta de Pequim.

Fora de alcance

Os chineses não são os únicos reclamando da poluição atmosférica gerada na China. Mídias coreanas e japonesas têm manifestado preocupações também, argumentando que a poluição da China está afetando suas vidas.

A KBS TV da Coreia chamou a atmosfera da China de “a poluição mais grave na história da humanidade”, numa reportagem de 3 de novembro.

A região costeira do China, onde estão as principais cidades mais urbanizadas e industrializadas, incluindo Pequim e Shanghai, tem penado com o aumento do número de dias de densa neblina nos últimos 10 meses, segundo dados do Livro Verde. O relatório oficial diz que 2013 registrou o maior número de dias de densa neblina nos últimos 52 anos na China.

Em média, de 25 a 100 dias por ano há neblina em diferentes áreas costeiras, diz o livro, algumas áreas têm mais de 100 dias de neblina – o que significa que quase um terço do ano, a poluição é tão espessa que pode bloquear a luz do sol.

Morte

Todos os anos, 2,7 milhões de pessoas morrem de câncer na China, enquanto seis são diagnosticadas com câncer a cada minuto, segundo o Relatório Anual de Oncologia de 2012 da China, um grande estudo oficial. A poluição, segundo especialistas, contribuiria para o câncer, especialmente de pulmão, que é a forma mais prevalente registrada e com alta taxa de mortalidade.

Há mais pacientes com câncer de pulmão em grandes cidades do que em áreas rurais na China, devido à poluição do ar ser mais severa nos centros urbanos, diz o “Relatório de Oncologia”. A incidência de câncer de pulmão também tem aumentado constante e alarmantemente nos últimos anos.