Nem sempre é fácil colocar uma boa ideia em prática, especialmente em curto prazo. Pensando no universo da educação pública brasileira, implementar um bom projeto, por mais simples que pareça, exige certa dose de paciência. Os educadores precisam saber lidar com os ritmos da burocracia oficial e também com a contenção de recursos para investimento. Foi, justamente, para que as boas ideias não se rendessem diante dessas barreiras, que um grupo de jovens do Rio de Janeiro decidiu criar O Formigueiro, uma plataforma de crowdfunding focada na ação social. Nela, professores e educadores de ONGs podem contar com ajuda de doadores virtuais dispostos a financiarem seus projetos.
A plataforma, lançada neste mês, busca concretizar ideias de professores, coordenadores e diretores, especialmente de escolas públicas, organizações sociais e institutos, que em algum momento, pensaram em criar algum projeto com fins pedagógicos mas não sabiam formatar a proposta, muito menos tinham recursos para financiá-la. Como exemplos de projetos, valem de concursos de redações ou olimpíadas de conhecimento da escola até oficinas de robótica ou fotografia. A melhoria do acervo de biblioteca, ou ainda, a reforma de um espaço de recreação também são exemplos de projetos que podem ter impacto na melhoria do aprendizado dos alunos e agora, com O Formigueiro, podem virar realidade.
Isso é o que pretendem os nove amigos fluminenses. “Defendemos a economia solidária e colaborativa. Além disso, somos apaixonados por educação e empreendedorismo e estamos dispostos a lutar por uma educação nacional de melhor qualidade. Somos uns sonhadores”, afirma um dos idealizadores Gabriel Richter, de 18 anos, aluno de curso de Economia da FGV-Rio. Segundo ele, a ideia do portal surgiu no último ano do colégio. “Meu pai, voltando de viagem, me trouxe um cartão de presente que dava direito a doar US$150 a projetos de um site americano de sucesso chamado DonorsChoose. Como o crowdfunding era e ainda é algo muito novo no Brasil, tinha certeza de que a plataforma poderia funcionar muito bem por aqui, já que os brasileiros são cheios de vontade de ajudar os que mais precisam, mas não o fazem por dificuldades de acesso ou por falta de informação”, explica Richter.
Por meio da plataforma, educadores, gestores e representantes de ONGs podem cadastrar sua proposta no ambiente virtual e, assim, obter financiamento de internautas dispostos a colaborarem com o projeto. O grande diferencial do portal, em relação a outras plataformas nacionais de crowdfunding e crowndlearning como o Catarse, Benfeitoria e o Cinese, é que no Formigueiro só entram projetos de educação. Além disso, a proposta precisa ser de baixo custo (entre R$ 300 e R$ 1,5 mil), tudo isso para que seja mais rápida a implementação. “Assim, oferecemos uma maior rotatividades de projetos e gera um efeito psicológico interessante. Quando você ajuda com R$ 100 um projeto que pede R$ 500, o doador se sente mais útil que quando doa a mesma quantia num projeto de R$ 50 mil”, fala Ritcher. Foi a partir dessa lógica de apostar nas pequenas ações como propulsoras de grandes impactos que a plataforma foi batizada com o sugestivo nome de O Formigueiro.
Mas mesmo apostando numa lógica que se aproxima à dos negócios sociais, o grupo não busca lucro com a empreitada. Até o momento, eles também não receberam nenhum incentivo de investidores. O custo da criação da plataforma, que saiu por R$ 5 mil, foi dividido entre os integrantes. Nenhum porcentual das doações recebidas – que podem ser feitas a partir de R$ 10 –, será repassada ao O Formigueiro. No futuro, eles pretendem criar outros serviços pagos na plataforma, sendo que o lucro será todo reinvestindo no projeto.
Projetos e doações
E não basta ser um projeto de baixo custo, é preciso formatá-lo à contento. Tudo isso para que o impacto da iniciativa seja o mais eficiente possível. Por isso que o grupo formigueiro desenvolveu uma dinâmica que facilita a vida de quem pensa em incluir um projeto na plataforma. Assim, antes de enviar uma proposta finalizada e formatada – algo difícil para muitas pessoas – , o interessado em ver financiado o seu projeto pode enviar um e-mail para a equipe da plataforma. A partir desse contato inicial, os formigueiros retornam requisitando mais informações e enviando o passo-a-passo de como elaborar projetos nos moldes sugeridos pela plataforma. Feito a conexão, o próximo passo é a orientação repassada pelo grupo sobre gravações de vídeos que estimularão outras pessoas a conhecerem a proposta.
Com os dados já incluídos no site e vídeo disponível sobre a ação, os internautas interessados e sensibilizados com a proposta não terão nenhuma dificuldade para efetuar a doação. “Quando a pessoa escolhe o projeto que mais a encantou, ela pode efetuar a transação financeira com total segurança pelo site. É possível contribuir por meio de boleto bancário, cartão de crédito ou até via débito automático na conta corrente. Aceitaremos também doações internacionais”, explica Ritcher. Atualmente, existem três projetos cadastrados para receber doações. Saiba mais sobre eles nos links e vídeos abaixo:
Mesmo ainda engatinhando, não faltam planos de ampliação no número de projetos e de ações no Formigueiro. “Atualmente já estamos finalizando o cadastramento de vários outros projetos e em breve, disponibilizaremos uma ferramenta na plataforma para que seja possível receber doações de bens novos e usados pelos internautas. Uma outra ferramenta on-line que pretendemos desenvolver busca por em contato pessoas de diversos talentos que estão dispostas a doar seu tempo em atividade solicitadas pelas instituições cadastradas. Dessa maneira, esperamos causar impactos cada vez mais positivos e de longo prazo na vida dos estudantes, em sua maioria, crianças”, fala Ritcher.
Esse conteúdo foi originalmente publicado pelo site Porvir