Centenas de chineses que praticam a disciplina espiritual Falun Gong foram detidos pela polícia chinesa no mês de abril, sob acusações duvidosas. A ação representa o maior pico de detenções nos últimos anos.
Um membro da equipe da edição chinesa deste jornal, Teresa You, de 24 anos, está entre as pessoas que foram pessoalmente afetadas. Seus pais desapareceram há mais de duas semanas, e nenhuma palavra foi obtida das autoridades.
“Teresa, você precisa de ser forte não importa o que aconteça”, disse-lhe uma amiga em Nova York com a voz tremendo, quando soube da notícia.
Uma pausa. “A sua mãe provavelmente está na prisão”.
“Fiquei chocada”, disse You, que vive em Washington, DC. You fez um discurso durante um recente protesto que ocorreu em frente à embaixada chinesa. “Há apenas alguns dias eu falei com os meus pais ao telefone, e eles me pediram para dar atenção à segurança”.
You soube mais tarde, através de suas tias que moram na China, que na manhã do dia 21 de abril a polícia forçou a entrada no apartamento da família em Haidian, Distrito de Pequim, e deteve seu pai e sua mãe, You Zhaohe e Wang Lurui e apreendeu seus computadores pessoais. A polícia disse aos seus parentes que eles estão detidos em “fase prejulgamento”, e por isso não são permitidas visitas.
16 anos de repressão
Os pais de You foram presos por praticar Falun Gong, uma disciplina espiritual chinesa, em que os praticantes realizam exercícios de movimentos suaves e vivem seguindo os princípios de verdade, compaixão e tolerância. A prática proporciona benefícios à saúde e uma significativa elevação moral. Com isso, rapidamente se espalhou pela China, e em 1999, o número estimado de praticantes do Falun Gong na China continental era entre 70 e 100 milhões de pessoas.
Obcecado com a imensa popularidade da prática e o crescente número de praticantes, o antigo líder chinês Jiang Zemin ordenou que o Partido Comunista reprimisse a prática em julho de 1999. Os praticantes de Falun Gong foram obrigados a deixar os seus empregos e escolas, e passaram a ser rotineiramente detidos e enviados para campos de trabalhos forçados, onde eram torturados durante o processo de lavagem cerebral. O partido também lançou uma massiva campanha contra o Falun Gong nacional e internacionalmente.
Leia também:
• Parlamento Canadense condena extração forçada de órgãos de praticantes do Falun Gong
• Ativista de direitos da mulher é ameaçada de estupro por polícia chinesa
• Chinesa é brutalmente torturada em campo de trabalhos forçados
Cerca de 3 mil mortes provocadas pela perseguição foram verificadas pelo Minghui.org, um website de informação sobre Falun Gong. Entretanto, o verdadeiro número de mortes é estimado em dezenas de milhares. Investigadores internacionais também reportaram que, em 2006, o regime chinês estava removendo à força os órgãos de praticantes detidos para venda.
De acordo com o Minghui, 589 praticantes de Falun Gong foram detidos em abril, o mês em que ocorreram mais detenções desde que o líder Xi Jinping tomou o poder em novembro de 2012. Houve 3.506 detenções em 2014, e 1.450 no primeiro quadrimestre de 2015.
Experiência traumática aos nove anos
You sofreu a situação traumática de testemunhar a detenção de seus pais múltiplas vezes devido ao ativismo relacionado com a prática de Falun Gong.
Quando tinha apenas 9 anos, a polícia invadiu a casa de You e algemou seus pais na sua frente. Os pais de You foram levados no preciso momento em que seu pai tentava se aproximar dela para assegurar-lhe que tudo estava bem.
O Sr. e a Sra. You foram enviados para um campo de “reeducação”, provavelmente um centro de lavagem cerebral, durante um mês, mas recusaram-se a deixar de praticar Falun Gong, que havia lhes proporcionado grandes benefícios.
A Sra. You sofria de várias doenças crônicas, mas gradualmente todas desapareceram depois que ela começou a praticar Falun Gong em 1996. Ao ver que a sua mulher havia se tornado saudável e que até ganhou peso, o Sr. You, professor de filosofia da Universidade Chinesa de Ciência Política, decidiu ele próprio começar a praticar Falun Gong.
