Pobreza e alienação por trás de protestos na Suécia

30/05/2013 15:49 Atualizado: 30/05/2013 16:25
Um espectador verifica os escombros de carros queimados no subúrbio de Rinkeby em Estocolmo após jovens se revoltarem em vários bairros na periferia da capital sueca por quatro noites consecutivas em 23 de maio de 2013. No subúrbio de Husby, onde os tumultos começaram no domingo em resposta à polícia balear fatalmente um homem de 69 anos que portava um facão, 80% dos residentes são imigrantes e os distúrbios destacam o fracasso da Suécia em integrar faixas da população imigrante (Fredrik Sandberg/AFP/Getty Images)

GOTHENBURG, Suécia – Na noite de 19 de maio, carros foram incendiados em Husby, um subúrbio de Estocolmo. Janelas foram quebradas e a estação de metro foi vandalizada e, quando a polícia chegou, foi  recebida com violência. Incidentes semelhantes ocorreram em Husby e em outros subúrbios de várias grandes cidades suecas durante toda a semana e as teorias e explicações por trás da inquietação são muitas.

A organização ativista Megafonen de Husby, que pretende “organizar jovens suburbanos na luta pela justiça social”, segundo seu website, afirmou anteriormente que o fator desencadeante foi um incidente que ocorreu em 13 de maio. Naquele dia, um residente de Husby de 69 anos morreu baleado pela polícia após uma negociação fracassada. Ele empunhava um facão e estava assustando outros residentes. O incidente está sendo investigado.

Quando as revoltas eclodiram, elas foram em resposta ao “assassinato” do imigrante de 69 anos, disse Megafonen. A organização, que não apoia as revoltas de forma alguma, também as explica como “a única forma de expressar frustração quando todas as vias democráticas estão fechadas”.

Dois fatores comuns por trás dos subúrbios inquietos são a pobreza e o elevado número de imigrantes, dois fatores relacionados, pois é bem difícil para muitos imigrantes encontrarem emprego na Suécia, apesar das generosas políticas de imigração do país.

A Suécia, um país de 9 milhões, concedeu visto de residência ou trabalho para mais de 111 mil pessoas no ano passado, o que representa um aumento de 19% em relação a 2011. Destes, 44 mil eram requerentes de asilo, principalmente de países como Síria, Afeganistão e Somália, o que aumentou 48% desde 2011.

Dos imigrantes recém-chegados, 60% têm educação bem limitada e muitos são analfabetos, segundo estatísticas do Serviço Público Sueco para o Emprego. Isto torna muito difícil para eles satisfazerem as elevadas exigências do mercado de trabalho sueco já tenso. Segundo o Eurostat, o órgão de estatísticas da União Europeia (UE), apenas 2,5% dos postos de trabalho estão realmente disponíveis para esse grupo, em comparação com 17% na UE como um todo.

Muitos desses imigrantes desembocam com seus parentes em subúrbios como Husby, condenados ao desemprego permanente. Isso, por sua vez, afeta os filhos, que crescem em circunstâncias econômicas difíceis e com pouco contato com o resto da sociedade sueca. A crise econômica também afetou duramente esse grupo, com cortes em várias medidas de apoio.

Nima Gholam Ali Pour, um comentarista e ex-político, explicou, “Muitos desses jovens nunca saem de suas próprias áreas, desta forma, eles realmente não têm ideia de como é a Suécia ou mesmo o resto de Estocolmo.”

“Eles só conhecem a própria quadra”, disse ele. “Nunca lhes foi mostrado como funciona a democracia e a imagem limitadíssima da democracia a que foram expostos não é positiva.”

Ali Pour disse que numa democracia liberal todos têm a liberdade de fazer o que quiserem desde que respeitem a liberdade dos outros. Os jovens revoltados, no entanto, estão limitando a liberdade dos outros, disse ele. “Se alguém estaciona seu carro em algum lugar, eu não posso atear fogo nele. Se eu fizer isso, eu estou pisoteando em sua liberdade.”

O criminologista Jerzy Sarnecki disse ao jornal sueco Aftonbladet que há queixas frequentes e legítimas por trás desses distúrbios, como problemas de educação, desemprego ou o que julgam abuso da polícia.

Indivíduos violentos muitas vezes usam esse antagonismo para promover agendas próprias, disse Sarnecki. “Eles usam isso para fins próprios, o que geralmente tem relação com poder, satisfação de vingança ou exibir-se diante de amigos”, disse ele.

Oito dias após os tumultos começarem, as coisas estão voltando ao normal, pelo menos em Estocolmo, disse Kjell Lindgren, porta-voz da polícia de Estocolmo.

No auge dos distúrbios, a polícia de Estocolmo teve de chamar reforços de outras partes da Suécia. Os reforços já estão partindo, no entanto, a polícia manterá presença nas áreas inquietas. “Nosso raciocínio é que não seria positivo para os subúrbios se todos nos retirarmos agora. Estamos nisso em longo prazo”, disse ele. Muitos moradores têm perguntas e Lindgren disse que a polícia quer estar por perto para ajudar a explicar as coisas para eles.

A situação colocou muita pressão nos moradores das áreas afetadas, segundo Lindgren. Depois de um dia duro de trabalho, muitos deles ficam acordados à noite, imaginando se seu carro e local de trabalho ainda estarão intactos pela amanhã e se poderão enviar os filhos para a escola.

As investigações criminais também continuarão e Lindgren acrescentou, “Temos muitas investigações e grandes esperanças de levar à justiça as pessoas que causaram todo esse desassossego aqui em Estocolmo.”

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