Plenário da Câmara Municipal do Rio desocupado a força pela PM

30/09/2013 21:38 Atualizado: 13/11/2014 22:06
Professores em greve são removidos com cessetetes, taser e spray de pimenta sem ordem judicial. Perseguição continua do lado de fora com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Dois detidos e pelo menos 22 feridos
Tensão entre policiais e professores
Momento de tensão entre policiais e professores antes da desocupação violenta da Câmara Municipal do Rio pela Tropa de Choque da PM (Cortesia de Rio na Rua)

RIO DE JANEIRO – Os professores da rede municipal do Rio de Janeiro que ocupavam o plenário da Câmara de Vereadores, na Praça da Cinelândia, no Centro, foram removidos à força às 23h deste sábado (28) pela Tropa de Choque da Polícia Militar, que entrou por duas portas, uma das quais foi arrombada. Os soldados agrediram com cassetetes e usaram spray de pimenta e choques de taser contra os profissionais de educação. Um dos docentes tinha problemas cardíacos e desmaiou. A ação foi pedida pelo presidente da casa, Jorge Felippe, por entender que o ato interfere no funcionamento do Legislativo.

A perseguição continuou do lado de fora da Câmara, com mais pimenta e muita bomba de gás lacrimogêneo e tiros de borracha, e adentrou a madrugada de domingo. Tudo terminou com cerca de 150 pessoas na 5ª DP (Centro), para onde foram levados dois professores detidos, por suposta resistência, e pelo menos 22 feridos foram atendidos no Hospital Souza Aguiar (também no Centro).

Professores feridos no Souza Aguiar
Professores na madrugada de domingo, feridos por estilhaços de bomba, após atendimento no Hospital Souza Aguiar (Cortesia de Rio na Rua)

“O comando da PM tentou durante todo o período de ocupação uma forma de entendimento, mas não houve acordo, a PM cumpriu a determinação da Justiça”, afirmou a Polícia Militar em comunicado, se referindo a um mandado de reintegração de posse expedido no dia 21 de agosto pelo desembargador Fernando Fernandy Fernandes, da 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio, na ocasião da ocupação que ocorria contra a manobra governamental na CPI dos Ônibus. Para os docentes, por se tratar de outra pauta e manifestantes diferentes, o mandado não teria mais validade.

Logo antes da desocupação, após informar a todos que não possuía o documento do mandado, o comandante da operação, tenente-coronel Mauro Andrade, foi interrompido por palavras de ordem dos professores como “Desocupação tem que ser oficial”. Os grevistas também bradaram “Eu sou educador, Eduardo é ditador” e “Soldado, seu filho é nosso aluno e está do nosso lado”.

Quanto à repressão do lado de fora, a PM justificou alegando suposta tentativa dos professores de “dificultar o trabalho da polícia”, mas negou o uso de balas de borracha. Não foram registrados atos de violência ou depredação por parte de manifestantes, que também não usavam máscaras.

Benjamin Andrade, professor desde 1977, mostra marcas de tiros de bala de borracha durante ação de 'reintegração de posse'. Ele vestia duas camisas (Cortesia de Márcia Dias)
Benjamin Andrade, professor desde 1977, mostra marcas de tiros de bala de borracha durante ação de ‘reintegração de posse’. Ele vestia duas camisas (Cortesia de Márcia Dias)

Advogados, ao chegarem ao Hospital Souza Aguiar para dar assistência aos feridos – por estilhaços de bomba, golpes de cacetete, arma taser e tiros de bala de borracha – perceberam que os registros no boletim de atendimento médico estavam sendo feitos como ‘acidente de trabalho’. Após insistência, os registros foram corrigidos para ‘ocorrência policial’. Eles seguiram para o Instituto Médico Legal (IML) para exame de corpo delito e registraram queixa de agressão na 5ª DP. Somente a partir das 3h30 da madrugada de domingo os professores detidos começaram a ser liberados.

Os docentes permaneciam ocupando o interior da Câmara Municipal desde a última quinta-feira (26), quando pularam da galeria e ocuparam o plenário, interrompendo a sessão que votava o plano de carreira elaborado pela prefeitura sem participação da categoria. A sessão terminou suspensa e foi adiada para a próxima terça-feira. Na sexta-feira, os professores decidiram manter a ocupação após uma assembleia. Eles exigem a retirada do plano proposto pela prefeitura, o qual consideram arbitrário e ainda pior que o já existente.

Cerca de oito mil pessoas já confirmaram presença num protesto de apoio aos professores que está sendo convocado pelas redes sociais para hoje à tarde. A parte externa da Câmara Municipal, com pautas diversas, dentre as quais a correção de rumos da CPI dos Ônibus e agora o plano de carreira dos professores municipais, segue ocupada por manifestantes. A fachada da Alerj também continua ocupada, por professores estaduais, após decisão do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe) de manter a greve, retomada em seguida pela categoria municipal.