Na Espanha existem muitas pessoas que conhecem plantas, mas não muitas que conhecem a arte de misturá-las. Os herbalistas antigos, aqueles que por formação conheciam as ervas medicinais, suas propriedades e por ofício sabiam como combiná-las, restam poucos atrás do balcão.
Em Arenys de Mar, uma pequena vila de pescadores perto de Barcelona, vive uma dessas pessoas que conhecem a essência das plantas e o Epoch Times foi entrevistá-la.
Elena Navarro Solé nos espera na porta. Seus olhos são brilhantes e transmitem certa paz, talvez porque eles sejam guardiões da sabedoria de outrora.
A primeira pergunta que fazemos é quase obrigatória: as plantas curam?
No que diz respeito a anormalidades metabólicas simples, realmente elas têm sido usadas desde a antiguidade: as plantas curam, eu creio firmemente que curam.
Como você começou nesta área?
Eu vim de uma família que sempre tive interesse por assuntos sobre a saúde porque meu pai era médico; além disso, eu cresci na pequena cidade de Lérida, onde as pessoas tradicionalmente tomavam infusões para tratar-se. As terras do sul de Lérida são secas e lá crescem muitas oliveiras, que talvez foi a primeira planta de que ouvi falar.
Fale-nos da importância das misturas
No mundo das ervas medicinais, sempre foram feitas misturas. A decocção ou infusão de uma única planta pode ir muito bem, mas quando há uma doença é bom não só tratar esse órgão que está com baixa energia, mas também os órgãos adjacentes. De outro ponto de vista, as plantas têm sinergia, uma propriedade que faz com que, quando convergem, se ajudem umas às outras. Na mistura, são escolhidas aquelas que, por suas características similares, lutarão para conseguir um objetivo comum: a cura. Além disso, fazer a mistura é em si um prazer. Um pouco aqui, um pouco ali, é a poção típica conhecida desde tempos imemoriais.
Ainda existem profissionais que sabem fazer as misturas?
Infelizmente restam poucos. Parece um pouco estranho, mas a primeira coisa que pergunto ao paciente é seu signo no horóscopo. A astrologia é uma fonte inesgotável de conhecimento e eu a aplico sempre. Eu a utilizo como uma escola de personalidades, nada a ver com adivinhação. Saber sob que céu nasceu uma pessoa me dá informação imediata que de outra forma levaria mais tempo para obter.
Existem teorias que dizem que as doenças têm origem na mente. Isso quer dizer que se nós tratamos a mente, a doença desaparece?
É verdade que das emoções vêm os conflitos e que estes causam as doenças; no entanto, eu trato apenas a soma, o corpo. O campo das plantas é química orgânica e é aí que minhas misturas são bem sucedidas.
Existe um público fiel às ervas medicinais?
Enfaticamente sim. São pessoas que confiam nas plantas, e que despendem algum tempo para infusioná-las ou decoccioná-las. Talvez não sejam muitas, mas elas existem.
Proíbem-se plantas por razões que não são estritamente de saúde?
Claro. Há razões comerciais por trás disso, é a tirania dos interesses econômicos.
Como é a relação entre seu grupo e as indústrias farmacêuticas?
A relação é ruim. Elas sempre nos têm visto negativamente e nos têm criticado de maneira ainda pior. Elas foram responsáveis durante longo tempo por difamar nossas ervas para, depois, vendê-las em seus próprios estabelecimentos.
Existe alguma planta que não chama muito a atenção e, no entanto, é muito importante para o herbalista?
Sim, Maria Luisa eu diria que é a grande desconhecida. É digestiva, anti-flatulência, é um relaxante suave e tem um cheiro muito bom; ela é conhecida como a rainha das plantas e é a primeira que se dá às crianças. Na verdade, quando as mães vêm com seus bebês e lhes faço misturas contra gases, eu nunca coloco Manzanilla, e sim Maria Luisa. Ela não serve para tratar uma doença, mas proporciona uma recepção calorosa quando você chega a este mundo. Além de ser uma planta muito bonita.
Em suma, após este diálogo, nós entendemos que nos deixarmos curar pelas plantas significa voltar à natureza e buscar um bálsamo, de que hoje tanto precisamos, diretamente na Mãe Terra.