Político chinês Bo Xilai é condenado à prisão perpétua

23/09/2013 13:11 Atualizado: 23/09/2013 13:14
Bo Xilai, entre dois policiais, no tribunal de Jinan, capital da província de Shandong, China (Weibo.com)
Bo Xilai, entre dois policiais, no tribunal de Jinan, capital da província de Shandong, China (Weibo.com)

Bo Xilai, o político mais significativo do alto escalão do Partido Comunista Chinês (PCC) a ser purgado numa luta de poder na história recente, foi condenado à prisão perpétua e a privação de seus direitos políticos em 21 de setembro. Todos os seus bens pessoais também foram confiscados. A sentença foi proferida pelo Tribunal Popular Intermediário de Jinan, por meio de sua conta do Weibo, no final de uma sentença de nove páginas que ensaiou o caso de acusação contra Bo, focada nos crimes de “suborno, corrupção e abuso de poder”.

O julgamento de Bo Xilai e os eventos extraordinários que levaram a ele têm sido questões de grande atenção para observadores na China e ao redor do mundo desde o ano passado. O caso de Bo tem sido extremamente importante para o sistema político chinês por causa do perigo que ele representava para a liderança central e da crise que seus planos criaram para o poder no regime comunista chinês.

O anúncio do veredito de Bo Xilai na manhã de domingo foi precedido por um nível intenso de especulação, discussão e suspense. A única fonte de informação sobre o julgamento tem sido a conta oficial no Weibo do Tribunal Popular Intermediário de Jinan, na capital da província de Shandong. O Weibo é uma plataforma chinesa de microblogue similar ao Twitter.

Às 10h da manhã na China, o tribunal postou em sua conta no Weibo: “O juiz está lendo a sentença.” Em minutos, a sentença foi encaminhada por internautas mais de 4 mil vezes. A decisão foi logo postada, inicialmente em sete, depois em nove segmentos, cada um deles retransmitidos milhares de vezes. Uma imagem de Bo, de pé entre dois policiais mais altos do que ele, também foi compartilhada.

Em página após página da decisão, o juiz refutou a defesa vivaz de Bo e explicou por que todas as acusações se sustentavam e eram provadas pelas evidências fornecidas. Uma das frases usadas regularmente foi: “Os argumentos do advogado de defesa e do réu e sua defesa não se fundamentam e este tribunal não os aceita.”

O tribunal disse que Bo era culpado de aceitar subornos no valor de 20 milhões de yuanes (US$ 3,2 milhões), desviar 5 milhões de yuanes (US$ 816 mil) e abusar de seu poder no caso do assassinato do empresário britânico Neil Heywood por sua esposa. Muitos analistas comentaram sobre a relativa brandura desses números, uma vez que oficiais de vila do PCC têm fugido do país com centenas de milhões de dólares.

“Este resultado é basicamente o que todos suspeitavam”, disse Shi Cangshan, um analista independente sobre o PCC, numa entrevista por telefone. Shi disse que as acusações que Bo enfrentou muito dificilmente resultariam em pena de morte, removendo efetivamente a possibilidade de que ele recebesse uma sentença de morte suspensa, o que era uma das linhas principais de especulação além da prisão perpétua.

Antes de 6 de fevereiro de 2012, Bo era conhecido apenas como um chefe pomposo e volúvel do Partido Comunista no governo da megalópole sudoeste de Chongqing. Ele organizou as massas para cantar canções revolucionárias, lembrando os dias de mobilizações e desfiles maoístas e atacou inimigos políticos impiedosamente, os quais ele rotulou como bandidos. Seus serviços de segurança pública, liderados por seu confidente de longa data, comparsa e chefe de polícia da cidade, Wang Lijun, extrairiam confissões de empresários rivais enquanto os despojavam de seus ativos. Juntas, essas atividades eram conhecidas como “cantando o vermelho e esmagando o preto”.

Então, em fevereiro, Wang Lijun fugiu para o consulado norte-americano em Chengdu, a várias horas de carro. O consulado teria sido logo cercado por veículos paramilitares, cuja presença foi orquestrada com a ajuda de um dos poderosos patronos de Bo Xilai, o ex-chefe da segurança pública chinesa Zhou Yongkang. Mais de 30 horas depois de penetrar no consulado, as autoridades norte-americanas entregaram Wang nas mãos de um oficial de inteligência da Central do PCC em Pequim, ao invés do grupo de Bo.

A narrativa espalhada pelos órgãos de propaganda do PCC e, em grande parte, tacitamente aceita nas reportagens da mídia ocidental sobre o assunto é que Wang Lijun tinha ido à embaixada americana para revelar o encobrimento do assassinato cometido pela esposa de Bo, Gu Kailai, do empresário britânico Neil Heywood, com quem ela tinha negócios.

O julgamento de cinco dias de Bo Xilai em agosto foi repleto de teatralidade sobre o triângulo Wang-Bo-Gu, que envolveria um caso de amor e dinâmicas familiares entre Bo Xilai, sua esposa e o filho Bo Guagua, que agora frequenta a Faculdade de Direito da Universidade de Colúmbia nos EUA.

O Epoch Times relatou, com base em informações de fontes na China, que Bo havia conspirado com outros membros de alto escalão do PCC para efetivamente tomar o poder no regime. A peça-chave dessa aliança era Zhou Yongkang. Zhou está agora, segundo divulgações recentes, no centro de convergência de investigações sobre a corrupção em diversos níveis que formaram o núcleo de sua carreira, incluindo a indústria do petróleo e a província de Sichuan.

Zhou e Bo eram o núcleo da tentativa do ex-líder chinês Jiang Zemin de manter um forte nível de influência nas operações do regime, mesmo mais de uma década após ter deixado seus cargos oficiais. Isso era parte das tentativas de Jiang Zemin de garantir que as peças-chave do seu legado, mais particularmente a perseguição à prática espiritual do Falun Gong, não fossem desfeitas pelos líderes posteriores.