PM de São Paulo usa táticas inovadoras durante protesto ‘Não Vai Ter Copa’

26/02/2014 07:00 Atualizado: 26/02/2014 11:51

No centro de São Paulo, houve quebra-quebra e agressões feitas por manifestantes e por policiais militares. Os participantes do ato foram cercados e detidos pela tropa que os acompanhava, integrantes do pelotão ninja (cerca de 100 policiais), grupo de policiais especializados em artes marciais.

A nova estratégia da PM era apoiada pelo emprego da Tropa de Choque e por um helicóptero e uma ampla estrutura de apoio logístico. O objetivo foi isolar os Black Blocs dos demais manifestantes. Pelo menos oito pessoas ficaram feridas – cinco PMs, dois manifestantes e um jornalista.

O tumultuo começou às 19h30. Os PMs cercaram um grupo de manifestantes na Rua Xavier de Toledo, no centro. No momento da detenção, nenhum deles estava cometendo vandalismo. A PM, porém, informou que só agiu após os primeiros atos de depredação.

A PM empregou a tática de identificar e isolar os líderes através da captura e detenção. Sempre movimentando-se muito,  indo desde o fundo até a linha da tropa com escudos, para realizar atos de agressão e violência aos policiais e dar instruções, para manter o nível de mobilização da turba e logo retrocedendo para o meio desta tornando quase impossível a detenção dos líderes, mesmo que identificados.  Os policiais empregaram grupos especiais que detiveram os manifestantes com golpes de artes marciais, como o chamado “mata leão”, e desferiram golpes de cassetete. Eles retiravam um a um os manifestantes do meio do grupo.

A ação dividiu os manifestantes em dois grupos. Uma parte deles, formada principalmente por Black Blocs, correu para o Viaduto do Chá, quebrando lixeiras, depredando duas agências bancárias e orelhões. Também atacaram PMs com paus e garrafas. O segundo grupo voltou à Praça da República, local de origem do protesto, e caminhou pacificamente para a Rua da Consolação.

Enquanto isso, os policiais reuniam os detidos na Rua Xavier de Toledo, entre as Rua 7 de Abril e o Viaduto do Chá. Um cordão de isolamento dos PMs impedia uma possível fuga dos detidos. A PM pela primeira vez usou um contingente que, em alguns momentos e locais, superava em 3 o número dos manifestantes. Essa demonstração de força, só pela presença, teve um poderoso efeito de  controle da turba. Para a imprensa ficou a boba definição como exposta pelo OESP : “o cerco da PM impedia que qualquer pessoa visse ou filmasse o que estava acontecendo com os detidos.”

Os detidos  foram obrigados a aguardar sentados a chegada de cinco ônibus que os conduziram a 7 delegacias, onde foi feita uma triagem para que a polícia decidisse quem seria autuado em flagrante – entre os detidos, havia cinco jornalistas que estavam trabalhando. Mais tarde, a PM deteve mais 50 pessoas no Vale do Anhangabaú, entre elas uma repórter do Estadão. Segundo a PM, os manifestantes detidos tinham máscaras, sprays, estilingues, bolas de gude e correntes.

As novas táticas de ação da PM de São Paulo, que conseguiu uma larga detenção de manifestante,s deixou apavorados os grupos de apoio aos manifestantes , como reportado pelo OESP:

“Segundo o coletivo Advogados Ativistas, a polícia fez um boletim de ocorrência coletivo no qual acusa os manifestantes de desacato, resistência, desobediência e lesão corporal. O crime de lesão estaria relacionado a dois PMs com braços quebrados durante o protesto. Segundo o advogado André Zanardo, os manifestantes foram fotografados e fichados como uma forma de intimidação para esvaziar as ruas. “Vão chamar essas pessoas para serem ouvidas nas próximas manifestações, cerceando o direito das pessoas de se manifestar”.

Os detidos foram encaminhados a vários Distritos Policiais: 1º (Liberdade), 2º (Bom Retiro), 3º (Campos Elíseos), 4° (Consolação), 5° (Aclimação), 8° (Brás) e 78° (Jardins). Outra tática inovadora foi a boa integração da PM com a Polícia Civil e o uso de vários Distritos que diminuiu a ação dos Grupos de Pressão e Agitação em apoio aos detidos.

Imprensa

Mesmo com o discurso recente originado pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, da Rede Bandeirantes, no Rio de Janeiro, a primeira postura da imprensa e reforçada em matérias posteriores foi de uma posição agressiva frente à ação policial. Especialmente pela detenção de seis membros da imprensa, mesmo identificando-se como profissionais. Como nova postura da PM, esta vem solicitando que os profissionais de imprensa assumam uma posição durante os tumultos junto à tropa.

A posição da imprensa é dúbia, que não quer se identificar para evitar represálias dos manifestantes e ao mesmo tempo querem proteção policial e mobilidade nos tumultos. Muitas das depredações ocorrem somente devido à presença da imprensa, que amplifica e dá foros de legitimidade aos atos destrutivos.

Análise

A brilhante atuação das Forças de Segurança de São Paulo no sábado (22) foi uma etapa de sucesso nesta corrida interminável da ciência de Controle de Tumultos. Deve-se observar que a Polícia Militar de São Paulo não aplicou a tática ancestral de dispersar os manifestantes, o que só geraria inúmeros pequenos focos de grupos atacando o patrimônio público e privado, e sim rodeá-los e detê-los antes de qualquer ação destrutiva.

DefesaNet cumprimenta o governo do Estado de São Paulo que liberou os seus homens das Forças de Segurança para adotarem novas estratégias e táticas na Garantia da Segurança da população.

Nota – Em coletiva de imprensa, o Comando da PM de São Paulo, na tarde de domingo, informou os seguintes números:

Policiais envolvidos – 2.300 PMs, cerca de 200 com treinamento de artes marciais
Manifestantes – cerca de 1.500
Relação de PMs por Manifestante – 1,5
Manifestantes detidos – 262
Depredações – Número menor que nos distúrbios anteriores
Feridos – 2 Manifestantes e 5 Policias (2 com braço quebrado)

Ponto Relevante – O Comando da PM informou que foram lançados menos bombas de gás e de efeito moral. Também o disparo de poucas balas de borracha, fato confirmado pelo UOL e Estadão.

Ao pedir um minuto de silêncio para o cinegrafista Santiago Andrade, o Comando da PM anunciou que 2.780 PMs morreram em serviço desde 1991.

Esse conteúdo foi originalmente publicado no portal DefesaNet