Apesar de saberem o perigo que representa ser um praticante de Falun Gong durante a perseguição, os pais de You perseveraram na sua fé, participaram dos protestos e tentaram dizer às pessoas a verdade sobre Falun Gong, porque sabiam que não havia nada de errado com a prática. Devido a isso, eles foram detidos várias vezes pela polícia.
Eventualmente, os pais de You deixaram sua casa em 2001 para evitar serem presos. Entretanto, o esforço foi em vão. Um ano depois, a avó de You recebeu um telefonema da polícia informando que o Sr. e a Sra. You tinham sido presos novamente. Desta vez, eles foram enviados para um campo de trabalhos forçados por um ano, onde foram repetidamente abusados e torturados. A Sra. You foi impedida de tomar banho durante um mês como “castigo”.
Para ter a certeza que Teresa You estivesse segura, seus pais enviaram-na para estudar nos Estados Unidos em 2008, onde frequentou a Universidade Estatal de Ohio.
Protestos
You permaneceu em segurança nos Estados Unidos e pôde desfrutar da liberdade que seus pais não podiam esperar na China comunista: praticar os exercícios do Falun Gong livremente em parques e participar de protestos, eventos e paradas que visam explicar e expor a perseguição do partido à prática e aos praticantes de Falun Gong,
Entretanto, a persistência dos seus pais em manterem-se firmes às suas crenças tem sido acompanhada pelo desejo das autoridades em os reprimir. No dia 21 de abril deste ano eles foram novamente detidos. Desta vez, pareceu sério. “Ouvi que meu pai foi transportado para um hospital gerido pela agência de segurança porque teve um ataque cardíaco”, disse Teresa You
Depois de confirmar pessoalmente a detenção dos pais telefonando para a estação de polícia dos agentes que os raptaram, You e outros praticantes de Falun Dafa em Washington, D.C., decidiram realizar um protesto em frente à embaixada chinesa. No dia 30 de abril, Teresa You e cerca de doze pessoas manifestaram-se e seguraram dois grandes cartazes com a fotografia do Sr. e da Sra You. Por escrito, eles pediam que outros 31 praticantes detidos também fossem libertados.
You também realizou uma petição junto a representantes locais para pedir ao regime chinês que libertassem imediatamente os seus pais.
Quando lhe foi pedido que comentasse sobre o assunto, o congressista de New Jersey, Chris Smith, disse aos jornalistas da New Tang Dynasty Television de Nova York, “A obsessão que a liderança comunista tem em maltratar, inclusive torturar e matar praticantes de Falun Gong, apenas ressalta a necessidade de uma resposta por parte de Washington e das Nações Unidas, para persuadir o governo chinês a cessar essa perseguição contra pessoas boas e cumpridoras da lei”.
“Ser um praticante de Falun Gong não deveria estar sujeito a um tratamento tão cruel. Por isso, nós continuaremos a fazer ouvir nossas vozes em defesa dos praticantes de Falun Gong que têm sido tão maltratados”, acrescentou Smith.
A banalidade do mal
Teresa You tentou contactar a estação de polícia de Pequim que prendeu os seus pais para persuadir em favor da liberdade deles. No entanto, ela foi interrompida pela pessoa no outro lado da linha que disse, “Estamos só seguindo as ordens dos nossos superiores”.
“Os agentes policiais do tempo da Revolução Cultural que foram julgados em Yunnan e os oficiais Nazis que ainda hoje estão sendo julgados também acreditaram que estavam meramente ‘cumprindo ordens'”, afirmou Teresa à edição chinesa do Epoch Times.
Analisando os oficiais chineses de alto escalão que tiveram um papel proeminente na perseguição, entre eles, Zhou Yongkang, Bo Xilai, Li Dongshen, pode-se observar que todos foram purgados em anos recentes. You é da opinião que agentes de polícia que prendem praticantes de Falun Gong deveriam “refletir sobre as suas ações”.
“Eu desejo que possam pensar no futuro e não fiquem cegos com os benefícios de curto prazo, caso contrário farão escolhas das quais, no futuro, se arrependerão profundamente”, disse Teresa You.