Em resposta a um movimento de protesto em Xangai que está profundamente impregnado de sentimento contemporâneo, a polícia da maior cidade chinesa recorreu a um método de controle de pensamento dos anos 50: extrair autocríticas e confissões sobre as más ações dos participantes.
Dentre os manifestantes, encontravam-se muitos residentes – mais de 10 mil, segundo algumas estimativas – do distrito de Jinshan, em Xangai, que fizeram manifestações e protestos em frente ao escritório dos oficiais do governo na semana passada.
O protesto ocorreu em resposta ao rumores de que uma companhia petroquímica estava planejando instalar uma fábrica de paraxileno na vizinhança, que iria produzir químicos tóxicos usados na produção de plásticos e fibras. As autoridades de Xangai afirmaram que os rumores eram falsos, mas o cinismo presente na maioria dos comunicados oficiais da China faz com que os cidadãos desconfiem de qualquer coisa dita pelo governo chinês.
Preocupados que suas crianças sejam prejudicadas pelos gases tóxicos, que podem causar irritação aos olhos, nariz, e garganta, os residentes saíram às ruas para exigir que tais planos fossem descartados.
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Durante o final de semana de protesto, a polícia de Xangai mobilizou centenas de policias para colocar os manifestantes em ônibus e levá-los a uma escola nas proximidades, onde foram obrigados a assinar algumas declarações.
“Se aqueles que foram presos não assinassem o papel de garantia, não poderiam voltar para casa”, disse o Sr. Wang, residente do Distrito de Jinshan, à New Tang Dynasty Televison, uma estação televisiva independente em Chinês sediada em Nova York.
De acordo com o “papel de garantia”, que um residente de Jinshan compartilhou em uma rede social chinesa semelhante ao Twitter, chamada Sina Weibo, os signatários deveriam “compreender profundamente” o erro de juntar-se aos protestos, nunca mais “participar em atividades relacionadas com este projeto da fábrica de químicos”, e “cumprir a lei, obedecer ao governo e não participar de manifestações”.
Os manifestantes presos tiverem de submeter no documento seus nomes, número de identificação, endereço de residência e números de telefone.
Os intelectuais chineses foram as primeiras vítimas do “papel de garantia” após o regime comunista ter tomado o poder na China. Mao Tsé-Tung encorajou os intelectuais a criticarem o partido durante o Movimento das Cem Flores, depois apelidou-os de militantes da “direita” em 1957, e ordenou que fossem purgados. Muitos escritores proeminentes e acadêmicos foram obrigados a fazerem confissões públicas de que seus entendimentos eram “errados”, uma manobra para os arruinar e tirar sua credibilidade.
É comum que as forças de segurança do regime comunista forcem confissões daqueles que eles consideram ter causado ofensa, incluindo dissidentes políticos, prisioneiros de consciência e jornalistas. As declarações, ou por vezes confissões em vídeo, são normalmente para demonstrar o arrependimento do pecador, e a integridade do Partido Comunista.
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Em abril deste ano, um rapaz de 5 anos de idade e uma mulher idosa de mais de 60 anos forem mortos durante a supressão policial violenta de um protesto contra a poluição ambiental causada por um parque industrial químico em Naiman Banner, no interior da Mongólia. Os aldeãos locais foram forçados a assinar “papéis de garantia” prometendo não revelar “segredos de estado”, essencialmente referindo-se a qualquer informação sobre o incidente à mídia ou organizações estrangeiras, de acordo com a Rádio Free Asia (RFA)
Em junho do ano passado, a polícia no condado de Cao, Província de Shandong, prendeu 22 cristãos durante uma atividade religiosa, acusando-os de serem um “culto anti-Partido”, reportou a RFA. Todos eles tiveram de assinar os “papeis de garantia” antes de serem libertados. Aqueles que recusavam, eram violentamente abusados, e várias crianças com menos de 3 anos ficaram privadas de comida por mais de 24 horas.
Outro grupo que é fortemente perseguido e forçado à confissão são os praticantes de Falun Gong, uma prática espiritual que tem sido perseguida desde 1999 na China. Aqueles que recusam assinar tais declarações admitindo erro e renunciando à sua fé, são frequentemente enviados para campos de trabalhos forçados ou a classes de reeducação ideológica. Métodos de tortura também são comumente utilizados para extrair confissões. As estimativas de grupos de direitos humanos apontam que o número de mortos durante este processo seja na ordem dos milhares.