Política da Guerra Fria marca encontro EUA-China

06/06/2013 15:50 Atualizado: 06/06/2013 17:18
Pequim pretende delimitar sua esfera de influência
O presidente norte-americano Barack Obama e o líder chinês Xi Jinping num encontro no Salão Oval em Washington DC (Saul Loeb/AFP/Getty Images)

O presidente Barack Obama e o líder chinês Xi Jinping devem se reunir na propriedade de um magnata bilionário do mercado editorial no deserto californiano em 7 de junho. A configuração – uma mansão e arredores amplos e privados – é projetada para dar aos dois líderes tempo bastante, sem roteiros formais, para se conhecerem, algo que não seria possível num jantar engravatado ou numa conferência de imprensa na Casa Branca.

No entanto, a mídia estatal chinesa, no período que antecede a reunião, tem propagado uma teoria claramente antiquada das relações globais que remonta à Guerra Fria. Essa abordagem procura simultaneamente expandir a posição do Partido Comunista Chinês (PCC) em sua relação com os Estados Unidos, manter a influência dos EUA fora da Ásia e reforçar a posição da China em relação a seus pares regionais: essa é a ideia de um “novo modelo de relações de grandes poderes”.

Uma manchete recente no Diário do Povo, mídia porta-voz do PCC, explica: “Especialistas dizem que a criação de um novo modelo de relações de grandes poderes requer abandonar a mentalidade da Guerra Fria e não disputar por hegemonia.”

A manchete destaca um dos perigos da comunicação política da China comunista: que preto e branco frequentemente mudam de lado.

De acordo com Chen Pokong, analista baseado em Nova York que estuda e escreve sobre o regime chinês para várias mídias de língua chinesa, quando o Diário do Povo exibe este tipo de manchete, o significado real deve ser lido no sentido inverso. “Quando o PCC diz que os EUA deveriam abandonar sua mentalidade da Guerra Fria, o que isso significa precisamente é que o PCC tem uma mentalidade da Guerra Fria. E quando eles dizem que os EUA não devem se declarar uma hegemonia, isso significa que o PCC quer ser a hegemonia.”

Esta análise fica clara lendo-se cuidadosamente nas entrelinhas do PCC, para descobrir o que eles realmente querem dizer, afirma Chen Pokong. A doutrina efetivamente propõe “a divisão do mundo em esferas de influência, com os Estados Unidos não interferindo em sua esfera de influência na região asiática”, segundo Chen Pokong.

Assim, enquanto o PCC prossegue seu engajamento econômico vigoroso com os EUA (e intensamente envia hackers para roubar seus segredos corporativos e militares), o PCC quer que a segurança e a geopolítica sejam mais parecidas com as da União Soviética: você não toca nas minhas coisas e eu não toco nas suas.

Embora tenha sido um foco da propaganda oficial na última semana ou mais, ainda não está claro se a doutrina será algo mais do que slogans vazios ou se se tornará um esforço concentrado da República Popular da China (RPC) para estabelecer sua relação com os EUA, no que o PCC argumenta ser uma base mais justa e igualitária, e assim expulsar firmemente a influência dos EUA na Ásia.

Em qualquer caso, a jactância do PCC é útil para o público doméstico, pois parece mostrar o crescente poder e influência da China, liderada pelo PCC, no cenário mundial.

“Eles querem ser iguais”

“Esta reunião com Obama é extremamente importante para a China”, diz Shi Cangshan, analista independente de assuntos do PCC, baseado em Washington DC.

“Eles querem sentar na mesma mesa que os EUA, querem ser iguais. Portanto, este novo modelo torna claro o que eles querem”, disse ele. Uma grande parte disso decorre da frustração chinesa com a ordem mundial liderada pelos EUA desde a 2ª Guerra Mundial, que foi amparada por instituições globais e influência financeira lideradas pelos norte-americanos e garantida pelo poder militar dos EUA.

“Como uma potência em ascensão, a China quer mudar as regras do jogo”, disse Shi Cangshan, acrescentando a ressalva importante que essa dinâmica, de um poder crescente desafiando um poder estabelecido, está sendo filtrada e conduzida segundo linhas ideológicas comunistas. “O objetivo final do PCC é obviamente ser o chefe”, disse Shi Cangshan, usando o termo chinês ‘laoda’, cuja conotação é um pouco mais ampla. “Eles querem ser como os EUA e ainda mais poderosos do que os EUA.”

Os primeiros passos do PCC estão sendo dados na região asiática, por isso é importante que a RPC consiga repelir os EUA. “Quando entram numa disputa com o Japão, os EUA aparecem. O PCC quer dizer: ‘Você não precisa manter a paz. Eu manterei a paz.’”

Nenhum analista acredita que o resultado disso, se isso vier a se concretizar, seja um bom presságio para quem quer que seja exceto para os comunistas chineses. O PCC seria uma superpotência muito menos benevolente do que os Estados Unidos, diz Shi Cangshan. “Se alguém espanca os próprios filhos em casa, você sabe que essa pessoa não é boa, não importa como ela se comporte no exterior.”

Embora a doutrina e a abordagem que representam a propaganda oficial indiquem o pensamento estratégico e a intenção do PCC em longo prazo, a nova liderança enfrenta pressões econômicas e sociais graves domesticamente e um ambiente político regional cada vez mais cauteloso, diz Shi Cangshan. Em que medida Xi Jinping pressionará explicitamente essas ideias em suas discussões com Obama, enquanto passeia pela propriedade ensolarada do Rancho Mirage, ladeado por montanhas, não está claro.

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