Os policiais que foram chamados para atuar como tropas de choque de Hong Kong – lançando bombas de gás lacrimogêneo contra multidões de estudantes que protestavam e encharcando-os com spray de pimenta – expressaram recentemente sua frustração e arrependimento.
Dezenas de milhares de estudantes continuam a deambular pelas ruas do distrito comercial central de Hong Kong a cada noite, enquanto a polícia tenta contê-los e repeli-los. Os estudantes protestam contra as iniciativas recentes de Pequim de limitar a capacidade de Hong Kong de realizar eleições democráticas independentes.
“Outrora, eu me senti a pessoa mais sortuda do mundo, porque eu poderia cumprir dois dos meus sonhos de infância ao mesmo tempo”, escreveu Arnold Wai, um membro da força policial auxiliar de Hong Kong, no Facebook, na noite de 28 de setembro. “Antes, eu sentia orgulho em levar pessoalmente os criminosos à justiça”, disse ele.
“No entanto, eu contatei meu superior hoje à noite e abandonei este emprego. Não quero ser uma ferramenta política de ninguém”, escreveu ele numa postagem no Facebook, que foi amplamente compartilhada entre os internautas de Hong Kong.
Oficiais da reserva e voluntários são chamados para ajudar em momentos de desastres naturais ou emergências civis e para apoiar as forças regulares na gestão de multidões, segundo o website oficial do Corpo de Polícia de Hong Kong. Não está claro se o próprio Wai foi convidado a desempenhar essas funções.
“Cidadãos de Hong Kong, por favor, acreditem em si próprios. O preço pode ser alto, mas esta é Hong Kong e ela será bem-sucedida”, acrescentou Wai. A observação foi compartilhada mais de mil vezes no Facebook entre amigos e conhecidos.
Separadamente, em 29 de setembro, um dia após o primeiro uso em larga escala de bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta contra os manifestantes, o Epoch Times recebeu uma nota de arrependimento de um policial, que queria se desculpar com o povo de Hong Kong por ser um membro da força que está suprimindo o protesto pacífico.
A carta completa diz:
“Quero dizer a todos em Hong Kong, especialmente àqueles que participaram do protesto Central ontem: Estou muito triste! Eu não tenho coragem de aparecer em público e me desculpar em pessoa, porque estou com medo. No primeiro momento que vi a fumaça de gás lacrimogêneo se espalhando, eu senti um profundo remorso. Tenho medo de que o que eu escrevo seja descoberto por alguém, tenho medo de perder o emprego. Tenho pensado nisso há um algum tempo e não consigo descansar.”
“Por muito tempo eu pensei que os manifestantes eram desordeiros – simplesmente tentando se exibir. No passado, eu odiava pessoas desse tipo. Todos os meus colegas estavam com medo de enfrentar os manifestantes porque os policiais têm muitas regras para lidar com eles. E hoje, quando soubemos que mais força poderia ser usada, ficamos muito satisfeitos.”
“Quando vi a reação dos manifestantes sendo atingidos pelas bombas de gás lacrimogêneo, eu fiquei atordoado. O que eu estava fazendo? Alguns homens e mulheres jovens estavam sentados em silêncio e agora eles estavam em grande dor. Lágrimas começaram a correr em meu rosto. Não pensem que todos nós somos assassinos seriais – pelo menos eu não estava preparado para isso. Mas eu não podia ser visto por outros agentes da polícia – eu apenas fingi que tudo estava bem e continuei a remover as pessoas.”
“Povo de Hong Kong, eu peço desculpas sinceramente a todos vocês. Por favor, perdoem um covarde como eu.”
A nota foi assinada “um oficial da polícia de Hong Kong (não um agente da segurança pública)”. “Agente da segurança pública” se refere à polícia da China continental.
Alguns manifestantes ficaram comovidos pelo espírito da carta, como Agnes Chan e Yanice Wong, duas jovens manifestantes que criaram uma página no Facebook que convida os cidadãos de Hong Kong a “serem amigos” dos policiais que conhecem. Mas elas alertaram a polícia: “Um impulso inesperado pode significar o fim de muitas belas amizades.”
Fora da sede da polícia, os manifestantes alteraram os dizeres na fachada da instituição que dizia “junte-se à força policial” para “deixem a força policial”.
Em 29 de setembro, em frente à sede do governo de Hong Kong, uma cena marcante ocorreu. Um jovem manifestante que estava perto de um oficial da polícia de choque foi atacado aparentemente sem motivo com um jato de spray de pimenta em todo o rosto e olhos. Ele gritou: “Estamos desarmados, como vocês podem nos atacar assim?”
Por trás do capacete e da máscara de proteção, a expressão do policial não podia ser vista, mas ele parecia comovido e disse: “Eu sei, eu sei.” Ele acenou para o jovem, aproximou-se e usou sua garrafa d’água para lavar a olhos ardentes do jovem.
Com reportagem de Yu Gang.