O financiamento de US$ 3,5 bilhões obtido pela Petrobras no início do mês com o Banco de Desenvolvimento da China deve ser pago com petróleo, em padrões semelhantes ao acordo feito em 2009, quando o banco de fomento chinês financiou US$ 10 bilhões à estatal brasileira, num contrato de dez anos. A negociação previa a exportação de petróleo a uma subsidiária da petroleira chinesa Sinopec em volume de 150 mil barris por dia no primeiro ano e 200 mil barris pelos nove anos seguintes.
Alegando sigilo comercial, a Petrobras não informou os termos do acordo bilateral firmado com a China este ano. Mas, as condições do contrato, assinado em 1.º de abril, foram consideradas “excelentes” pela atual diretoria da estatal. No fato relevante divulgado na ocasião, a companhia frisou que o contrato dá continuidade à parceria entre o banco chinês e a Petrobras e é o primeiro de uma cooperação prevista para este ano e para 2016. Com isso, o Brasil reforça seu comprometimento com o fornecimento de petróleo à China, que já estava firmado até 2019. E os chineses aumentam o investimento direto no Brasil.
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Na mesma linha, a atuação da Petrobras como provedora de suprimento de energia do pré-sal – uma das mais importantes fronteiras de produção de petróleo recém-descobertas no mundo – deverá ser o trunfo usado pela direção da estatal para atrair investidores com perfil semelhante ao dos chineses. Com a divulgação do balanço previsto para a próxima semana, a convicção na Petrobras é de que, ao contrário do que argumenta boa parte dos analistas de mercado, o momento é propício para levar a cabo o seu plano de venda de ativos, com o objetivo de fazer caixa e diminuir a dívida.
A compra da gigante BG Group pela petrolífera anglo-holandesa Shell reforçou na Petrobras o sinal de que a venda dos próprios ativos reunirá potenciais interessados, mesmo que haja uma barganha nos preços por causa do momento atual, em que a companhia precisa levantar recursos. O lançamento de perdas nos balanços dos terceiro e quarto trimestres da Petrobrás deve zerar o lucro da companhia em 2014 e impedir que a estatal pague dividendos sobre o resultado do ano passado aos acionistas.
No balanço, que deve ser publicado na próxima quarta-feira, serão registradas perdas referentes à reavaliação de seus ativos (imparidade) e também prejuízos decorrentes de corrupção, calculados no cruzamento de dados judiciais da Operação Lava Jato com os arquivos de transações comerciais da companhia. A notícia de que a estatal não deve mesmo pagar dividendos interrompeu uma série de seis altas seguidas das ações.
Ontem, os papéis preferenciais da estatal, os mais negociados e sem direito a voto, caíram 3%; os ordinários, com direito a voto, recuaram 1,86%. De acordo com fontes que acompanharam os trabalhos de adequação dos balanços, sem o registro das perdas, a estatal registraria em 2014 lucro ligeiramente menor que os R$ 23,6 bilhões registrados em 2013. Como vai zerar o resultado, a contabilização das perdas deve ficar em torno de R$ 20 bilhões.
Uma grande preocupação na empresa é deixar claro, no balanço, o que foi registrado como perda natural no valor dos ativos – decorrente de mudanças no setor, especialmente a queda drástica no preço do barril de petróleo nos últimos anos – e o que representa perda com atividades sob suspeita de corrupção.