Pequenos detalhes mostram que o poder está se escapando das mãos de uma figura-chave no Partido Comunista Chinês (PCC) e um aliado do ex-líder chinês Jiang Zemin.
Liu Yunshan é um remanescente no Comitê Permanente do Politburo, ele aderiu a esse alto órgão da liderança do PCC em 2007 e prosseguiu para um segundo mandato em 2012. Ele foi colocado na posição por meio da influência de Jiang Zemin, e tem servido aos interesses de Jiang desde 2002, mantendo o controle firme do aparato de propaganda do regime comunista chinês.
Um sinal que indica o papel minguante de Liu é o agendamento de reuniões após a 4ª Plenária do Comitê Central. O costume no PCC após o conclave anual do Comitê Central é que os diversos departamentos do Estado e do PCC realizem reuniões que promovam a mensagem essencial do Comitê Central.
Este ano, em 23 de outubro, um dia após o término da 4ª Plenária, o ‘Grupo Líder Central de Segurança da Internet e Informação’ realizou seu workshop para transmitir o espírito da reunião. O Congresso Popular Nacional e a Conferência Consultiva Política Popular também realizaram oficinas com temas semelhantes no mesmo dia.
O Departamento de Propaganda, controlado por Liu Yunshan, só realizou uma reunião para “Implementar o Espírito da 4ª Plenária” em 25 de outubro. Para observadores da China que leem cuidadosamente nas entrelinhas do PCC, o atraso da reunião foi considerado significativo, indicando a perda de importância do Departamento de Propaganda.
Além disso, Lu Wei, o diretor do Escritório de Informação e Segurança da Internet, não compareceu à reunião do Departamento de Propaganda, embora a internet seja uma parte fundamental do aparato de propaganda. Em vez disso, Lu organizou um seminário separado para o grupo de segurança da internet no dia anterior.
A ausência de Lu da reunião do Departamento de Propaganda implica que o Escritório de Informação e Segurança da Internet já não está sob o controle de Liu Yunshan.
Este escritório foi anteriormente intitulado “Escritório Estatal de Informação e Internet” e respondia ao Gabinete Geral do Conselho de Estado. Em 27 de fevereiro de 2014, o líder chinês Xi Jinping assumiu a liderança do grupo, rebatizou-o e transformou-o numa organização central do PCC.
Embora Jiang Zemin tenha sido sucedido em 2002 por Hu Jintao como chefe do PCC, Jiang Zemin foi capaz de influenciar fortemente os eventos no regime chinês durante os 10 anos do mandato de Hu Jintao. Controlar o Departamento de Propaganda era uma forma de Jiang Zemin limitar o poder de Hu Jintao.
Antes mesmo de Xi Jinping assumir o poder em novembro de 2012, Jiang Zemin e sua facção têm tentado por todos os meios limitar o poder de Xi e se possível derrubá-lo. Liu Yunshan tem constantemente criado problemas para Xi, censurando e interpretando erroneamente seus discursos.
Por exemplo, a edição de Ano Novo de 2013 do jornal Semanário do Sul publicou originalmente um editorial com o título “Sonho da China, Sonho do Constitucionalismo”, que apelava à Constituição chinesa para garantir os direitos dos cidadãos. Sob as ordens de Tuo Zhen, o chefe de propaganda na província de Guangdong (onde o Semanário do Sul é publicado), o editorial foi substituído por um elogiando o PCC.
A ideia do editorial “Sonho do Constitucionalismo” era baseada num discurso de Xi Jinping de 4 de dezembro de 2012 que promovia a autoridade da Constituição e o estado de direito. “Um país governado pela lei deve ser governado primeiramente pela Constituição e um governo legítimo deve ser baseado na Constituição”, disse Xi.
Outro exemplo de intromissão de Liu ocorreu em 15 de outubro de 2014. Xi Yuanping, o irmão mais novo de Xi Jinping, publicou no Diário de Shenzhen um artigo memorial com histórias do pai e de outros membros da família, incluindo uma foto com Xi Yuanping, a mãe e a esposa.
O artigo foi amplamente reproduzido na mídia estatal porta-voz do PCC – a Xinhua, o Diário do Povo e o China News. No entanto, todos os artigos foram apagados da internet em poucas horas.
Em outro caso, um longo discurso de duas horas proferido por Xi Jinping em 15 de outubro, que abordou muitas questões relativas à criação literária e artística na China, foi amplamente considerado como um revide de Xi Jinping contra o sistema de propaganda comandado por Liu Yunshan.