Policiais do Rio de Janeiro realizaram hoje (14) uma manifestação na praia de Copacabana, zona sul da cidade, reivindicando providências contra os ataques praticados contra agentes. Neste ano, mais de 100 policiais foram assassinados no estado, a maior parte durante a folga. Famílias e colegas de trabalho fincaram cruzes pretas à beira da praia com os retratos dos policiais mortos, segundo reportagem da Agência Brasil.
Por meio de testemunhos entregues ao Jornal do Brasil, um grupo de Policiais Militares, pertencentes a batalhões da Zona Oeste do Rio de Janeiro, demonstrou apoio ao movimento #basta, concebido como reação às mortes brutais de policiais reportadas nas últimas semanas.
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De acordo com um dos PMs do grupo que falou com o Jornal do Brasil, e solicitou para não ser apontado no artigo, o cerne do protesto é exigir mais segurança e melhores condições para o trabalho dos policiais em regiões de maior perigo. “Estamos mais otimistas porque, por mais que nosso salário seja péssimo e sejamos a polícia que mais trabalha no país, não estamos pedindo nem salário e nem escala, estamos exigindo segurança para proporcionar segurança”, salientou o policial.
O PM indica, além disso, a negligência com o profissional como uma das causas fundamentais para o apoio ao movimento. “O descaso é enorme. Saiu o número de policiais baleados e mortos, mas dentro desse número tem também os que perdem membros, que perdem movimento, que são mutilados. Quando isso acontece, o policial deixa de ganhar as gratificações e o salário cai pela metade. Muitos acabam vivendo de favores dos amigos. É uma covardia muito grande”, queixa-se.
Ampliando a lista de mais de 100 policiais mortos, está Anderson de Senna Freire, morto com um tiro na cabeça em Guadalupe, na madrugada do dia 25 de novembro. De acordo com a declaração do policial dado ao Jornal do Brasil, o movimento #basta teve início durante o enterro de Senna, quando um grupo de policiais, revoltados com os homicídios e ataques contra os colegas de corporação, decidiram se mobilizar e protestar contra essa situação.
“O #basta surgiu assim, com um grupo de amigos, em seguida chegaram a Roberta Trindade e a Flavia [Louzada, que também é PM], mas não temos essa presunção [de chamar a autoria do movimento para si]. Quem aparecer vai aparecer pra somar”, narra o policial em depoimento ao Jornal do Brasil. “A gente quer aproveitar o protesto para demonstrar que o policial é uma pessoa comum da mesma forma; queremos o povo ao nosso lado, porque o que realizamos na nossa vida é a defesa da vida dessas pessoas”.
O policial crê também que a policia está se transformando. De acordo com ele, a maior parte da corporação tem interesse em mudar a visão repleta de maus exemplos que a polícia tem sustentado aos olhos do povo durante os anos. “Temos que considerar que o povo se afastou da gente, porque a gente se afastou do povo. A imagem do policial corrupto, sujo, que não tem compromisso nenhum com o serviço, mal educado, sem estudo, terminou. A maioria de nós tem estudo e conceitos formados e não quer embaraçar a família”, declarou o policial. “A maioria indiscutivelmente é do bem”.
Ao longo do protesto de hoje em Copacana, um grupo de policiais militares divulgou mensagem à população com oito reivindicações da categoria, entre elas, a modificação para crime hediondo de qualquer ação cometida contra a integridade física de policiais e seus familiares, um apoio maior aos parentes de policiais assassinados e a viabilidade de o profissional permanecer com o revólver da corporação mesmo quando estiver de folga, conforme matéria divulgado no site Diário do Poder.
“Nós queremos também a blindagem dos contêineres das UPPs [unidades de Polícia Pacificadora] porque muitos policiais morrem nas UPPs. A guarita aqui na rua é blindada, por que o contêiner que fica dentro da comunidade não vai ser?”, pergunta a cabo Flávia Louzada, coordenadora de um grupo chamado A Vida do Policial é Sagrada, Como Toda Vida é.
De acordo com a policial militar, o objetivo da manifestação é “tornar a população consciente de que a questão dos assassinatos de policiais já não é uma questão só de polícia. Porque se nós, que ganhamos para dar proteção ao cidadão, não conseguimos ficar vivos, como protegeremos se nós mesmos não somos protegidos?”.
Além dos policiais, fizeram parte do protesto os parentes de vítimas como a mãe do soldado Anderson de Sena Freire, morto por bandidos durante uma patrulha na Avenida Brasil, no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, no final de novembro.
“Como é possível, durante uma madrugada, um carro com dois policiais encarar um grupo de quatro ou cinco [homens] fortemente armados? Ele não teve como se defender. Isso é vergonhoso para o país”, disse Ângela Maria de Sena Freire, mãe de Anderson, que também tem outro filho na Polícia Militar. “Ele tinha seis anos de polícia e deixou dois filhos.”
Alguns policiais do Espírito Santo também participaram da manifestação. “Nós viemos nos unir, porque hoje enxergamos que a questão da morte de policiais é do país todo. No Espírito Santo vários colegas foram assassinados tanto em serviço quanto de folga. Viemos aqui para tentar conscientizar a sociedade civil para esse problema que é gravíssimo”, disse o cabo Clayton Siqueira.