Política de redução de juros: mais carvão na caldeira

26/11/2012 03:05 Atualizado: 27/11/2012 21:29
Um mecânico coloca carvão na caldeira de uma locomotiva (Georges Gobet/AFP/Getty Images)

A semana começa com as atenções voltadas para a última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), nesta terça (27) e quarta-feira (28), que vai decidir o novo patamar da taxa básica de juros da economia (Selic). O Banco Central já indicou que o ciclo de redução da Selic, iniciado há pouco mais de um ano, chegou ao fim e a taxa deve permanecer neste patamar por um período prolongado.

O crescimento econômico é formado pelo tripé da política monetária (taxa de juros), política fiscal (superávit primário) e taxa de câmbio, com vistas ao atingimento de uma determinada meta de inflação. Acontece que cada uma dessas variáveis interfere na outra de forma antagônica. Por exemplo, a redução da taxa de juros pode gerar aumento de inflação, porque põe em circulação um montante maior de moeda, que antes estavam aplicados em títulos em função do interesse pelos juros pagos.

Esse aumento de moeda circulante gera aumento de consumo. Até certo ponto isso estimula a economia, o que é benéfico em um momento onde o próprio Planalto já reconhece a previsão de crescimento do PIB de 2012 para pífios 1,6%. Porém, a partir de um limite, o aumento da demanda acima da oferta de produtos leva ao aumento de preços: a inflação de demanda. O problema, então, é o limite em que o remédio passa a ser veneno. E quem define isso é o Banco Central, mediante as reuniões do Copom.

Inflação em alta

No início do mês, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA). Alavancado pelo setor de alimentos e bebidas, que aceleraram em 1,36%, o IPCA de outubro chegou a 0,59% de alta. Isso significa que, no acumulado de 12 meses, esse índice chega a 5,45%, frente à meta inflacionária de 4,5% estipulada pelo Banco Central.

Essa aceleração dos preços em outubro põe em cheque a política do Banco Central de reduzir gradualmente as taxas de juros para incentivar o crescimento econômico, que no primeiro semestre do ano registrou apenas 0,6%. No último mês de setembro, a autoridade monetária reduziu os juros básicos até 7,25% anual, o menor nível já registrado.

Por outro lado, a redução da demanda internacional causada pela persistência da crise internacional traz maior significância ao mercado interno. Mesmo com estímulos monetários ortodoxos dos países centrais, estes ainda respiram sob aparelhos. A China, motor da economia global, não mais cresce àquele frenético ritmo perto dos 10%. Dessa forma, a redução de juros pode ser adequada, até seu limite.

O mercado, desta forma, questiona a manutenção da política de redução juros, já que esse estímulo, sendo artificial, pode causar inflação ao invés de crescimento econômico. A impressão é que a economia já está em pleno vapor, mesmo com o pífio crescimento. O estímulo adicional – mais carvão na caldeira – não causaria o efeito desejado, pois o trem a vapor continuaria andando na mesma velocidade, com um problema adicional, porém: aumento na temperatura da cabine, devido ao acréscimo de carvão.

Precisaríamos mesmo é de um novo trem, mais moderno, à eletricidade. Eletricidade? Mesmo com os apagões causados em todas as regiões do Brasil na semana passada por falta de investimentos em manutenção? A situação está ficando cada vez mais complexa para administrar.

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