Polícia de Pequim deixa de interferir com peticionário

26/07/2012 07:00 Atualizado: 26/07/2012 07:00

Polícia chinesa bloqueia uma estrada em 17 de fevereiro de 2011. Recentemente, peticionários que viajam para Pequim receberam tratamento mais leve da polícia de Pequim. (Feng Li/Getty Images)A polícia de Pequim parece estar adotando uma nova abordagem de não interferir com peticionários que chegam de fora da cidade para expressarem suas queixas na capital; evidência de uma mudança significativa na abordagem da segurança pública na China.

As alterações podem fazer parte de uma série de mudanças ao longo dos últimos meses que parecem mostrar que o líder chinês Hu Jintao exerce maior influência e controle sobre a segurança pública da China. Isso, dizem os analistas, está ligado à queda da facção leal ao ex-líder chinês Jiang Zemin, que incluiu em seu círculo Bo Xilai, o ex-chefe do Partido Comunista Chinês (PCC) em Chongqing e o chefe de segurança pública chinesa Zhou Yongkang. Bo Xilai está detido depois de uma queda política espetacular enquanto Zhou Yongkang estaria sob “controle interno”.

De acordo com testemunhas, a polícia de Pequim recebeu ordens de autoridades superiores e não está mais autorizada a ajudar os funcionários de governos locais na interceptação de peticionários em Pequim.

Apelar faz parte do sistema administrativo da China de ouvir queixas e reclamações dos seus cidadãos. Estima-se que cerca de 150 milhões de petições foram feitas em 2011, segundo o Boxun, um website dissidente chinês baseado nos EUA, citando um documento interno que vazou do PCC e foi compilado pelo Comitê Central de Inspeção Disciplinar, a agência do PCC que investiga funcionários corruptos.

Anteriormente, a polícia de Pequim interviria e colaboraria com a polícia local, policiais à paisana e/ou agentes contratados pelos governos locais para monitorar e prender peticionários que vão a Pequim para pedir justiça. Costumava ser comum que peticionários fossem presos pela polícia de Pequim e, em seguida, enviados de volta para suas cidades natais.

Ji Shulong, uma ativista dos direitos do condado de Funing, província de Jiangsu, foi a Delegacia de Polícia do distrito de Dongcheng em Pequim em torno das 17h em 19 de julho, exigir que a polícia fizesse algo para compensá-la por ter sido injustamente presa e espancada.

Ela disse ao Epoch Times que testemunhou três policiais da província de Hubei solicitando assistência das autoridades de Pequim para apreender nove outros peticionários de sua área local, mas um policial de Pequim disse a polícia de Hubei para lidar com isso eles mesmos. A polícia também telefonou para seu chefe para confirmar os novos procedimentos que proíbem a polícia de Pequim de auxiliar as autoridades locais, disse Ji.

Meia hora depois, os três policiais de Hubei retornaram à estação exigindo saber por que foram ajudados da última vez, mas não desta vez, disse Ji. Um oficial de Pequim à paisana respondeu, “Isso foi naquele momento. Agora não. Recebemos novos documentos. Agora, a polícia não tem permissão para interceptar peticionários, ninguém se atreveria”, disse Ji.

Ji também falou com seu chefe de polícia local, que confirmou a mudança na política do PCC; Ji acredita que os policiais estão cientes da mudança.

Em 21 de julho, um segundo peticionário de Hubei disse à Rádio Som da Esperança (SOH) que, dois dias antes, um pessoal da província de Yunnan chegou para prender peticionários de Yunnan na Estação Ferroviária do Sul de Pequim e que polícia de Pequim não os ajudou como antes. “A polícia de Pequim não disse se esse pessoal de Yunnan estava autorizado ou não a interceptar os peticionários”, disse ela.

Outro requerente da província de Liaoning disse à SOH que testemunhou cinco ou seis pessoas tentando prender peticionários, mas quando a polícia de Pequim chegou, elas saíram imediatamente.

O líder chinês Hu Jintao, junto com o primeiro-ministro Wen Jiabao, o vice-presidente Xi Jinping e o vice-primeiro-ministro Li Keqiang participaram de uma conferência nacional sobre o tratamento de peticionários em Pequim em 13 de julho, uma ocorrência rara para oficiais desse nível. Zhang Jielian, um especialista em China baseado em Washington, disse à SOH que isso mostra que Hu Jintao atribui grande importância à questão e que Zhou Yongkang perdeu o controle sobre o sistema de segurança pública de Pequim.

“Isso significa que pessoas diferentes estão encarregadas agora por este tipo de trabalho e que agora isso é controlado diretamente por uma autoridade superior”, acrescentou Zhang. “Os sinais são muito claros.”

Outros sinais indicam ventos de mudança. Mais recentemente, uma seção de treinamento para 1.400 novos chefes de polícia de cidades e condados foi realizada pela Secretaria de Segurança Pública. Foram incluídas lições sobre um incidente globalmente divulgado em Wukan, na província de Guangdong, em setembro passado, em que moradores se revoltaram e expulsaram os oficiais do PCC. O assunto foi resolvido pacificamente. Heng He, uma comentarista política da NTDTV, acredita que a promoção do Modelo Wukan novamente sinaliza a diminuição da violência da política de ‘manutenção da estabilidade’ de Zhou Yongkang.