Polícia chinesa avança com sistema de vigilância

04/05/2012 00:00 Atualizado: 04/05/2012 00:00

Um policial chinês patrulha a Avenida Qianmen em Pequim, em 11 de maio de 2011. (Feng Li/Getty Images)

O receio do regime chinês de que as perigosas ideias sobre levantes democráticos possam se espalhar rapidamente inspirou a criação de um sistema intensivo de vigilância, que alcança inclusive os empregos das pessoas.

Em alguns casos, a polícia de Pequim está se mobilizando para manter os olhos sobre os indivíduos considerados problemáticos.

De acordo com relatório de 11 de abril do Diário Jurídico, um esquema de vigilância piloto começou a funcionar no distrito de Dongcheng, em Pequim, desde o ano passado. As 205 comunidades do distrito estão divididas em 589 blocos. Para cada bloco é designado um controlador, um subcontrolador, um policial e até um secretário do Partido. “Centros de Comando” se estabeleceram para vigiar a situação geral de cada bloco, menciona o relatório.

Em janeiro, a polícia de Dongcheng realizou uma cerimônia para lançar oficialmente as novas técnicas policiais baseadas no esquema de vigilância piloto. Um policial, cujo novo papel limitou-se a cobrir apenas um bloco, disse o Diário Jurídico, foi transferido do dever policial de monitorar uma comunidade de mais de 10 mil pessoas para vigiar apenas um bloco, o qual é apenas um dos cinco existentes numa comunidade.

O Diário disse que antes seu trabalho era muito grande e que só conseguia vigiar aleatoriamente algumas áreas e locais, muito pior do que agora que pode trabalhar sem ignorar uma única esquina.

Sempre que os policiais de um bloco estão em serviço, trabalham em estreita colaboração e troca de informações uns com os outros através do rádio. “Isto realmente atinge o objetivo de ‘acompanhar de perto’ as ruas”, dizia o relatório de dezembro de 2010 do Diário Jurídico.

As autoridades também dizem às pessoas com quem podem e com quem não podem viver. Em certo caso em Shanghai, dois policiais e um guarda de segurança foram à residência de dois manifestantes, a Sra. Zhu Jindian e o Sr. Shen Jinbo, na manhã de 8 de abril. Disseram à Sra. Zhu que o Sr. Shen não estava autorizado a fazer nenhuma petição ao governo, nem a ficar com a Sra. Zhu, por razões que a polícia não podia explicar.

Fu Sheng, um dissidente em Xi’an, na China central, foi forçado a “fazer uma viagem” durante os dias em que a “Revolução Jasmim” chamou o povo para sair às ruas da cidade. Ele declarou à Rádio Som da Esperança (Sound of Hope) que as autoridades locais foram ao seu trabalho e à sua casa, e designaram guardas de segurança e zeladores para vigiá-lo. Os guardas tinham de registrar seus movimentos e informar à polícia quando ele saía, segundo Sheng. Disseram-lhe que isto era uma “política de alocação” dos oficiais superiores.

Sheng disse: “Esta é grave violação à constituição”, e que está acontecendo em toda a China. Forçam as pessoas a participarem destas atividades de vigilância ameaçando seus trabalhos, porém algumas delas disseram a Sheng que se recusaram a cooperar.

“Parece o retorno da Revolução Cultural”, disse Sheng, referindo-se ao período entre 1968 e 1976, quando a China estava mergulhada no caos e milhões foram assassinados violentamente durante as campanhas políticas.

Um dissidente em Pequim, que deseja permanecer no anonimato, disse à Rádio Som da Esperança: “Os policiais dos blocos estão vivendo dentro das comunidades. Se várias pessoas se reúnem e conversam, eles vêm escutar o que elas dizem.” Acrescentou: “Qualquer pessoa que esteja na lista da polícia permanece sob constante vigilância.”