Em 24 de agosto de 2013, um grupo de mais ou menos 100 jovens proporcionou um tumulto no Minas Shopping em Belo Horizonte. A assessoria de imprensa – em sintonia com o comando da Polícia Militar – emitiu nota oficial negando a ocorrência de um arrastão. Mas a reportagem de O Tempo confirmou ter ouvido de testemunhas que algumas lojas foram saqueadas sim. Dias depois, um terceiro evento do tipo voltaria a acontecer apresentando as mesmas características: agendado pelas redes sociais, uma baderna dos adolescentes descambava em tumulto, algumas testemunhas diziam ter visto lojas sendo saqueadas, notas oficiais desmentiam tais testemunhas.
Estariam as testemunhas se confundindo em meio ao tumulto ou estariam os estabelecimentos abafando a mídia negativa gerada pelo ocorrido?
Fato é que esse tipo de evento se espalhou pelo país à medida em que as festas de fim de ano se aproximavam. Foi o que se deu no Shopping Del Rey e no Itaú Power Shopping em Minas Gerais, no Buriti Shopping em Goiás, no Shopping Vitória no Espírito Santo, no Shopping Internacional de Guarulhos e no Shopping Itaquera, ambos em São Paulo. Pelas redes sociais, descobria-se que quase todo grande shopping no Brasil estava sendo tomando por enormes encontros de adolescentes. Mas somente em dezembro a mídia passou a dar a este acontecimento o mesmo nome utilizado pelos organizadores: rolezinho.
Os organizadores? Normalmente algum adolescente que tinha seu evento no Facebook “viralizado” na rede. Nos links acima, variam entre 14 e 17 anos (quando citados). Ciente deste detalhe ou não, o prefeito Fernando Haddad disse querer ouvir os jovens que organizavam os “rolezinhos”. No dia seguinte, pediu ao seu secretário da igualdade racial para “convocar os líderes” dos grupos e conversar. Seu apoio veio acompanhando da fala da ministra da Igualdade Racial, Luiza Barros, que disse que “medo de ‘rolezinho’ é reação de brancos“. Coroando o trio, o secratário-geral da presidência da república, Gilberto Carvalho, condenou a “postura dos empresários“.
Se a intenção dos jovens é organizar eventos para cometer crimes, a lei pede para que isso seja provado por quem acusa. Mas, ao se completar um ano da morte de 230 pessoas em evento organizado por adultos supostamente responsáveis, soa extremamente irresponsável o prefeito da maior cidade do país (e representantes do maior partido da nação) estimularem eventos organizados por adolescentes, principalmente quando chegam a reunir até 10 mil pessoas. Caso algo saia do controle, não há quem contorne a crise. E sai bastante, como mostram as cenas fortes do vídeo abaixo que capturou o comportamento dos jovens no “rolezinho” em Guarulhos no bosque Maia.
Grandes aglomerações em ambientes públicos – ou até mesmo, como nestes casos, privados – costumam ser o cenário ideal para a ação de oportunistas. Não à toa, varias militâncias das mais variadas bandeiras se organizam para pegar carona na pauta. Ao menos uma delas já ocorreu hoje com a ação do MTST contra dois shoppings da zona sul de São Paulo. Mas as movimentações virtuais ganham força e há quem acredite que tudo esteja apenas começando.
Fernando Haddad já reconheceu que jogou fora seu primeiro ano de governo. Em dezembro, a ordem do partido era para mudar o comportamento e reverter a baixa popularidade atingida com os protestos e jamais revertida. Um mês depois, o prefeito tomou várias medidas voltadas a agradar os votos recebidos na periferia. Medidas sempre questionáveis, como o veto à proibição de baile funk nas ruas de São Paulo, a oferta de emprego a viciados em crack ou mesmo o já citado apoio ao rolezinho.
Esse artigo foi originalmente publicado pelo site Implicante